Resolver os aspectos de telefonia celular em uma startup pode ser uma tarefa um tanto complicada e burocrática, especialmente quando o negócio começa a ganhar escala. Para ajudar empresas a contratar e gerir estes serviços, a Salvy acelera seu modelo digital B2B com o apoio de anjos de renome e mira sua primeira rodada institucional ainda este ano.
Fundada este ano por Artur Negrão e Lucas Rosa, que se conheceram quando trabalharam na Ebanx, a Salvy começou a operar há cerca de dois meses e se posiciona como uma neotelco. A startup oferece planos de dados e telefonia, além de planos exclusivos para uso com WhatsApp Business, sem amarras ou penalizações para encerrar contratos, além de aluguel de aparelhos para empresas através de parcerias. Operando sob o modelo de MVNO (mobile virtual network operator, ou operadora virtual móvel), a empresa aluga a rede da TIM para fornecer seus serviços.
Com expertises nas áreas de negócio e tecnologia respectivamente, Artur e Lucas trabalharam em outras startups depois da Ebanx, como a Transfeera e a Remessa Online, e em paralelo, se reuniam semanalmente para discutir possíveis opções para empreender. Apesar de ambos terem experiência em fintech, detectaram uma oportunidade de negócio depois de uma frustração vivida por Lucas, que precisava adicionar dados ao seu plano corporativo enquanto trabalhava em um aeroporto, passou uma hora com o atendimento da operadora e mesmo assim não conseguiu o serviço.
“Tínhamos uma boa noção de como queríamos fazer uma empresa, cultura e tudo o mais, só estávamos procurando o que seria. O problema que o Lucas teve foi a faísca que querer resolver um problema tão óbvio, que é a contratação de planos de telefonia por empresas”, diz Artur Negrão, cofundador e CEO da Salvy, em entrevista ao Startups.
Além disso, também contou ponto os movimentos que a agência de telecomunicações Anatel tem feito, em áreas como sandbox regulatório e na promoção de flexibilidade para que MVNOs possam se plugar em mais de uma operadora. “Há também a questão do 5G, um salto tecnológico absurdo no mercado, que não é sempre que acontece”, diz Artur, acrescentando que a entrada da tecnologia de quinta geração deve trazer novos players como a gestora Pátria, uma das vencedoras do leilão de 5G que vai estrear a Winity, nova operadora que deve ofertar o espectro no atacado.
Como a Salvy saiu do papel
Para colocar a oferta inicial na rua, a Salvy contou com um aporte pré-seed de aproximadamente R$ 1 milhão de um grupo de investidores anjo que inclui Fiamma Zarife, country manager do Twitter no Brasil, que antes de se juntar à rede social passou vários anos no setor de telecomunicações em empresas como Claro, Oi e TIM.
“A Fiamma conhece muito sobre o setor e nos apresenta para muita gente. Através dela, acabamos conhecendo mais da realidade das operadoras, e ela sempre foi uma gestora de contas, então isso nos ajuda muito”, diz Artur, sobre o smart money que a executiva aporta. Além de Fiamma, a Salvy buscou trazer anjos com outras competências: no mix, tem pessoas cuja expertise está em vendas, outros trazem a experiência na atração de investimentos, e todos ajudam a empresa a expandir a base de clientes.
Outros anjos que investem na companhia incluem João del Valle, CEO da Ebanx, João Zaratini, fundador da ContaAzul e Ariel Lambrecht, que criou a 99 e é atualmente fundador do marketplace Mara. A Mara, aliás, é uma das clientes da Salvy, assim como outras startups como a HRtech Caju e a fintech Kamino. A carteira já conta com cerca de 20 clientes, que incluem outras empresas ditas tradicionais, de médio porte. Segundo Artur, a ideia é ter 100 clientes ainda este ano.
Neste ano a empresa também deve buscar sua primeira rodada institucional de alguns poucos milhões de dólares”, e já está em conversas com investidores no Brasil e de fora. Com um histórico inclui experiências em venture capital, Artur está otimista apesar do atual inverno de investimentos. “Está muito mais difícil levantar capital para growth do que para early stage, mas a gente já sentiu o efeito [da correção]. Chegamos a considerar levantar uma rodada pré-operacional, mas achamos melhor não fazer isso”, diz o fundador.
Segundo Artur, a Salvy também tinha um foco inicial de telefonia como benefício – modelo em que a empresa não dá uma linha corporativa, mas paga os custos de telefonia do funcionário – mas decidiu se concentrar em linhas corporativas, por conta da atenção de investidores a redução de custos e unit economics.
“O momento é difícil de fato, mas ao mesmo tempo, é um momento bom para começar negócios. É um mercado que está precisando de soluções que ajudem a passar por essa fase difícil, e nossa proposta é bem ideal nesse sentido. Além disso, estamos saudáveis financeiramente desde o começo e não estamos naquele caminho de crescimento a qualquer custo, e nos adaptamos à narrativa que o mercado espera”, ressalta o empreendedor.
Criando o SaaS da telefonia corporativa
Ao comentar sobre a oportunidade de mercado e o que o levou a fundar a Salvy, Artur diz que foi influenciado pelo fato de outros players estarem ganhando corpo com o modelo de MVNO, como a Fluke, operadora virtual que atende pessoas físicas. “Começamos a descobrir que muitas das dores das pessoas físicas eram absurdas, e muitas delas eram parecidas ou até piores entre pessoas jurídicas,” pontua o empreendedor.
Além disso, basta ter algumas dezenas de linhas ativas para os problemas surgirem. “Para cada nova linha, normalmente é preciso enviar um email para a operadora, criar um novo contrato, e o processo depende de várias autorizações internas. A gestão é complicada e existem casos até de pessoas que saem da empresa e continuam usando a linha corporativa, e tudo isso passa despercebido”, aponta Artur.
Não raro, telcos podem exigir contratos de 24 meses ou mais com empresas – o que é complicado no caso de, por exemplo, uma startup com um ano ou menos de vida, diz Artur. Além da flexibilidade contratual, a Salvy propõe usar a tecnologia a serviço do cliente. “A ideia é dar uma lógica de SaaS para a telefonia, dando uma liberdade e autonomia que as empresas não tem hoje. Ao invés de ter que conferir uma planilha que o RH manda a cada três meses para saber quem está com cada linha, trazemos uma interface onde é possível adicionar e remover usuários, checar faturas, o cliente consegue fazer muita coisa sozinho”, ressalta.
Com o novo aporte, a Salvy quer melhorar o dashboard, e investir em sua tecnologia com contratações na área de engenharia e produto. O time tem 10 pessoas e deve dobrar de tamanho até o fim do ano. Além disso, a ideia é expandir a área de vendas e olhar para estratégias de crescimento, pensando em possibilidades em torno da oferta de aparelhos. “Queremos ajudar outras fintechs por exemplo a venderem cartão de crédito, soluções de câmbio. Através de parcerias, seremos um canal para ajudar o empreendedor a achar os melhores serviços”, conclui.