* Lucas Garcia von Zuben é CEO da Decoy Smart Control
A União Europeia (UE), por meio da sua Comissão Europeia, aprovou neste ano quatro atos legislativos que visam acelerar a aprovação e a liberação de produtos biológicos de controle de pragas, conhecidos como biopesticidas. É uma decisão extremamente importante no que se refere à implementação de práticas corporativas ESG e está dentro de um contexto amplo, que é o do Pacto Ecológico Europeu, também chamado de Green New Deal.
Nesse plano, o bloco pretende alcançar saldo zero de emissões de gases de efeito estufa até o ano de 2050, além de adotar a estratégia Farm to Fork, que visa encontrar formas mais sustentáveis de produzir, distribuir e consumir os alimentos, bem como reduzir em 50% o uso de pesticidas químicos até 2030.
Essa forte movimentação da UE para trazer mais sustentabilidade à produção alimentícia é uma grande sinalização de que o grupo de países está comprometido com uma ação de mudança e que afeta diretamente os produtores de todo o mundo, uma vez que eles terão que adotar técnicas com esse viés para continuar exportando seus produtos para o mercado europeu. Dessa forma, o próprio setor de tecnologia deve se aquecer com a decisão, tendendo a ampliar o leque de alternativas no controle de pragas nos próximos anos.
Neste contexto, o Brasil não passa de forma incólume aos efeitos da nova legislação. Ou seja, a consequência direta será o aumento do rigor das barreiras sanitárias impostas aos produtos agrícolas nos próximos anos. Isso se reflete na atividade produtiva nacional, que irá precisar acelerar a adequação dos meios tradicionais de produção para práticas mais tecnológicas e sustentáveis, com a redução do uso de pesticidas químicos e a incorporação – cada vez maior – de estratégias de controle biológico e manejo integrado de pragas.
Os atos aprovados pela UE também devem oferecer bases e modelos para que os legisladores brasileiros criem novas leis para esses insumos, agilizando o processo de regulamentação dos biopesticidas no país. Felizmente, essa é uma causa que só tende a trazer benefícios para o agronegócio nacional, que já tem cada vez mais adotado práticas sustentáveis. Nos últimos anos, o país tem se destacado na constituição de novas tecnologias para o segmento e na adequação de ferramentas de controle biológico para realidades tropicais e culturas locais específicas.
Outro grande exemplo do avanço no setor é o Programa Nacional de Bioinsumos, iniciativa do Ministério da Agricultura, que visa fomentar o desenvolvimento dos bioinsumos no país. A tendência do projeto é gerar um impacto gigantesco em todo o agronegócio, facilitando a produção e adoção desses recursos pelos produtores. A ampliação da utilização dessa tecnologia também permitirá que as atividades no campo estejam alinhadas com as demandas internacionais sobre uma produção de alimentos mais sustentável.
Vale ressaltar que o controle biológico está apenas começando a mostrar o seu potencial. Logo, é uma tecnologia que ainda enfrenta o desafio de ser reconhecida e entendida pelo mercado como um todo, especialmente no Brasil. Muitos produtores desconhecem o conceito e sua forma de ação, dificultando a sua adoção em alguns casos. Questões regulatórias também implicam em alguns obstáculos, uma vez que essa prática demanda de legislações específicas para ser aplicada.
Por isso, o movimento da UE e o Programa Nacional de Bioinsumos são fundamentais nesse processo. Medidas como essas estimulam a agenda ESG no mundo, que está promovendo a aderência de comportamentos corporativos mais saudáveis do ponto de vista ambiental, social e de governança.
Por ser uma ação crescente em todos os setores, o ESG já deixou de ser uma sigla para ser usada apenas em discursos nos congressos e reuniões de líderes ao redor do mundo. Trata-se de uma realidade concreta e que oferece um caminho preciso para que o agro possa enxergar o meio ambiente jamais como um empecilho, mas como um verdadeiro ativo.