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AWS aposta em startups de IA generativa em nova fase de expansão

Para Matt Garman, apoio a startups é um investimento no futuro da AWS em termos de criação de novos serviços e também de crescimento

Matt Garman, CEO da AWS, com as startups do programa General Artifficial Intelligence Accelerator
Matt Garman, CEO da AWS, com as startups do programa General Artifficial Intelligence Accelerator

Como você faz para levar um negócio de US$ 100 bilhões para o próximo patamar? Para Matt Garman, o recém-empossado CEO da AWS, a reposta passa pelas startups. Especialmente as de inteligência artificial generativa.

“Investir em empresas como as que estão aqui hoje é um investimento no futuro da AWS, tanto para fazer nossos produtos e serviços serem melhores, quanto para crescer a empresa como um todo”, disse ele em conversa com jornalistas, após participar de uma sessão de perguntas e respostas com os fundadores das startups do Generative AI Accelerator em um dos prédios que a Amazon ocupa no centro de Seattle*.

O programa selecionou 80 companhias de todo o mundo que, ao longo de 10 semanas, receberão mentorias de negócios e tecnologia, além de até US$ 1 milhão em créditos da AWS e também benefícios de outros parceiros, como Nvidia, Meta e Mistral.

O Startups foi a única publicação da América Latina acompanhando a primeira etapa do programa, e foi o primeiro veículo da região a entrevistar Matt.

O executivo chegou à AWS como estagiário em 2005 – quando ela ainda era apenas uma ideia -, e assumiu o comando total da operação que representa dois terços do lucro da Amazon em junho. Segundo ele, as startups sempre fizeram parte da história da companhia por sua disposição para testar novidades e dar feedback sobre coisas que precisam ser melhoradas. Ele destacou também que muitas empresas iniciantes acabaram se tornando grandes clientes, como a Netflix e o Pinterest e que 96% dos unicórnios que trabalham com inteligência artificial e machine learning já são clientes AWS.

Sobre as escolhidas para participar do programa de aceleração, ele se mostrou tranquilo ao dizer que muitas não serão bem-sucedidas e que a AWS nunca vai recuperar o investimento feito nelas. Mas que algumas entrarão para a lista dos que gastam milhões com seus serviços. “É uma lógica de venture capital”, pontuou.

Para financiar esse plano, a AWS anunciou em meados de julho um compromisso de investir US$ 230 milhões em startups que queiram desenvolver novos produtos e serviços com ela. Os recursos estarão disponíveis no formato de treinamentos e nos cobiçados créditos para usar suas tecnologias.

Duas delas, inclusive, são grandes apostas da AWS: o SageMaker, para criação e treinamento de modelos próprios, e o Bedrock, para o desenvolvimento de aplicações que usam modelos de terceiros.

Chips próprios

Na avaliação de Matt, muito do sucesso da AWS pode ser creditado à decisão de criar chips próprios para equipar seus centros de dados. “EC2 e a AWS seriam muito diferentes se não tivéssemos essa capacidade porque isso no permitiu testar mais coisas, crescer mais rápido, colocar novos produtos no mercado mais rápido. E isso foi transformador para o negócio. É difícil imaginar exatamente o que a nuvem seria sem essa tecnologia”, comentou.

A companhia tem três famílias de componentes: Graviton, que substitui processadores x86; e o Trainium e o Inferentia, que executam tarefas de inteligência artificial normalmente delegadas a GPUs.

No Graviton, Matt pontuou que a redução de custos fica na casa dos 20%, com 20% a 40% de menor consumo de energia. No Inferentia, os clientes economizam de 10% a 20%, garantiu o CEO. O membro mais novo da família, o Trainium, ainda está em fase de maturação e deve começar a mostrar resultados a partir da segunda geração, que chega ao mercado no fim do ano. “Eu realmente acredito que vamos entregar significativa melhoria de performance para os nossos clientes com o ganho de escala em 2025 e adiante”, completou.

Refraseando o bordão do fundador da Amazon, Jeff Bezos, Matt disse que o jogo ainda está no começo para a AWS uma vez que menos de 20% das cargas de trabalho das empresas estão na nuvem, o que, abriria uma oportunidade de mercado de cinco vezes para a companhia.

Com o impulso da IA generativa, que exige muito mais processamento, armazenamento e análise de dados, o potencial de multiplicação da receita da companhia fica ainda maior. “Quando as pessoas perguntam quão grande, quais as metas de receita, eu digo ‘eu não sei’. US$ 200 bilhões, US$ 300 bilhões, US$ 1 trilhão. Escolha o seu número. Tem uma torta muito grande lá fora”, disse.  

Work from Here

No escritório da Amazon, diversos cartazes de comunicação repercutem uma decisão recentemente anunciada pelo CEO da companhia, Andy Jessy: a volta ao trabalho presencial todos os dias. A frase “Work from here” (trabalhe daqui), que tenta ressignifica o WFH de “Work from home” (trabalha de casa) que ganhou adesão durante a pandemia, está estampado nos elevadores.

A decisão da Amazon fez muita gente decretar a morte do trabalho remoto uma vez que a companhia serve de parâmetro de gestão para muitos outros negócios ao redor do mundo, e também desagradou os funcionários.

Matt disse apoiar totalmente a decisão e que ela ajuda a companhia a ter uma cultura parecida com a de uma startup – apesar das implicações práticas disso acontecer dentro de um negócio tão grande, mas o sentimento é esse. “Pergunte às startups aqui embaixo. Eu apostaria que a maior delas estão voltando ao escritório. Elas sentam em frente a um quadro branco e discutem para onde as coisas vão. Porque a inovação acontece em tempo real”, cravou.

Segundo ele, a interação presencial permite conversas mais profundas e interações que simplesmente não acontecem no trabalho remoto. “Tem uma razão para a maioria das startups não operar remotamente. E é porque esse nível de inovação é quase impossível de ser atingido”, reforçou.

*O jornalista viajou a Seattle a convite da AWS