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Com André Penha, IBBX quer ser padrão global de energia sem fio

Fundador e ex-CTO do Quinto Andar quer colocar tecnologia da IBBX em produtos de outras marcas com chips próprios como faz a Qualcomm

André Penha, cofundador do Quinto Andar, assume o comando da IBBX
André Penha, cofundador do Quinto Andar, assume o comando da IBBX

O cofundador e ex-CTO do Quinto Andar, André Penha, vai assumir, a partir de 1º de outubro, o comando da IBBX, empresa brasileira que desenvolve tecnologia de transmissão de energia sem fio. Ele assume o posto no lugar de Fernando Destro, fundador da companhia, com a missão de tornar a IBBX o padrão global da tecnologia. “É algo profundamente transformacional, que muda muito como o mundo funciona e possibilita tirar esse monte de fios de cima da mesa”, disse André em entrevista ao Startups.

Nascida em Capivari – 148 km de São Paulo – a companhia tem atualmente 70 funcionários e desenvolve um sensor usado para detectar falhas de formas preventiva em máquinas industriais. Com clientes como Votorantim, MWM, Embraer, Nestlé e Unilever, a IBBX tem patentes globais da tecnologia de transmissão de energia sem fios e uma lista de encomendas superior a R$ 250 milhões. No último trimestre a receita cresceu 14 vezes na comparação com o mesmo período de 2023.

Em oito anos, a companhia já captou mais de R$ 65 milhões com fundos como Alexia Ventures, Indicator Capital e DGF, além do Finep, uma agência pública de fomento à inovação criada pelo governo federal, CV Idexo (o CVC da Totvs) e a Citrino Gestão.

Energia sem fios?

A oferta da IBBX é composta pela venda no modelo de assinatura de um pacote de software que faz a leitura e interpretação dos dados coletados por um sensor desenvolvido e fabricado por ela. O equipamento é colocado em máquinas industriais sem a necessidade de cabos ou bateria para ser alimentado e faz a leitura das vibrações do equipamento para prever falhas.  

Em conversa com o Startups, o CFO da companhia, Bruno Rocha, contou que os equipamentos custam até R$ 600 para serem adquiridos. Já a mensalidade da assinatura sai por R$ 150 por cada transmissor conectado ao maquinário. Os preços variam de acordo com a aplicação e o cliente.

O sensor foi criado como um primeiro caso de uso da tecnologia desenvolvida por Fernando Destro. O que ele faz é colher e concentrar a energia elétrica dispersa no ar no formato de ondas eletromagnéticas usando o conceito da lente de fresnel. Hoje, essa operação opera em baixa potência e é capaz de oferecer 0,5 watt de potência, o suficiente para abastecer os sensores da companhia, acender uma lâmpada e até carregar um celular de forma lenta se ele não estiver em uso. André vê espaço para ampliar a quantidade de energia oferecida, mas não enxerga a tecnologia sem usada em alta potência equipamentos de grande porte, como uma geladeira ou um aparelho de ar condicionado.

Passos da expansão

De acordo com ele, o plano inicial é ganhar escala e relevância no segmento industrial para transformar a IBBX em uma plataforma e avançar para outros segmentos, como câmeras de segurança, portões e até a conexão de itens dentro de um carro. Além de clientes, o processo de crescimento vai envolver a atração de talentos globais em áreas como desenvolvimento de hardware e logística.

A avaliação é que toda essa jornada levará uma década para ser concretizada. Com parte dessa evolução, em um prazo de até dois anos, o plano é colocar no mercado um chip próprio desenvolvido pela companhia que poderá ser incorporado aos produtos de outras empresas. O equipamento será desenhado pela IBBX e fabricado na China ou em Taiwan como acontece com todos os componentes feitos pela Nvidia, Qualcomm e afins. Não há nenhuma ambição de montar uma indústria de chips no Brasil. “A impressão do chip é comoditizada. O que tem de diferente é a engenharia. E a engenharia do chip pode ser feita no Brasil”, defendeu.

Até o fim do ano a IBBX pretende montar um escritório em São Paulo para reforçar sua percepção como uma empresa bem estruturada e estar mais perto do mercado.

Do Brasil, sério?

Mas por que uma empresa brasileira conseguiria criar uma tecnologia que se torna um padrão global?

Para André, a primeira coisa é que ser, brasileira, ou não, não deve ser um aspecto. “Uma pessoa não compra um jato Phenom da Embraer porque ele é brasileiro, mas sim porque ele é o melhor avião”, reforçou. Mas os fatos de o Brasil ter tradição no setor de energia, tendo desenvolvido o motor a álcool nos anos 1970 – que os “jovens” hoje chamam de etanol – e contar com uma matriz hidroelétrica renovável em tempos de discussão de transição energética, sem dúvida ajudam.  

Outro aspecto é a vantagem tecnológica. Com patentes já registradas e concedidas, a IBBX tem uma dianteira que pode inibir a entrada de muita gente no jogo imediatamente. Quem quiser copiar a tecnologia certamente ser dará mal na Justiça.

O caminho que sobra é a criação de novas formas de fazer a mesma coisa. Aqui, André disse não se iludir de que isso não irá acontecer. “Toda tecnologia quando nasce primeiro abre o leque de competidores, depois você tem uma convergência”, avaliou. A questão é garantir que a tecnologia desenvolvida por ela gere o efeito de rede assim como aconteceu com o próprio Quinto Andar, e se torne um padrão como o Windows e o Mac ficaram nos computadores e o Android e o iOS se tornaram nos celulares.

Na avaliação de André isso tende a acontecer na medida que a companhia ganhar a disponibilidade e a escala desejadas em seu plano. Assim, ela não vai precisar bater na porta da Samsung para tentar colocar seus chips nos aparelhos da marca. São eles que vão procurá-la para incluir os componentes em seus produtos e oferecer essa comodidade aos consumidores.

Dos imóveis ao hardware (de volta)      

A chegada de André à IBBX parece inusitada e até mesmo aleatória. Mas tem um contexto interessante. Engenheiro da computação com especialização em criptografia, André fez um investimento na IBBX em 2019. O aporte foi um dos cinco que ele fez em companhias iniciantes nos últimos anos, e o que ele mais deu atenção e apoio. Por conta da relação próxima, Fernando o convidou a assumir o comando da companhia no fim de junho.

Naquele momento, André acabara de deixar suas funções no dia a dia do Quinto Andar, passando a ocupar apenas um assento no Conselho. A saída aconteceu pouco depois dele voltar de uma temporada de 14 meses no México, onde comandou a operação da Benvi, a marca criada para chegar ao país. “O processo de sucessão caminhou muito bem. Meus sucessores funcionaram sem mim. E isso acendeu uma luz. Resolvi dar um tempo pra mim”, disse André. Ele aproveitou para fazer um mini sabático de três meses com dedicação exclusiva ao filho recém-nascido e, em outubro, assume a nova função.

A mudança dos imóveis para o hardware depois de 12 anos é quase um retorno às origens para André. Entre 2007 e 2010, ele tocou a parte de software do Zeebo, um console de videogame direcionado a mercados emergentes que foi uma iniciativa da brasileira Tectoy com a Qualcomm. O projeto não deu certo e em 2012 ele fundou o Quinto Andar com Gabriel Braga depois de fazer um MBA em Stanford. “As pessoas me chamavam de doido porque eu não tinha nenhuma experiência no mercado imobiliário. Mas não conhecer era bom porque eu não ia fazer igual, ser mais um”, pontuou.