Boa tarde,
A penúltima edição do CODEX no ano traz como principal destaque o nascimento do mais novo unicórnio brasileiro: a Creditas. A rodada de Série E de US$ 255 milhões liderada pela LGT Lighstone avaliou a fintech em US$ 1,75 bilhão. Isso significa que a companhia adicionou a seu valuation US$ 1 bilhão desde a rodada anterior, liderada pela SoftBank, em julho do ano passado. Com isso, o Brasil fecha o ano tendo gerado mais três unicórnios: Loft (em janeiro), VTEX (em setembro) e Creditas (dezembro). E não, C6 não entra na conta (pelo menos não ainda).
A semana passada começou com o Google tentando imitar a Amazon e deixando seus serviços fora do ar por algum tempo. O mundo ficou em transe, achando que 2020 chegava ao fim com o pior dos desfechos possível: sem YouTube!!! Por outro lado, sem reuniões virtuais pelo Meets, o que poderia ser uma boa coisa. Mas foram só 45 minutos.
E para fechar o ano sem pendências, teve muita coisa ainda sendo anunciada tanto no lado dos investimentos quanto nas fusões e aquisições. A Locaweb, por exemplo, apresentou sua quinta do ano, a Melhor Envios. Teve ainda o IPO da Neogrid e a aprovação do texto do Marco Legal da Startups pela Câmara e seu envio para o Senado. Será que votam antes do recesso?
Boa leitura e boa semana curta.
Gustavo Brigatto
Fundador e Editor-Chefe
CREDITAS
Pouco mais de um ano depois de receber um aporte de US$ 231 milhões liderado pela SoftBank, a Creditas fechou um novo investimento. Na Série E liderada pela LGT Lightstone, a fintech levantou US$ 255 milhões. Também entraram na rodada a Tarsadia Capital, Wellington Management, e.ventures e Advent International, via sua afiliada Sunley House Capital. Os acionistas atuais SoftBank Vision Fund 1, SoftBank Latin America Fund, VEF, Kaszek Ventures e Amadeus Capital Partners também colocaram recursos.
Junto com a rodada a companhia abriu alguns de seus indicadores mais recentes:
Resultados consolidados trimestrais
Em R$ milhões | Q3-2020 | Q3-2019 | 9M-2020 | 9M-2019 |
Portfolio crédito | 1,039.9 | 534.7 | 1,039.9 | 534.7 |
Originação crédito | 227.2 | 162.4 | 591.2 | 342.1 |
Receita | 78.8 | 54.8 | 232.1 | 111.9 |
Margem contribuição | 42.6 | 34.1 | 124.2 | 58.2 |
Margem / Receita (%) | 54.0% | 62.2% | 53.5% | 52.0% |
Resultado | -40.5 | -74.9 | -129.4 | -133.1 |
Evolução receita anual (R$ milhões)
Tá, mas e daí?
A “unicornização” da Creditas não é exatamente uma surpresa. Ela já estava na conta há uns dois anos, pelo menos. E como a companhia tinha levantado dinheiro com valuation de US$ 750 milhões ano passado, já era esperado que o status de unicórnio viesse na rodada seguinte. Ter esse selo é importante no momento em que a companhia busca acelerar sua expansão fora do Brasil, começando com o México. Os números apresentados pela companhia mostram evolução de receita e rentabilidade, mas ainda não são nada impressionante demais diante do tamanho do mercado de crédito no Brasil e na própria América Latina. A ver como ela vai se sair para ampliar isso e virar, de fato, um player relevante.
Dois fatos interessantes. A rodada dá à companhia um peso ainda maior no portfólio da VEF, chegando a quase 45% do valor do ativo da gestora sueca que também investe no GuiaBolso – mais que os 38% que representava anteriormente. A VEF colocou na Creditas US$ 170 milhões dos US$ 570 milhões que ela captou ao longo de sua história. A rodada também coloca a SoftBank na liderança do ranking de criadores de unicórnios na América Latina. Em 2020, foram 3 das 5 empresas.
PROBLEMA NO GOOGLE
A segunda-feira 14 de dezembro começou como qualquer outra da epidemia – sem grande diferença em relação a qualquer outro dia, mas com expediente comercial. O que assustou muita gente foi o fato de os serviços do Google não estarem funcionando. WhatsApp, Twitter e outros meios de comunicação foram à loucura com o volume de mensagens de pessoas querendo entender o que estava acontecendo. Por sorte, tudo se resolveu rapidamente. Em 45 minutos, tudo estava de volta ao normal. Segundo o Google, uma atualização malfeita no seu sistema de autenticação de usuários foi a responsável pelo problema.
Tá, mas e daí?
Acho que vale aqui o mesmo comentário que fiz sobre o problema da Amazon há duas semanas: o mundo está dependendo demais da nuvem achando que ela não quebra. Mas ela quebra!
PERSPECTIVAS 2021
- Já estão disponíveis para os assinantes as gravações das conversas com Thiago de Aragão, da Arko Advice, e Felipe Mendes, da GfK, que rolaram na segunda (14) e na quinta (17). Spoiler: na geopolítica, mantenha as expectativas não tão altas. No consumo, mantenha as coisas simples.
RODADAS DE INVESTIMENTO
- O marketplace de carros usados Carflix concluiu sua rodada de investimento de Série A que estava aberta desde janeiro com a entrada do Meli Fund, do Mercado Livre. Ao todo, a companhia levantou R$ 15 milhões na rodada liderada pelo BV.
- A Paketá Crédito, que atua com crédito consignado privado, levantou uma rodada seed de R$ 9 milhões com a Shift Capital (que já investiu na Kovi e na The Coffee).
- A Vuxx, um marketplace de transporte de cargas que está processando a chinesa Lalamovepor roubo de informações estratégicas, um aporte de R$ 2,5 milhões da BR Angels e de outros investidores-anjo. A companhia já captou R$ 5 milhões desde sua fundação em 2016. Os novos recursos serão usados em ações de aquisição de novos clientes, updates em seu software proprietário de roteirização e no aprimoramento de seus algoritmos de inteligência artificial. A companhia também pretende ampliar sua atuação para outros estados, começando por Belo Horizonte (MG). Hoje ela tem atuação mais forte na Grande São Paulo, Baixada Santista, Ribeirão Preto e São José do Rio Preto.
- O ator Gobal Caio Castro fez um aporte de valor não revelado na marca de acessórios e roupas masculinas Key Design. Ele se tornará diretor de criação da marca;
- A Iporanga fez um aporte de R$ 3,6 milhões na FLOKI Technologies, startup de inteligência artificial focada em automatizar todo o processo de compras da indústria de food service criada em março. A rodada contou ainda com a participação de investidores-anjo, fundadores de startups como Viva Real, Olist, Guiabolso e Apontador. Os recursos serão direcionados para a consolidação do produto e o desenvolvimento comercial.
- A Wuzu concluiu uma rodada de investimento de R$ 1,7 milhão feita pelo site de equity crowdfunding CapTable;
- A Squadra Ventures, do Guga Stocco, recebeu um aporte de R$ 10 milhões para ampliar suas operações
- A bolsa de valores de tênis StockX levantou US$ 275 milhões em sua rodada de investimento de Série E. A operação liderada pela Tiger Global avaliou a companhia em US$ 2,8 bilhões (post money) e a colocou na rota para um IPO em 2021.
NOVO FUNDO
- A The Bakery e a Prana Capital se juntaram para montar um novo fundo de US$ 5 milhões. O objetivo principal é aportar recursos em startups estrangeiras que tenham interesse em vir para o Brasil para atuar no mercado B2B. Mas companhias brasileiras também estão no radar.
AQUISIÇÕES
- A Locaweb anunciou a aquisição da Melhor Envio – quinta operação feita pela companhia no ano e a segunda apresentada em menos de uma semana. O negócio é mais um reforço para a operação de comércio eletrônico da Locaweb e mais um movimento no mercado de logística – que teve os investimentos acelerados durante a pandemia por conta do aumento nas compras on-line. O negócio de R$ 83 milhões foi o 4º exit da ACE no ano e também foi uma saída da Bossa Nova.
- O Grupo SBF, dono da Centauro, comprou, por R$ 60 milhões, a Network Participações, dona dos canais Desimpedidos, Acelerados, Fatality, Falcão 12 e outros 80 afiliados que juntos somam 73 milhões de inscritos no YouTube e 81 milhões de seguidores no Instagram. O movimento no mundo do conteúdo é semelhante ao da compra do Canaltech pelo Magalu, em agosto;
- A Ser Educacional comprou a startup mineira Beduka. O valor da operação não foi divulgado, mas faz parte de um plano de investimento de R$ 150 milhões em 2021 anunciado pelo grupo educacional;
- A empresa de conteúdo Take4Content, comprou por R$ 2 milhões uma fatia de 20% no aplicativo Farmazon, uma espécie de iFood dos remédios;
- O Grupo A, que tua na área de educação, anunciou a aquisição da Jaleko, startup carioca que oferece educação continuada para médicos e estudantes de medicina. O valor da operação não foi revelado, mas avaliou a Jaleko em R$ 40 milhões.
- O Inter comprou 60% da Meu Acerto, focada em renegociação de dívidas e cobrança. A compra, ainda depende de aprovações regulatórias e acontece um mês após o anúncio da aquisição de 45% da Granito, empresa do mercado de adquirência.
- A Ingresse fez um acquihire do aplicativo de relacionamento para pessoas que vão a um mesmo evento Poppin. O valor do negócio não foi revelado.
- O FIP XP Private Equity, gerido pela XP Asset, anunciou a aquisição de participação minoritária na Pottencial Seguradora, empresa focada na modalidade de seguro garantia e uma das principais seguradoras no mercado de fiança locatícia. A empresa atua também nos segmentos de seguro residencial, risco engenharia e riscos diversos. O investimento, de R$ 275 milhões, será utilizado para suportar a expansão do portfólio da companhia para novas modalidades de seguro e a aceleração da estratégia tecnológica para contratação de seguros.
IPOs
- Na onda da valorização de mais de 200% do Bitcoin em 2020, a Coinbase, maior exchange de criptomoedas dos EUA, entrou com pedido de IPO na semana passada; em sua última rodada de investimento, a empresa foi avaliada em US$ 8 bilhões. A plataforma permite a negociação de mais de 40 moedas diferentes, possui 35 milhões de usuários cadastrados e já negociou mais de US$ 30 bilhões em ativos e goi avaliada em US$ 8 bilhões em sua mais recente rodada;
- A Neogrid fez o último IPO do ano no Brasil e levantou R$ 486,5 milhões.
MARCO LEGAL NO SENADO
- A Câmara dos Deputados aprovou o texto do Marco Legal da Startups e mandou a matéria para avaliação do Senado.
MAIS QUE UMA CONTA SIMPLES
- Nascida ano passado, a Conta Simples recebeu uma rodada seed de US$ 2,5 milhões com o plano de se tornar mais do que um banco digital para empresas. A ideia é virar uma plataforma de gestão para o mundo corporativo – e talvez até mude de nome por conta dessa visão mais ampliada.
VIDA FORA DA MOVILE
- Pouco mais de um ano depois de deixar o guarda-chuva da Movile, onde esteve entre agosto de 2014 e outubro de 2019, a LBS Local – dona do Maplink e do Apontador, faz planos para um feliz ano novo em 2021: chegar a uma receita de R$ 100 milhões, um crescimento de cerca de 20% que representa o maior patamar da história do grupo.
LIBERDADE FINANCEIRA
- A Fiduc, de gestão de investimentos no modelo fiduciário (em que a remuneração é feita com base na valorização dos ativos do cliente, não nas operações de investimento), lançou o aplicativo Liberdade Financeira para planejamento de metas e objetivos. A ideia é ajudar a companhia a ampliar sua base de clientes e atingir o objetivo de ter R$ 1 bilhão de ativos sob gestão em 2021 – três vezes mais que os R$ 320 milhões atuais.
O NETFLIX DA SAÚDE DO FLEURY
- O laboratório Fleury apresentou um serviço de saúde vendido diretamente por ele. No Netflix da saúde, a rede vai oferecer, por um valor fixo mensal, uma quantidade limitada de consultas por telemedicina, de atendimentos de atenção primária, alguns exames e desconto em outros que não estão incluídos no pacote. Com a estratégia direct to consumer (D2C), o Fleury reduz sua capacidade de atendimento e reduz sua dependência dos planos de saúde. O preço do pacote que começa a ser vendido em janeiro ainda não foi revelado.
O CARRO ELÉTRICO DA AMAZON
- Seis meses depois de ser comprada pela Amazon por mais de US$ 1 bilhão, a Zoox apresentou oficialmente seu carro autônomo elétrico. Ele tem capacidade para 4 pessoas e funciona por 16 horas sem ser carregado. A ideia não é vender o veículo, mas sim colocá-lo em uma rede de transporte urbano que ainda não tem data para começar a operar. A ver ainda como a companhia de Jeff Bezos vai usar a tecnologia da Zoox
FALTOU DA SEMANA PASSADA
- A Hyundai comprou por US$ 1,1 bilhão a fabricante de robôs Boston Dynamic – que já foi do Google e estava no portfólio da SoftBank;
- Oracle Moves Headquarters to Texas, Joining Valley Exodus
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- O comércio eletrônico na América Latina atingiu US$ 200 bilhões e é o segundo que mais cresceu em 2020, segundo estudo do EBANX.
- O Brasil tem hoje 842 startups voltadas para a área financeira, que acumulam um crescimento médio anual de 22%. As categorias de meios de pagamentos e crédito são as com maiores índices de crescimento, com avanços entre 22,25% e 27,11%. Desde 2011 elas receberam US$ 2,8 bilhões em aportes, segundo o Inside Fintech Report, do Distrito.
- A Visa liberou dados sobre o uso dos pagamentos por aproximação no Brasil: na comparação entre setembro do ano passado com o mesmo mês de 2020, o aumento no uso da modalidade com cartões da bandeira foi de quase 5x. Na comparação entre o 1º trimestre e o 3º trimestre de 2020, o avanço é de 2x. Em setembro, o cartão físico foi o meio mais comum com o qual as pessoas usaram a tecnologia. No mês, os segmentos que mais registraram transações por aproximação foram, nesta ordem: supermercados, restaurantes fast food, postos de gasolina, lojas de conveniência, padarias e farmácias. Na comparação entre o 1º e o 3º trimestres de 2020, os segmentos que tiveram o maior crescimento no número de transações por aproximação foram: lojas de departamento e atacados.
- A comunidade Anjos e VCs da JUPTER soltou o Mapa e as Rotas de Investidores de Startups no Brasil. O levantamento foi realizado com 128 players e mostra que 88,3% dos investidores estão ativos para aplicar capital em novas startups; 70,3% já estão investindo e gerando portfólio; 28,9% estão em processo de estruturação de novos fundos e 13,3% estão ativos para novos investimentos – contra 16,4% que estão desinvestindo e 1,6% inativos para novos investimentos. São 37 novos fundos de investimentos sendo estruturados hoje no país. O levantamento mostrou ainda que 39,8% fazem seus aportes em rodadas Seed; 15,6% em Pré-Seed; 14,8% em Series A, 12,5% em rodadas anjo e 11,7% em aceleração. A pesquisa também revelou que, atualmente, a fonte de recursos dos investimentos nas startups são de 71,7% dos proprietários, 47,5% de Family Offices e 30% de corporações.