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CODEX: Crise na startuplândia

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Olá,

A primeira semana do ano foi bem agitada. A rodada de investimento da Knewin ficou marcada como a primeira do ano e Creditas e Ripio deram o tom das movimentações das empresas no mundo do M&A com a compra da Bcredi e da BitcoinTrade, respectivamente. A MadeiraMadeira também ganhou o status de mais novo unicórnio verde-amarelo, com uma rodada de US$ 190 milhões.

Mas o que mexeu com o mercado mesmo foi o posto do ex-presidente da ABDI, Guto Ferreira, atacando a Abstartups e o que ele chamou de “egossistema”. Na mensagem, ele falou sobre a prestação de contas do patrocínio ao CASE de 2018 feito pela agência, na qual foi detectada a adulteração de valores em boletos referentes a gastos com agência de marketing e locação do espaço. Em documentos obtidos pelo Startups, a ABDI não fala em fraude, só em “graves irregularidades”. A agência e a associação fizeram um acordo no fim de 2019 no qual foi pago um valor de R$ 625 mil (R$ 550 mil da devolução do dinheiro do patrocínio mais R$ 75 mil de multa e juros). Os envolvidos diretamente no caso deixaram a associação no fim daquele, segundo seu ex-presidente, Amure Pinho.

Boa leitura e boa semana.

Gustavo Brigatto
Fundador e Editor-Chefe

 


Rinha de startupeiro

O começo do ano ganhou uma pimenta adicional com uma postagem do ex-presidente da ABDI, Guto Ferreira, falando sobre uma fraude na prestação de contas da Abstartups referente ao patrocínio ao CASE de 2018. A análise feita pela ABDI detectou que boletos enviados pela Abstartups para justificar gastos com agência de marketing e com a locação do espaço para o evento foram adulterados para apresentar valores diferentes dos originais – bem mais altos. Pelos documentos a que o Startups teve acesso, apesar da adulteração ter sido constatada, o assunto não foi tratado como fraude, mas como grave irregularidade pela agência. Um acordo entre as partes foi feito e a Abstartups pagou R$ 625 mil para encerrar o assunto – R$ 550 mil referentes à devolução do patrocínio e R$ 75 mil de multa e juros. A associação ainda ficou proibida de receber recursos da ABDI por um prazo de dois anos. O ex-presidente da Abstartups, Amure Pinho, disse que fraude foi foi feita e que os envolvidos deixaram os quadros da associação no fim de 2019. Os associados foram informados do acontecido em assembleia no fim de abril.

Tá, mais e daí?

À parte de toda a discussão sobre o “egossistema” trazida pelo Guto, o fato de pessoas de dentro da Abstartups terem cometido uma fraude que foi comprovada, e causou prejuízo para a associação, causa bastante perplexidade. Causa ainda mais estranheza o fato de a punição aos envolvidos ter sido apenas ser desligado da associação. Em que termos se deu isso? Com justa causa, ou com o pagamento de verbas rescisórias? O ocorrido pode não ter resultado em nenhuma ação por danos da ABDI, mas o fato de assunto não ter rendido uma punição mais exemplar aos envolvidos pesa contra a transparência e a governança da Abstartups. Especialmente pela proposta das startups de serem agentes de mudança do mundo. Esse definitivamente não é um bom exemplo.


O banco do Rappi

O Rappi anunciou o lançamento do RappiBank. O braço de serviço financeiro do aplicativo vai oferecer contas para os estabelecimentos cadastrados na plataforma e também para consumidores, com cartão de crédito e empréstimos ao longo de 2021. O Rappi já tinha uma carteira digital, a RappiPay, que podia ser usada para pagamentos pelo aplicativo e em estabelecimentos credenciados.

De acordo com a companhia, ela não precisa de nenhuma autorização para oferecer seus serviços no momento (para crédito ela atua como correspondente bancário). Mas ela já pediu licença para operação por conta dos serviços para empresas.

Em resposta ao anúncio do Rappi, o iFood disse que sua conta digital, lançada em novembro, já emprestou R$ 100 milhões.

Tá, mas e daí?

O Rappi está investindo pesado para ampliar suas áreas de atuação. Já são 11 segmentos, incluindo entrega de comida e viagens. OS serviços financeiros parecem uma expansão natural tendo em vista a grande base de usuários e a possibilidade de gerar mais receita com eles. A estratégia de diversificação também seria uma forma de tomar espaço em áreas ainda pouco atendidas por concorrentes diretos. Mas na velha metáfora do pato, que nada, voa e anda, mas não faz nada direito, a diversificação excessiva, sem o domínio completo de nenhuma categoria parece um caminho não muito saudável.


Rodadas de investimento

  • A MadeiraMadeira se tornou o primeiro unicórnio brasileiros de 2021 ao anunciar uma rodada de US$ 190 milhões e deu sinais de que pretende fazer uma IPO em breve. O investimento foi co-liderado pela SoftBank (que investe na companhia desde 2019) e pela gestora Dynamo, que entrou no captable agora. Também chegaram VELT Partners, Brasil Capital e a Lakewood Capital. O Bank of America Securities atuou como assessor exclusivo da transação. Os recursos serão usados para investimentos em tecnologia, logística ponta a ponta, expansão das lojas físicas, experiência do cliente e fusões e aquisições estratégicas, segundo a companhia. A MadeiraMadeira afirma ter crescido dez vezes nos últimos 5 anos e mais de 100% nos últimos doze meses.
  • A Knewin recebeu um aporte de R$ 40 milhões da Oria Capital, do Paulo Caputo. É a terceira captação da companhia fundada em 2011. Ela já tinha levantado R$ 16,5 milhões com a KPTL e a Invisto. Os recursos serão usados principalmente para aquisições de empresas que vão complementar seu portfólio de produtos. A Knewin já comprou 11 empresas, sendo a operação mais recente a da Armazén Digital, com atuação no setor público.
  • A hrtech mineira Vulpi, especializada no recrutamento de profissionais da área de tecnologia, levantou uma rodada de R$ 1 milhão pela plataforma de equity crowdfunding CapTable. A campanha foi lançada no fim de outubro.
  • Para acelerar os planos de se tornar a assistente financeira das empreendedoras brasileiras, a HerMoney acaba de fechar uma rodada de R$ 600 mil feita com o apoio da Wishe, grupo de investimento focado em startups lideradas por mulheres. Foi a segunda captação feita pela Wishe em seus 2 anos de vida. A primeira foi a rodada de R$ 1 milhão da Amyi, que teve participação da GVAngels. Metade dos recursos serão usados para desenvolvimento do produto. A companhia tem atualmente 5 pessoas – contando com Andrezza Rodrigues e sua sócia, Beatriz Furtado. Agora em janeiro, mais 4 se juntam ao time. O objetivo, segundo Andrezza é chegar a 500 usuárias ao fim de 2021 e 10 mil em 2024.

Aquisições

  • Depois de levantar uma rodada de US$ 225 milhões e se tornar o terceiro unicórnio brasileiro nascido em 2020, a Creditas anunciou a compra da curitibana Bcredi. A operação, cujo valor não foi revelado, tem como objetivo reforçar a atuação da Creditas no segmento de financiamento imobiliário com garantia, sua área original de atuação – hoje ela atua também com automóveis e crédito consignado. Maria Teresa Fornea Caron, fundadora da Bcredi, se tornará a vice-presidente de crédito da Creditas e a marca da companhia continuará existindo.
  • A argentina Ripio comprou a exchange brasileira BitcoinTrade. A operação não teve o valor revelado. O valor da operação não foi divulgado. Com a operação, a Ripio passa a ter 1,3 milhão de clientes, sendo metade no Brasil, formando a segunda maior exchange do Brasil e da América Latina em número de clientes. Os negócios são complementares porque o principal produto da Ripio é a carteira, enquanto a BitcoinTrade está mais focada na negociação das criptomoedas. A BitcoinTrade foi fundada em 2017 por Carlos André Montenegro (ex-Sephora).
  • A Roku – dona do dispositivo que agrega serviços de streaming que parece uma bobeira, mas é bem legal – anunciou a compra do direito de transmissão dos conteúdos da finada Quibi. O valor da operação não foi revelado. O conteúdo será colocado no canal Roku Channel sem anúncios. A companhia diz ter chegado a 61,8 milhões de espectadores no 4º trimestre de 2020.
  • A Hopin, concorrente inglesa do Zoom, anunciou a compra do serviço de transmissões ao vivo StreamYard. O valor da operação foi de US$ 250 milhões pago em dinheiro e ações. A Hopin apresentou um crescimento acelerado por conta da pandemia. Em junho ela tinha captado US$ 40 milhões. Em novembro, ela levantou maus US$ 125 milhões com um valuation de US$ 2,12 bilhões.
  • O Twitter anunciou a compra do aplicativo de podcast Breaker. O valor da operação não foi revelado. O anúncio acontece poucos dias depois de a Amazon ter fechado a aquisição do Wondery por US$ 300 milhões.

Totvs e Locaweb na disputa pela Resultados Digitais?

  • A Totvs e a Locaweb estariam em uma disputa para levar a Resultados Digitais. O valor da oferta pela empresa de Florianópolis seria de R$ 1 bilhão. Isso significa que o negócio está sendo negociado a um múltiplo de 4,4x receita. Ao contrário do que diz a matéria, a receita da RD é de R$ 225 milhões, não de R$ 150 milhões. O Startups apurou que a companhia de fato contratou o Morgan Stanley para avaliar a possibilidade de um IPO ou de uma nova captação. Segundo fontes, a RD praticamente não gastou os recursos da captação feita em 2019 com a Riverwood Capital, então não precisaria de recursos no momento. O múltiplo de 4,4x parece baixo para a empresa que é tida como um possível unicórnio brasileiro, e está um pouco acima do que as duas companhias listadas na B3 costumam pagar em suas aquisições, mas faria sentido gastar um pouco mais em um negócio desse tipo. Ainda mais para a Totvs, que precisa fazer um movimento relevante após ter perdido a briga pela Linx para a Stone. A questão é se os fundos vão aceitar esse valor.

União Europeia estreia em venture capital

  • A União Europeia anunciou investimento direto em 42 startups do continente. Elas vão receber entre 500 mil libras e 15 milhões de libras, por participações de 10% a 25%. Até agora, 178 milhões de libras foram aplicados. A ideia é estimular a competitividade do setor de tecnologia na região.

De gestora a fintech

  • A DXA Invest está colocando no ar uma nova plataforma que vai permitir aportes em private equity a partir de R$ 50 mil. “Queremos ser uma Warren para private equity, para que qualquer pessoa do Brasil e no mundo possa investir”, conta Oscar Decotelli, presidente da gestora. A ideia não é funcionar como um crowdfunding, com as empresas se candidatando a campanhas de captação. A proposta é manter o perfil de buscar as oportunidades que se encaixem nas teses dos investidores.

A nova onda de Marcio Kumruian

  • Cinco meses depois de entregar a integração da Netshoes ao Magazine Luiza e deixar o varejista, Marcio Kumruian apresentou sua nova empreitada: a ZiYou, de aluguel de equipamentos esportivos. São 33 grupos de equipamentos novos ou seminovos (entre bicicletas ergométricas, estações de musculação etc.) com planos a partir de R$ 149. Os equipamentos são entregues no endereço do cliente, com a manutenção a serviço da empresa. As fabricantes nacionais Movement e Kikos fornecerão os equipamentos. Os assinantes também terão acesso à Weburn e à BFlix, para orientação nos exercícios. Outro público-alvo são os condomínios.

Mercado Livre quer US$ 1 bilhão

  • A agência de classificação de risco Moody´s soltou material dizendo que o Mercado Livre pretende levantar US$ 1 bilhão em dívida. O dinheiro será usado para refinanciar pendências antigas e investimentos corporativos

Franquias

  • O aplicativo Apptite, que conecta chefs de cozinha a quem quer comer pratos feitos especialmente para eles, lançou o modelo de franquias. O aplicativo que concorre com iFood e Rappi, tem operação apenas em São Paulo e chegou a 130 mil pedidos por mês durante a pandemia.

AliExpress para vendedores brasileiros


Vaga na Cornershop (an Uber Company)


Por onde anda Jack Ma?

  • Essa é uma pergunta de alguns bilhões de dólares (ou trilhões já que tem um alto componente geopolítico). O empresário não é visto em público desde que fez comentários críticos aos reguladores chineses – declarações, aliás, que levaram à suspensão do IPO da Ant Financial, que deveria ter sido a maior abertura de capital da história. O sumiço do bilionário deu espaço para a criação de teorias de conspiração e de memes.

Apps chineses banidos nos EUA

  • Em seu isolamento – voluntário, ou dentro de alguma prisão do governo chinês? – Jack Ma não deve ter visto a decisão do governo dos EUA de proibir o uso de diversos aplicativos chineses por americanos. Na lista estão Alipay, CamScanner, QQ Wallet, SHAREit, Tencent QQ, VMate, WeChat Pay e WPS Office. O TikTok, que esteve no centro da briga dos EUA com a China no longínquo 2020, não foi incluído.

Queremos nossos direitos!

  • Um grupo de funcionários da Alphabet (dona do Google) montou um sindicato para representar seus interesses nas negociações com a empresa. Até agora, 226 dos 220 mil empregados diretos e terceirizados da companhia se juntaram à iniciativa.

Fim do sonho (se saúde a custo mais baixo)

  • A Haven, startup de saúde criada por Amazon, Berkshire Hathaway e JP Morgan chegou ao fim depois de apenas 3 anos de vida. E não dá pra dizer que foi por falta de dinheiro, ou por capacidade dos sócios. Parece que consertar o sistema de saúde não é, de fato, uma tarefa simples!

Slack down

  • Depois da Amazon e do Google, o Slack também resolveu ficar um tempo fora do arv na semana passada. Foram só 2 horas e meia, mas o suficiente para deixar muita startup de cabelo em pé (eu fui um já que o canal dos assinantes do Startups está lá). Lembrando que o Slack foi comprado pela Salesforce pela bagatela de US$ 27,7 bilhões exatamente com o mote de ajudar empresas a aumentarem a sua produtividade. A causa do problema não parece ter sido identificada – ou pelo menos não foi anunciada pelo Slack.

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