Pix

Baque para os cartões? Empresas avaliam impactos do Pix Automático

Para executivos de fintechs, novidade é a maior inovação do modelo desde lançamento do Pix em 2020. Mas será que ameaça os cartões?

Leitura: 6 Minutos
Pix Automático entrou em funcionamento no dia 16 de junho | Foto: Bruno Peres/Agência Brasil
Pix Automático entrou em funcionamento no dia 16 de junho | Foto: Bruno Peres/Agência Brasil

Que o Pix foi uma força disruptora para o setor de pagamentos no Brasil, isso não é mais nenhuma novidade. Em menos de cinco anos de utilização, ele já movimentou mais de R$ 60 trilhões em transações — só no ano passado, foram R$ 26,6 trilhões. Contudo, agora a criação do Banco Central está estendendo seu alcance com o Pix Automático.

Lançado oficialmente nessa segunda (16), a novidade agora coloca o Pix na no campo dos pagamentos recorrentes — e aí vem a pergunta: o quanto a nova modalidade deve impactar nas fintechs e até mesmo em grandes players, como as operadoras de cartão?

“O Pix Automático é o maior lançamento para o ecossistema Pix desde o seu lançamento. É algo que nos leva a outro patamar tecnológico em termos de pagamento”, dispara Ralf Germer, cofundador e CEO da PagBrasil, fintech especializada em processamento de pagamentos, em bate-papo com o Startups.

Segundo o executivo, o Pix Automático tem o potencial de “abocanhar” uma boa fatia do mercado antes pertencente aos cartões — o de pagamentos recorrentes. Para explicar melhor, o Pix Automático funciona como uma espécie de débito automático, no qual o usuário pode autorizar débitos recorrentes em sua conta bancária, o que pode servir para pagar serviços como academia, streamings e outras assinaturas.

Para Marcio Souto, diretor de produtos na OKTO, outra fintech de pagamentos digitais, o Pix Automático chega para redefinir a dinâmica dos pagamentos recorrentes no Brasil, oferecendo uma alternativa direta, segura e de baixo custo para cobranças programadas. “Para as fintechs de adquirência, essa evolução representa uma oportunidade estratégica de criar soluções mais inteligentes e integradas”, avalia o executivo.

Para o executivo da PagBrasil, o que deve vir por aí é uma migração massiva de clientes que antes utilizavam seu cartão de crédito para pagar suas assinaturas, trocando pelo Pix Automático para fazer essas transações. “Estimo que os cartões de crédito devam perder boa parte das transações de assinaturas, em até 80%”, afirma Ralf.

Ralf-Germer, CEO e fundador da PagBrasil | Foto: divulgação
Ralf-Germer, CEO e fundador da PagBrasil | Foto: divulgação

A declaração do CEO da PagBrasil encontra respaldo no impacto que o Pix original teve nos cartões de débito, especialmente nas compras digitais. Segundo um estudo recente feito pela Deloitte e Febraban, hoje o Pix já responde por 82% das transações financeiras feitas via dispositivos móveis.

Segundo o Banco Central, a chegada do Pix Automático tem tudo para abrir o mercado para mais de 60 milhões de brasileiros que não possuem cartão de crédito e ficam de fora de pagamentos recorrentes de serviços, como assinaturas de streamings.

“Muitos consumidores estão excluídos de produtos online, comércio eletrônico, precisamente pela ausência de um meio de pagamento que contorne a questão de cartões ou consumidores que tenham limite pequeno no cartão e não queiram comprometê-lo com pagamento dessa natureza”, respondeu Renato Gomes, diretor de Organização do Sistema Financeiro e de Resolução do Banco Central, em conferência no começo de junho.

Ralf Germer se alinha com a afirmação do executivo do Bacen — aliás, segundo o CEO da PagBrasil, a novidade tem tudo para ser um catalisador do mercado de compras recorrentes e assinaturas. “Com o Pix Automático, vamos ver mais empresas se arriscando a entrar em assinaturas e mais clientes abertos a esse tipo de serviço”, completa.

Impactos nos cartões

Voltando ao assunto dos impactos para as operadoras de cartões, Marcio Souto ressalta que o Pix Automático vai obrigar as bandeiras de cartão a entrar em um novo ritmo de adaptação. Segundo ele, modelos consolidados de cobrança recorrente precisarão evoluir frente a um meio de pagamento mais ágil e competitivo.

“Nesse cenário, as empresas que souberem se antecipar — seja diversificando sua oferta de valor ou promovendo jornadas mais fluidas — estarão melhor posicionadas para liderar essa nova fase do mercado financeiro digital”, afirma o executivo da OKTO.

De olho nessas mudanças, empresas antes conhecidas pelos seus cartões estão se movimentando para diversificar. É o caso da Visa, que lançou recentemente o Visa Conecta, focada no Open Finance e Pix, e que atua como uma instituição de pagamento e iniciadora de pagamentos para o Pix.

Com isso, a Conecta quer atuar como o player intermediando os pagamentos, principalmente ao entregar a chamada Jornada Sem Redirecionamento (JSR) nas compras online. Com ela, o cliente não precisa sair de onde está e entrar no aplicativo de seu banco para pagar uma compra.

“A Visa Conecta nasce com esse propósito de ser esse hub de movimentação financeira, de novos modelos de negócio de movimentação financeira. O nosso objetivo é explorar mais essas outras vertentes, utilizando mais dados, agregando valor em cima deles e, obviamente, acompanhando a evolução da iniciação de pagamento dentro do Pix”, afirma Leonardo Enrique, diretor executivo da Visa Conecta.

Em conversa com o Startups durante o Febraban Tech, Leonardo afirma que a companhia não vê impactos negativos do Pix e do Pix Automático nas transações de cartões. “Vemos o Pix muito mais como uma substituição do dinheiro do que dos cartões”, destaca. Contudo, a Visa Conecta chega para aproveitar um potencial pouco aproveitado pelos cartões da companhia.

“O Pix não é um concorrente da Visa, e sim mais uma forma de se movimentar dinheiro aqui no Brasil. Onde existe movimentação de dinheiro, é lá que a gente vai estar”, pontua o executivo.