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Beegol levanta R$ 11 mi para acabar com o “já reiniciou o seu modem?”

Nascida há 3 anos, Beegol criou software que vai embarcado em modens e dispositivos conectados e usa IA para "prever" problemas de conexão

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Depois de 3 anos desenvolvendo seu software e fechando contratos com os principais fabricantes para colocá-lo no mercado, a brasileira Beegol está pronta para ganhar o mundo. E para isso, acaba de levantar uma rodada de R$ 11 milhões com a Indicator Capital, por meio de seu fundo de Internet das Coisas.

Mas porque isso te interessaria? E quem é a Beegol? Já te explico. Mas adianto: se o plano der certo, sua vida, e sua conexão à internet vão ficar bem melhores.

Do que esse doido está falando?

Quantas vezes sua internet deu problema e você ligou no call center da operadora e a recomendação do atendente foi reiniciar o modem ou o celular? E o pior é que na maioria das vezes isso funciona! Só que você já gastou seu tempo, e a operadora um recurso de atendimento.

Seria muito mais fácil para todo mundo se a operadora conseguisse detectar o problema e resolvê-lo sem você nem perceber. E é exatamente isso que a Beegol pretende oferecer.

Nascida há 3 anos, ela desenvolveu um software que pode ser embarcado em modens e outros dispositivos conectados. Por meio da inteligência artificial, o sistema consegue “ver” o que está acontecendo não só na casa ou no aparelho do usuário, mas também em toda a rede e sugerir correções de forma preventiva. É um possível fim para o “reinicia o seu modem”.

“O objetivo é aumentar a satisfação do cliente trazendo transparência e reduzindo os custos”, explica Gilberto Mayor, presidente e cofundador da Beegol. A estimativa é que as operadoras gastem de 6% a 10% de sua receita líquida com banda larga para resolver problemas técnicos de seus clientes – incluindo as ligações de call center e reparos.

Gilberto cita o exemplo de uma pessoa com problemas ao assistir Netflix em casa. Às vezes, tudo pode estar bem dentro da residência, mas há alguma dificuldade na rede de suporte da operadora, ou mesmo onde o Netflix está acessando o conteúdo – de um servidor nos EUA ao invés de um aqui no Brasil, por exemplo.

Hoje, é difícil saber de antemão o que está rolando de verdade. “Os modens de hoje são computadores. Mas a evolução do hardware não foi acompanhada pelo software”, explica Charles Hong, cofundador e responsável pela estratégia da companhia. Daí nasceu a abordagem ponta a ponta desenvolvida por ela.

De acordo com Fabio Iunis de Paula, sócio da Indicator Capital, que atualmente mora no Vale do Silício e foi o líder do investimento, a oportunidade se torna ainda mais interessante quando se pensa no mundo de dispositivos que serão conectados à internet ao longo dos próximos anos. “Em alguns casos, o problema não será só ter dificuldade em ver um vídeo ou jogar um jogo”, pontua.   

Tecnologia embarcada

De acordo com Gilberto, a Beegol já negociou para colocar sua tecnologia nos equipamentos de 20 fabricantes globais de equipamentos, como a Broadcom.

Essa entrada foi possível, em grande parte, por conta do relacionamento e da experiência dos fundadores no mercado de telecomunicações. Tanto Charles quanto Gilberto atuam há mais de 20 anos na área. Foi do mercado, aliás, que Charles conheceu Fabio.

Gilberto, que é Phd em ciência da computação, ainda traz todo o respaldo para a criação da tecnologia desde o início. Pois é, deep tech feita no Brasil. Hoje a Beegol tem 60 pessoas, chegando a 70 nas próximas semanas. Cerca de 40% do quadro tem mestrado ou doutorado. Além dos pesquisadores brasileiros, ela trabalha em colaboração com universidades americanas. “Eles criaram uma solução para um problema global, não só do Brasil. E tem uma pegada de sustentabilidade reduzindo movimentações desnecessárias de técnicos”, reforça Flavio.   

Estar embarcado nos modens é fundamental para a o crescimento da Beegol porque permite que ela ganhe acesso praticamente automático à base de clientes das operadoras. E em qualquer parte do mundo. É como um aplicativo que já vai pré-instalado em um celular. É só tirar da caixa e usar.

Mas como todo bom aplicativo, é preciso criar um login e senha. No caso, habilitar o software para funcionar nas redes das operadoras.  E fazer esse processo não é nada fácil. O ciclo de negociação é longo e envolve várias fases e estratégias. Hoje, há conversas e testes em curso com 1 grande grupo nos EUA, 1 no Brasil e América Latina e 2 na Europa.

Com os recursos da rodada, a Beegol pretende ganhar mais escala para poder fazer essas conversas se transformarem em receita. pretende acelerar seu plano de internacionalização. Isso passa pela abertura de uma operação na Europa e por contratações. Mas Gilberto diz que não vai haver uma expansão muito acelerada do time. “Uma vez que a tecnologia está desenvolvida, a equipe trabalha para criar novas funcionalidades”, comenta.  

Planos da Beegol

O aporte na Beegol é o 4º feito pelo Indicator 2 IoT, o fundo criado pelo BNDES e pela Qualcomm Ventures que tem R$ 240 milhões para investir em startups que desenvolvam produtos e serviços de Internet das Coisas (IoT) e fomentar o setor no país. Também são investidores o Banco do Brasil, a Multilaser, Motorola/Lenovo e a Vivo Telefônica por meio da Wayra, seu hub de inovação.

Para os próximos 18 meses, a Beegol já tem uma nova captação, de mais R$ 11 milhões (cerca de US$ 4 milhões) programada.

De acordo com Charles, o trabalho com as operadoras na qualidade da internet é só o começo do relacionamento, que pode avançar para outras frentes. Fabio acrescenta que a tecnologia pode também ser aplicada além do mundo das telecomunicações, em qualquer área que tenha dispositivos conectados – que em poucos anos serão todas. “O céu é o limite”, diz.