Criada em 2019 pelas empreendedoras Larissa Mota e Luciana Guidi, a startup de perfumaria Amyi aposta em tecnologia para levar novas experiências de consumo à casa dos clientes. A marca oferece produtos autorais, genderless e não testados em animais.
A empresa faz parte do promissor mercado das beautytechs, como são chamadas as startups que desenvolvem soluções para a indústria da beleza. O segmento movimentou US$ 2,1 bilhões no mundo em 2020, segundo o Crunchbase – US$ 900 milhões a mais do que no ano anterior. Até setembro de 2021, o setor já tinha levantado cerca de US$ 1,9 bilhão, valor distribuído em mais de 150 rodadas de investimento.
No mercado de perfumaria, o Brasil é o segundo maior do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. Por aqui, a indústria movimentou mais de R$ 25 bilhões em 2018, e deve atingir R$ 40 bilhões até 2023.
“Temos o maior consumo per capita de perfumes em litros, chegando a quase 3 vezes o consumo da França, berço da perfumaria mundial”, afirma Luciana Guidi, cofundadora e diretora de operações da Amyi.
Experiência sensorial
A Amyi tem um portfólio de 15 produtos, e vai te ajudar a encontrar qual deles mais combina com a sua personalidade e estilo de vida.
Inicialmente, ela criou um quiz online gratuito, onde o usuário indica seus gostos e quais sensações quer despertar com a fragrância (como coragem, sensualidade, alegria e confiança). Com base nas respostas, a tecnologia revela um ranking com os 6 perfumes do catálogo que mais combinam com a personalidade de cada um.
Você pode estar se perguntando: “Tá, mas como eu vou saber qual é o melhor perfume entre as 6 opções?”. Bom, é para isso que serve a Experiência Amyi. O cliente escolhe quais fragrâncias gostaria de experimentar e recebe um kit com 3 ou 6 mini perfumes, de 7 mL cada, para testar em casa. “Cheiros ativam vários tipos de emoções, boas ou ruins, e é importante que as pessoas ‘degustem’ os perfumes para perceber o que cada um deles desperta”, afirma Luciana.
A Amyi desenvolveu uma plataforma online baseada em programação neurolinguística, que permite significar as percepções do consumidor por meio dos sentidos, associando os cheiros a cores, texturas, consistências e som. A ferramenta inclui vídeos dos perfumistas falando sobre suas inspirações, os ingredientes da fragrância e informações sobre como o perfume evolui nas horas após a aplicação.
“A fragrância é volátil. Nos primeiros 10 minutos, você vai sentir algumas notas e, depois, outras. Ela muda em contato com a pele, porque cada uma tem uma hidratação, e a parte hormonal também pode interferir. Por isso, é comum alguém comprar um perfume que amou na hora, mas se arrependeu depois”, explica a empreendedora. “Com os conteúdos educativos, vamos conduzir toda essa experimentação para a pessoa realmente sentir o perfume no seu tempo, contribuindo para o autoconhecimento e o autocuidado.”
Ao final, o cliente acessa um ranking de como classificou cada fragrância e pode encomendar a versão maior, de 100 mL, do perfume com que mais se identificou – esse frasco já está incluído no preço do kit Experiência Amyi Premium, de R$ 435,00.
“Estamos montando um grande hub de consumer insights de inovação e tendência em perfumaria. Quanto mais pessoas usam as plataformas, mais cruzamento de dados temos com as nossas fragrâncias, o que melhora a experiência como um todo.”
Os perfumes são desenvolvidos em parceria com grandes casas de fragrâncias como Takasago, Citratus Symrise e a suíça Givaudan. “Elas alocam um de seus perfumistas para o nosso projeto, eles fazem as criações e nós selecionamos os que entram no portfólio”, explica Luciana. As fragrâncias pertencem à marca Amyi e a fórmula não pode ser compartilhada com nenhuma outra empresa.
Liberdade de criação
A startup trabalha com perfumaria de nicho: uma produção exclusiva, com ingredientes nobres e de alta qualidade. “[A abordagem da Amyi] é mais ousada. Dá liberdade criativa para o perfumista e tem um alto investimento nas matérias-primas”, diz Luciana.
Segundo a empreendedora, a indústria brasileira ainda é liderada por marcas massivas, com forte apelo comercial. “Muitas empresas estudam qual aroma mais agrada a população, aquele que vai vender para 70% a 80% do público, e dedica toda a produção para ele”, avalia a empreendedora. “O problema é que elas entram em um ciclo vicioso sem inovação.”
Na Amyi, o processo é diferente. Os perfumistas têm total liberdade para soltar a criatividade e criar fragrâncias com notas olfativas diferenciadas. Quem diz se gostou ou não do resultado é o consumidor, com o apoio dos conteúdos educativos fornecidos pela startup para um melhor entendimento das características e complexidades de cada aroma.
Sem revelar números, a companhia afirma investir até 6 vezes mais em óleos essenciais do que a maioria das empresas brasileiras – uma quantia semelhante ao que é investido pelas perfumarias de nicho internacionais.
Todos os perfumes são veganos, o que significa que nenhum ingrediente tem origem animal. O âmbar gris, por exemplo, considerado uma matéria-prima valiosa no mundo da perfumaria de luxo, é um ótimo fixador de fragrâncias e pode custar até US$ 25 por grama. O problema é que ele se forma no intestino de baleias cachalote e, não à toa, foi apelidado de “vômito de baleia”. Para não contribuir com movimentos de caça às baleias, a Amyi usa um substituto sintético que, segundo Luciana, também é de altíssima qualidade.
Investimento anjo
A beautytech captou cerca de R$ 400 mil de investidores-anjo para lançar a empresa. Na época, o time era de 3 pessoas: as empreendedoras e 1 desenvolvedor. Com o investimento, eles colocaram o e-commerce no ar e fizeram a primeira produção de perfumes.
Com 5 meses de operação, a Amyi se tornou a primeira marca brasileira finalista do prêmio The Art and Olfaction Awards, que reconhece a perfumaria criativa independente ao redor do mundo, na categoria Perfumaria Independente. O destaque foi graças ao perfume Amyi VIII, criado pelo perfumista Samuel Moraes, da Citratus Symrise. A composição inclui tomilho vermelho, erva flouve e camurça branca.
Depois da premiação (e da visibilidade), o negócio decolou. O faturamento cresceu 60% em relação ao mês anterior, o estoque de 6 meses esgotou em apenas 15 dias e as empreendedoras tiveram que correr para atender à crescente demanda. “Tivemos um resultado expressivo para buscar um novo aporte, concluído em outubro de 2020”, diz Luciana.
O investimento de R$ 1 milhão foi liderado pela GV Angels, com participação do fundo Wishe, voltado para startups fundadas por mulheres. No final de 2020, as empreendedoras chegaram aos estúdios do Shark Tank Brasil, e emplacaram R$ 400 mil em investimentos por 10% dos negócios, divididos entre os tubarões Camila Farani e Caito Maia.
Com o caixa reforçado, a companhia dobrou o time, investiu em growth hacking e expandiu o portfólio, adicionando 6 novos perfumes. “Foi quando reformulamos toda a jornada online, com uma navegação mais fluida, amigável e educativa”, afirma a executiva.
Próximos passos
Um dos principais projetos da Amyi para 2022 é o lançamento de um quiosque em um shopping em São Paulo. A estratégia omnichannel é encabeçada pelo próprio Caito, do Shark Tank. Falando em expansão de portfólio, a companhia acaba de entrar no segmento de home care. Em dezembro, lançou um kit de mini velas perfumadas e, em breve, deve lançar as versões maiores, assim como aromatizadores de ambiente.
De olho nos criadores de conteúdo, a startup já está em negociações com alguns influenciadores digitais, que poderão criar e vender seus perfumes personalizados. “A ideia é que eles façam um workshop em uma casa de fragrância para encontrar os ingredientes que mais gostam e aqueles que mais refletem sua personalidade, para que a pessoa tenha orgulho de usar e dividir com o público”, explica Luciana. A expectativa é que, futuramente, os próprios clientes também possam criar seus perfumes personalizados.
Para sustentar esses planos, as empreendedoras querem levantar uma rodada seed, ainda em 2022. O objetivo é investir em time, portfólio e sustentar a expansão para o ponto físico. A projeção é repetir o crescimento do último ano, com um avanço de pelo menos 40% no faturamento.
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