
Além de pedir comida pelo iFood, comprar um ingresso pelo Sympla, organizar uma viagem pelo Decolar e desapegar na OLX, os brasileiros poderão, agora, ser sócios dessas empresas. É que a Prosus, dona de todos esses negócios, passou a ter ações negociadas na bolsa brasileira sob o código PRXB.
A cerimônia de listagem aconteceu hoje pela manhã e contou com a participação de Fabrício Bloisi, CEO da Prosus, Diego Barreto, CEO do iFood e head de ecossistema de América Latina da Prosus, além de funcionários das empresas do grupo. “Com a inovação que a gente faz aqui. Com a garra que a gente tem aqui. Com o modelo de gestão que a gente inventou aqui, a gente vai ter um impacto gigante no mundo inteiro. Nada mais justo do que ter isso listado aqui na B3 também”, disse Fabrício antes de tocar o sino de abertura do pregão.
Diego Barreto lembrou que, nos últimos 10 anos muita gente perguntou sobre os planos de IPO do iFood. Agora a resposta está dada. “Hoje esse dia começa na América Latina”, disse.
A entrada da Prosus na bolsa brasileira aconteceu por meio dos Brazilian Depositary Receipts, ou BDRs, na modalidade patrocinada – que são uma representação dos papéis da companhia em sua bolsa de origem, a Euronext, na Holanda, com apoio da empresa para relacionamento com o mercado. O Nubank, por exemplo, que já teve ações listados no Brasil, hoje tem BDRs não-patrocinados na B3. Ou seja, o roxinho não tem nenhuma ingerência sobre eles. É o Bradesco quem faz as vezes.
Perguntado se existem planos para fazer uma abertura de capital da Prosus no Brasil, Fabrício desconversou. “Vamos comemorar a listagem das BDRs hoje”, brincou durante conversa com jornalistas.
Luiz Mazagão, vice-presidente de produtos e clientes da B3, que também participou da cerimônia, afirmou que o mercado de tecnologia é um segmento que a bolsa quer ter mais empresas que há demanda desse tipo de papel entre os investidores.
A partir de janeiro, entrará em vigor o regime FÁCIL – sigla para Facilitação do Acesso a Capital e de Incentivo a Listagens – que cria regras facilitadas para companhias com faturamento bruto anual inferior a R$ 500 milhões que queiram abrir o capital na B3.
Conexão com o ecossistema
A ideia de fazer a listagem da Prosus no Brasil e se aproximar do ecossistema local veio do CEO há alguns meses. “Estamos na bolsa na Índia e a Europa. Por que não no Brasil também?”, comentou. No cargo de CEO há pouco mais de um ano, o brasileiro colocou como direcionamento da Prosus a criação de grandes líderes regionais na Europa, na Índia e na América Latina.
Desde sua chegada, o valor de mercado do grupo saiu da casa dos US$ 80 bilhões para US$ 160 bilhões e foram investidos mais de US$ 8 bilhões em aquisições como Decolar, OLX e Just Eat Takeaway. A companhia também listou alguns ativos na bolsa da Índia e está caminhando para se tornar uma operação lucrativa, com US$ 10 bilhões em caixa. Grande parte do sucesso da Prosus vem da fatia de 25% que ela tem na chinesa Tencent. Hoje a companhia se aproxima de um valor de mercado de US$ 800 bilhões.
Assim como disse enxergar potencial de valorização da Tencent, Fabrício disse acreditar no potencial de crescimento na América Latina e na criação de empresas que valem mais de US$ 100 bilhões a partir da região. “Tecnologia nos Estados Unidos e na China criou quase US$ 20 trilhões nos últimos anos. Mas a gente não tem Big Techs que nasceram na Índia e na Europa. Então o que falei foi vamos criar grandes grupos US$ 50 bilhões ou US$ 100 bilhões nessas três regiões. Estamos investindo para isso”, afirmou.
Perguntado sobre o aumento da competição no mercado dos aplicativos de entregas com a chegada da Keeta/Meituan e a volta da 99 ao segmento, Fabrício disse que dá boas-0vindas À competição. “Já tivemos vários competidores no passado e estamos animados para continuar competindo e entregando mais”, comentou.
Para Diego Barreto, os movimentos podem mudar alguma coisa no âmbito tático, mas não o direcionamento da companhia como um todo. “Competição é competição. Sempre vai ser assim. O grande ponto é o que você tem de prioridade quando a competição chega. Se você muda as suas prioridades por causa da competição, é um claro sinal de que você não se preparou para estar muito bem. No nosso caso não é isso. A cabeça continua no desenvolvimento de produto, crescimento a partir da montagem do ecossistema e levando as principais fortalezas que trouxeram a empresa até aqui para um outro patamar”, disse.