A healthtech carioca Beep fechou uma série C para turbinar seu plano de se tornar uma espécie de Amazon de serviços de saúde O aporte foi liderado pelo CZI, de Mark Zuckerberg e sua esposa, Priscila Chen. Esse é o 2º aporte feito pelo fundo no Brasil e o 1º globalmente no setor de saúde.
A captação foi coliderada pelo Bradesco, que já investia na Beep, e contou com a participação de nomes como Valor Capital, DNA Capital (gestora do Pedro Bueno, do grupo DASA) e David Vélez, do Nubank, que também já eram investidores.
Se você estranhou que até agora não foi feita nenhuma menção ao valor aportado, há uma explicação para isso. Ele não foi revelado. A única informação dada pela companhia é que se tratou de um “upround significativo”. “É capital suficiente para irmos até o break even”, diz Vander Corteze, fundador e presidente da companhia em conversa com o Startups.
De acordo com ele, o objetivo é tirar o foco do valuation, seguindo o momento de correção e mais racionalidade do mercado de venture capital. “Agora queremos olhar para margem, ser uma companhia que vai durar”, completa.
Em abril do ano passado, quando captou R$ 110 milhões em sua série B, a Beep disse que tinha sido avaliada em R$ 670 milhões. Em conversa com o Startups em dezembro/21, o fundador da companhia, Vander Corteze, disse que ela poderia se tornar o 1º unicórnio da área de saúde no Brasil com uma “boa rodada” no 2º semestre de 2022.
Se o tamanho do cheque fosse realmente superlativo e a cotação do dólar desse uma forcinha, a companhia poderia se tornar o 1º unicórnio do setor de saúde no Brasil.
Nova rota e objetivos
A Beep nasceu em 2016 com a oferta de vacinas em domicílio e há um ano e meio expandiu sua operação adicionando os exames médicos. Hoje ela está presente em 150 cidades de 6 estados e já fez 1 milhão de atendimentos. Os serviços podem ser contratados de forma avulsa, mas também por meio de 40 planos de saúde credenciados, somando um universo de 6 milhões de vidas alcançadas. A equipe tem mais de mil pessoas.
Segundo Vander, a rodada que começou a ser formatada em março tem como objetivo financiar o avanço da operação de exames. Ele conta que em meio às negociações e frente ao atual cenário do mercado, a Beep precissou fazer o dever de casa para sair de uma pegada de crescimento e olhar para a geração de fluxo de caixa positivo, que é tem sido a tônica do momento.
Nesse processo, a margem bruta aumentou em 20 pontos percentuais com medidas como a desaceleração no ritmo de entrada em novas cidades e a priorização de projetos de tecnologia para melhorar a eficiência logística. “Foi um remédio amargo, mas necessário. Temos que caminhar independente de fundos e, e lá na frente, ter a opção de captar ou não”, diz Vander.
A expectativa do fundador é ter as contas equilibradas em maio do ano que vem. A antecipação dessa marca será um resultado da maior disciplina, e também da expansão projetada para a operação.
A meta é fechar o ano que vem com uma receita de R$ 250 milhões, um crescimento entre 40% e 50% na comparação com 2022. “Hoje já temos o número de vidas necessário para chegar ao break even, mas temos que ativar essa base, construir uma reputação”, diz Vander.
E isso passa por investimento em marketing digital, mas também de aproveitar o contato que os planos de saúde têm com suas bases, especialmente nas empresas, para mostrar que a Beep é um benefício do plano.
Olhar atento e comunidade médica
O processo de adaptação da Beep ao novo cenário foi acompanhado de perto pela equipe do CZI, que passou alguns dias no Brasil para ver como ela funciona – inclusive participando de alguns atendimentos. “Nosso time está particularmente animado com o potencial da Beep de usar tecnologia para ampliar o acesso ao cuidado com a saúde de alta qualidade, o que casa muito com a missão do CZI de construir um futuro mais inclusivo, justo e saudável para todos”, disse Vivian Wu, managing partner de ventures do fundo, em comunicado. “É impressionante ver o foco da Beep no treinamento e na qualidade do atendimento, e está claro que a companhia tem sido capaz de entregar uma experiência que é amada pelos pacientes”, completou.
Se pelo lado dos pacientes o jogo está avançado, pelo lado da comunidade médica ainda há um trabalho importante a fazer. O Startups já ouviu relatos de pessoas que entregaram exames feitos com a Beep ao médico e perceberam reação de surpresa e desconhecimento da empresa. De acordo com Vander, que é médico de formação, esse é realmente um desafio. “A gente conseguiu chegar na família, tem credibilidade com as farmacêuticas, mas o médico ainda não nos conhece”, diz. Segundo ele, 12 mil dos quase 300 mil médicos no Brasil indicam os serviços da Beep.