Para a Humora, criar uma marca com produtos diferenciados para o mercado nacional de cannabis foi apenas o primeiro passo. Com a aquisição de um laboratório próprio nos Estados Unidos, agora a companhia está expandindo a sua estratégia, inclusive apostando no B2B como um novo motor de crescimento — e entrando no radar de grandes marcas nacionais como o Boticário.
Fundada pela empresária Ana Júlia Kiss em 2022 (a partir de uma história super interessante que a gente contou aqui), a Humora fechou em março a aquisição do laboratório californiano Nu Bloom Botanicals. Segundo Ana, a compra foi um movimento espontâneo da companhia, já que a Nu Bloom era a responsável pela manufatura dos produtos que a Humora importava para o mercado brasileiro.
“Tínhamos uma relação próxima com o laboratório e negociamos por um tempo se faríamos uma fusão ou uma compra do laboratório. No fim das contas, vimos uma oportunidade muito grande na linha do private label, ajudando marcas a desenvolver produtos diferenciados para este mercado. E, no fim das contas, eu adoro estar no laboratório — é um negócio que me empolga muito”, diz Ana, em conversa com o Startups, fazendo menção ao seu histórico na indústria química, onde trabalhou antes de fundar a Humora.
Antes do M&A, o laboratório — agora nomeado White & Bloom Labs — atendia cerca de 8 clientes, entre eles a Humora. Agora, o plano da companhia é expandir essa base. A tese do B2B é trabalhar com lotes de 200 a 500 unidades, abrindo o mercado para marcas menores. “Na maioria dos laboratórios que fazem white ou private label, o pedido mínimo é de milhares de unidades, o que limita muito para players menores”, destaca a CEO.
Com essa estratégia, o plano da Humora é chegar a 20 clientes até o fim do ano, atendendo tanto marcas brasileiras quanto do mercado norte-americano. “A gente agora está nessa super jornada de abrir tanto para clientes americanos. Queremos inspirar novos entrantes no mercado, trazendo o know-how, o maquinário. Queremos ajudar empresas a ficarem grandes a ponto de comprar o terceirista, como nós fizemos. Vai que alguma marca nossa fique gigante no mercado a ponto de nos comprar no futuro?”, brinca a executiva.
E a Humora?
Segundo Ana, mesmo em um mercado regulado como o brasileiro, a Humora registrou números notáveis em 2024, faturando cerca de R$ 850 mil com seus produtos, ficando no Top 20 de marcas nacionais. Entretanto, com a entrada no B2B, a expectativa é que a empresa bata a marca dos R$ 3 milhões em 2025.
Com a entrada no B2B, contando com um laboratório próprio, a expectativa de Ana é que a Humora tenha ainda mais “gás” para crescer no mercado brasileiro. “Essa entrada no private label nos dá acesso a contratos maiores, mais dinheiro, ocupa minha planta, reduz custos e ajuda a colocar a Humora numa posição confortável para inovar, criar produtos melhores e mais competitivos. Não vamos ‘escantear’ a Humora — foi ela que nos trouxe a esse patamar, e estamos crescendo bem no Brasil, viu?”, dispara a CEO.
E por falar em crescimento, a evolução da Humora no mercado brazuca chamou a atenção de uma gigante local. A startup foi selecionada pelo Boticário para seu programa de aceleração, mostrando que a fabricante de produtos de bem-estar está de olho em futuras oportunidades da cannabis em uma eventual abertura do mercado para o uso cosmético dessas substâncias.
“Acho um sinal muito importante para o mercado de cannabis, que até o momento ainda vê os produtos como medicamentos. Existe uma preocupação muito grande quanto a isso, da possibilidade de ele virar algo concentrado nas farmacêuticas, limitando o uso da cannabis para diversas outras finalidades. Isso não pode ter monopólio, não pode ter patente”, pontua Ana.
Apesar da parceria de aceleração com o Boticário, Ana acredita que o caminho brasileiro até uma futura abertura do mercado de cannabis será uma jornada longa — então, é melhor esperar sentado por uma cerveja com infusão de THC ou um protetor labial com CBD num futuro próximo. Entretanto, segundo Ana, ter empresas não farmacêuticas interessadas pode ser um passo importante nessa direção. “O Boticário não é só a loja deles, tem outras marcas. Eles estão olhando em diversas direções para onde o mercado pode caminhar”, finaliza.