* Charles Nisz, especial para o Startups, da Febraban Tech
Os bancos, sejam eles 100% digitais ou não, se aproximam do varejo para oferecer produtos financeiros e experiências de compra para seus clientes. Mas a falta de mão de obra em TI pode ser um empecilho para esse objetivo, segundo os profissionais de banco ouvidos no painel “Todo banco é digital?”, realizado hoje (10), no segundo dia do Febraban Tech.
Jolivan Galvão, do Next, disse que a ideia é ter produtos 100% digitais e focados em tecnologia. “A ideia é fornecer produtos financeiros diferenciados, a partir do uso dos dados de movimentação financeira e compras do cliente”.
Uma das possibilidades citadas por Jolivan é derrubar a barreira de apps de serviços. “Imagine um cliente poder pagar um Uber, adquirir um pacote de viagem ou reservar e pagar um jantar sem precisar abrir o aplicativo do Uber, do Decolar ou do restaurante, respectivamente”, enumerou o executivo do Next.
Porém, Jolivan fez uma ressalva: “Somente no Brasil há uma demanda de 400 mil profissionais de TI – programadores, especialistas em cibersegurança e cientistas de dados. Isso pode ser um gargalo para o desenvolvimento dessas ideias”. Somente o Next planeja oferecer 500 mil produtos financeiros em sua plataforma.
Vice-presidente de varejo da Caixa Econômica Federal, Júlio César Sierra contou sobre os planos da estatal em usar open finance para incluir os novos bancarizados por conta da pandemia da covid-19. “O pagamento do auxílio-emergencial foi o primeiro relacionamento bancário de 38 milhões de brasileiros – cerca de 25% dos adultos economicamente ativos”.
De acordo com Júlio César, muitos brasileiros tinham resistência a usar a agência física. “O app do Caixa Tem precisava de duas qualidades – ser fácil de usar, pois o auxílio foi pedido por muita gente sem intimidade com tecnologia – e que não ocupasse muito espaço na memória do aparelho celular dessas pessoas”, acrescentou.
Criando vitrines digitais
Apesar do foco do BTG Pactual estar em investimentos, o executivo Marcelo Flora disse que os desafios do banco não diferem das agências de varejo: “Por mais que nossa clientela esteja mais habituada com tecnologia, não ter agências físicas era uma dificuldade – o relacionamento propiciado pelo banco físico ajuda a vender”.
Marcelo concorda com Jolivan e diz que um dos caminhos do banco digital e caminhar junto com o varejo e fazer dos sites um marketplace de produtos financeiros: “Se o varejo foi atrás dos bancos para facilitar o pagamento, agora é a hora dos bancos usarem a experiência do varejo para criar vitrines digitais para seus produtos”.
Fernando Kontopp, do Itaú-Unibanco, acredita que a escassez de mão de obra terá que ser resolvida pelos próprios bancos. ”A iniciativa privada precisa continuar fazendo cada vez mais iniciativas de formação e aproveitar o movimento para aumentar a diversidade nas profissões de tecnologia desde as faculdades, incluindo mais mulheres e negros”, afirmou.
Júlio, da Caixa, disse que uma das medidas para enfrentar a falta de mão-de-obra será migrar profissionais de outras áreas do banco para o setor de tecnologia.
Segundo Kontopp, uma das missões dos bancos digitais será propiciar uma vida financeira mais saudável aos clientes: “60 milhões de brasileiros têm algum tipo de dívida. Usar a tecnologia para prover algum tipo de educação financeira vai ser algo necessário no médio prazo”, diz ele.