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BeepBeep mira Série A para criar rede nacional de carros elétricos

A startup de eletromobilidade aposta em parcerias com montadoras para se tornar uma plataforma de test drive e modelo B2B

Carro elétrico sendo recarregado - Startups

Ser o principal player em compartilhamento de carros elétricos no Brasil. Esta é a ambição da startup de mobilidade BeepBeep, que busca expandir em território nacional, acelerar a adoção do modelo entre empresas e se tornar a principal plataforma para lançamentos de carros elétricos do país.

Fundada em 2019 em São Paulo, a Beep Beep surgiu das vivências de André Fauri no Vale do Silício entre 2017 e 2018, em meio ao boom dos patinetes e bicicletas compartilhadas. O empreendedor, também fundador do Latin America Institute of Businesss (LAIOB), organização que leva executivos brasileiros para estudar em universidades americanas, era usuário assíduo destes modais na Califórnia, e dos carros elétricos da Tesla.

Ao analisar as tendências na adoção em mobilidade compartilhada no Brasil e nos Estados Unidos, André teve o estalo que daria origem à sua própria startup no segmento. “[Constatei] como tudo ocorre antes [nos EUA] e o Brasil vai amadurecendo depois, e concluí que o mesmo aconteceria com os carros elétricos”, diz o empreendedor, em entrevista ao Startups.

A partir do momento que André começou a se movimentar para tirar a ideia do papel, os eventos começaram a acontecer muito rápido, lembra o fundador, que captou R$ 3 milhões em dezembro de 2018 com amigos e ex-chefes. Em janeiro do ano seguinte, garantiu as primeiras 10 unidades da frota da BeepBeep, quando a Renault anunciava a chegada no Brasil do seu modelo elétrico, o Zoe.

A startup então focou no desenvolvimento de seu aplicativo e toda a tecnologia por trás da operação até o lançamento, em julho de 2019. Desde então, a empresa atingir a marca de 100,000 downloads. Sem abrir cifras, André diz que o faturamento da empresa tem crescido 20% mês a mês, ritmo que deve se manter em 2022 com o aumento da frota e na utilização.

O modelo de negócio da BeepBeep

No modelo de negócio da startup, o usuário paga por minuto, ou por diária. A frota atualmente conta com 110 veículos e a expectativa é chegar em 300 até o fim de 2022. O usuário pode escolher entre o compacto Zoe e o Arrizo 5e, sedã da Chery. Com o objetivo de ser uma empresa sem muitos ativos físicos, a startup fechou acordo de leasing com a Caoa Chery, que nesta semana se juntou a players de mobilidade em uma aliança para democratizar carros elétricos no Brasil. Atualmente, a BeepBeep tem uma rede de 60 pontos de recarga no estado de São Paulo.

A empresa atua em dois modelos: em um deles, os carros ficam disponíveis em pontos como supermercados, redes de estacionamentos e shopping centers. No outro formato – inspirado na Share Now, joint venture de mobilidade da BMW e Mercedes Benz que será vendida para a Stellantis – carros estão disponíveis nas ruas de São José dos Campos (SP), que se tornou a primeira cidade do Brasil a ter um compartilhamento de carros elétricos no modelo free float. O processo na cidade do interior paulista foi bem diferente da capital, onde a empresa não pode disponibilizar os carros na rua.

“Encontrei o prefeito Felício [Ramuth], que nos convidou para uma reunião e na próxima semana, assinou um decreto [que permitiu a operação free float] e nos deu todo o apoio”, conta André, que lançou o serviço na cidade em dezembro de 2019. “Foi uma loucura, as pessoas brigavam para testar os carros.”

Foto de André Fauri, CEO e fundador da Beep Beep - Startups
André Fauri, CEO e fundador da Beep Beep

Em 2020, a empresa levantou mais R$ 3 milhões em uma rodada seed e aumentou sua presença no estado e disponibilizou o serviço nas cidades paulistas de Campinas, Indaiatuba, Valinhos, Jacareí e nos aeroportos de Guarulhos e Viracopos. Segundo André, estas últimas localidades revelaram o grande diferencial da empresa, cujo principal público é composto por viajantes.

“Mesmo se a pessoa tem seu próprio carro, muitas vezes o nosso serviço é uma alternativa mais barata, considerando o valor do combustível e de estacionamentos. Além disso, há uma vontade [entre os usuários] de testar inovação e uma preocupação com sustentabilidade”, ressalta o empreendedor. “Hoje estamos em um oceano azul, pois nenhuma outra empresa conecta cidades e aeroportos como nós.”

Nova rodada e planos futuros

Apostando no avanço do mercado de carros elétricos no Brasil, a empresa atualmente está em processo de captação de sua Série A e quer concluir o processo este mês. Com os R$ 10 milhões que a empresa espera ter em caixa, a ideia é expandir a atuação para as cidades paulistas de Taubaté, Sorocaba, Atibaia e Ribeirão Preto.

Além disso, há um plano de expandir para alem do estado de São Paulo, para as cidades de Curitiba, Florianópolis e Porto Alegre. De olho nos turistas, a empresa também planeja fincar sua bandeira nas cidades gaúchas de Gramado e Canela. “Temos muitas conversas em andamento com prefeituras destes locais, que já nos aguardam”, diz André.

Para ganhar esta capilaridade, a empresa também pretende aumentar a frota, e chegar a 1 mil veículos no próximo ano e expandir a rede de recarga, além de promover melhorias na tecnologia, focar na monetização de créditos de carbono e e investir em marketing e growth hacking para crescer.

Este aumento na frota também passa por um posicionamento junto a montadoras em que a BeepBeep propõe ser uma plataforma de lançamento de veículos elétricos no Brasil. “O cliente brasileiro ainda não sabe como vai fazer a recarga do carro, não conhece o veículo elétrico. Montadoras gastam milhões para fazer um anúncio, fazer estratégia digital e tudo mais, mas talvez não estejam atingindo seu futuro cliente de uma forma tão eficaz”, pontua.

“Por outro lado, se as montadoras fazem um lançamento através da nossa plataforma, onde vamos girar milhares de experimentações durante um mês, é como se fosse um test drive pago pelo cliente”, explica André, acrescentando que a startup pretende incrementar este serviço para montadoras com insights de pesquisas com clientes e gerar leads qualificados a partir do interesse do consumidor.

O roadmap da empresa também inclui a expansão do modelo B2B, em que a Beep Beep disponibiliza o app no formato white label para empresas e que atualmente representa cerca de 20% da frota.

Quando o assunto é o tipo de investidor para sua nova rodada, a BeepBeep tem seus desejos. Além de fundos de venture capital, a empresa espera atrair grandes empresas do setor de mobilidade de energia para o seu captable. Citando movimentos como os investimentos da Vibra Energia (ex-BR Distribuidora) e da Raízen nas startups de eletromobilidade Easy Volt e Tupinambá Energia respectivamente, o fundador diz que o momento é propício para o segmento.

“Grandes corporações estão de olho nesse mercado, principalmente no crescimento da rede de recarga no Brasil, e hoje já temos uma rede de recarga própria”, ressalta André. “Neste próximo momento, vamos pegar uma parte desse cheque de algum fundo, mas gostaríamos também de ter um investimento mais smart money com um parceiro corporativo que nos ajude a ganhar escala, e continuar sendo protagonistas da revolução elétrica e do compartilhamento no Brasil.”