CODEX

Com aquilo roxo

Codex preto
Codex preto

Bom dia,

Acostumado aos elogios, o Nubank certamente gostaria de esquecer a semana que passou. A declaração da fundadora Cristina Junqueira sobre diversidade pegou mal e o neobank teve que lidar com talvez sua primeira grande crise de imagem.

Sem entrar no mérito do que ela disse, a discussão e a tomada de medidas contra o racismo estrutural no país – que existe inclusive no mundo das startups, sim senhor – é de suma importância e urgente!

A semana ainda teve o envio do projeto do governo para o marco legal das startups para o Congresso, dois novos IPOs entrando na fila na B3 (Neogrid e Bemobi); BTG acirrando a briga no mundo dos investimentos com a compra da Necton (e a Magnetis querendo o dinheiro dos milionários); Maya Capital ampliando os recursos de seu fundo; a compra da Reserva pela Arezzo e o primeiro exit da Igah (gestora criada com a união da ebricks e da Joá) e muito mais. Em termos de rodadas de investimento, foram 7 anunciadas.

Para a semana, tem no cardápio os balanços de algumas das principais empresas de tecnologia do planeta (que os brasileiros podem aproveitar para ganhar em cima com a liberação das compras de BDRs) e a expectativa para o maior IPO do mundo, do braço financeiro do Alibaba, a Ant Financial.

Boa leitura e boa semana.

Gustavo Brigatto
Fundador e Editor-Chefe

 


Treta do Nubank

Em entrevista no programa Roda Viva, da TV Cultura, a cofundadora do Nubank, Cristina Junqueira, se envolveu em uma saia justa. Ao ser perguntada sobre diversidade, ela disse que o neobank tem se esforçado para fomentar a contratação de profissionais que tenham perfis diferentes do que as startups normalmente empregam, mas que o padrão da companhia é alto e não dá para “nivelar por baixo”.

A resposta foi considerada racismo e deixou as redes sociais em polvorosa, criando uma crise de imagem para a companhia, acostumada a ser a queridinha de todo mundo.

Ontem à noite os fundadores do Nubank soltaram uma carta pedindo desculpas pela declaração de Cristina e prometendo “avançar, dentro e fora de casa, com uma agenda de reparação histórica e de combate ao racismo estrutural”.

Tá, mas e daí?

Não vou comentar a declaração de Cristina. A questão é que o Brasil é um país racista e ponto final. Apesar do verniz de sociedade com mistura cultural e povo feliz e amigo, o que existe é a discriminação maior parcela da população: os negros e pardos, que representam mais de 56% dos 212 milhões de brasileiros. Isso sem contar as mulheres, que são 51% da população.

As startups que deveriam vir como forças de disrupção do status quo acabam repetindo esse mesmo status quo, seja de forma consciente ou inconsciente. Da conta não podem ser excluídos também os fundos de venture capital. Não é uma questão fácil de ser abordada e que muitos podem dizer que é algo mais geral, de país e não responsabilidade de empresas e investidores. Mas todos vivemos aqui e precisamos tomar ações para mudar essas questões.


Um marco bem legal para as startups

O presidente Jair Bolsonaro enviou ao Congresso o projeto de lei que trata do marco legal das startups. A movimentação encerrou uma expectativa de mais de um ano sobre o andamento da proposta, que também era alvo de um projeto de lei em tramitação na Câmara. As duas propostas já caminham em conjunto.

O objetivo do marco é simplificar algumas burocracias que atrapalham a vida das startups.

Tá, mas e daí?

Por não trazer pedidos de incentivo fiscal, que impactariam nas contas do governo, o marco legal tem grandes chances de andar rapidamente agora que começou a tramitar de verdade porque entra na proposta do governo de criar um ambiente de negócios menos ostensivo no país. Há algumas faltas no texto – como não entrar na tributação dos investimentos feitos em startups, ou não abordar a questão das stock options. Mas é melhor ter alguma coisa do que nada. Como diz o pessoal da Reserva: melhor feito do que perfeito.


Rodadas de investimento

  • A healthtech Sami recebeu uma rodada de R$ 86 milhões que teve como líderes a Valor Capital e a Monashees. A Redpoint e a Canary, que já investiam na companhia, acompanharam. Com a série A, a companhia soma R$ 90 milhões captados em dois anos de existência. A rodada vai servir pra que a Sami avance na estratégia de se firmar como um plano de saúde para empresas de pequeno porte e profissionais liberais. A lista de espera já foi aberta e o produto deve começar a ser vendido em São Paulo em novembro.
  • A marca de perfurmaria Amyi recebeu uma rodada de R$ 1 milhão liderada pela GVAngels que contou com a participação da Wishe, que faz investimento em iniciativas desenvolvidas por mulheres. A companhia – que quer fazer uma nova rodada no primeiro de 2022 – pretende usar os recursos para trazer lançamentos para o seu portfólio, avanços na jornada sensorial e educativa online, incremento do time e ações de growth hacking. Desde o lançamento em novembro de 2019, a Amyi diz ter vendido mais de R$ 400 mil e levado mais de mil “Experiências Amyi” e Kits Sensoriais para os consumidores, que incluem homens e mulheres. A companhia planeja uma rodada seed para o primeiro semestre de 2022.
  • A GVAngels também liderou uma rodada na edtech gaúcha Diário Escola. A rede de anjos da instituição de ensino aportou R$ 828 mil e outros investidores completaram a captação. Com os recursos, a startup pretende quadruplicar seu faturamento em um prazo de 3 anos. Criada em 2015, a Diário Escola atende 350 instituições de ensino. Por conta da pandemia, entre março e setembro ela aumentou suas vendas em 65%.
  • A insurtech Pier levantou US$ 14,5 milhões em um aporte liderado pela Monashees. A rodada ainda contou com a participação da Canary, do MELI Fund (do Mercado Livre) e do BTG. A rodada anterior da companhia tinha sido em março de 2019, quando ela captou US$ 7,6 milhões. A Pier começou com a venda de seguros par celulares e em 2020 entrou no segmento de veículos. A companhia tem 15 mil clientes no seguro para dispositivos móveis e tem meta de multiplicar sua base em 50 vezes nos próximos dois anos. A fila de espera hoje é de 100 mil pessoas.
  • A startup de organização de eventos Even3, que tem foco em eventos acadêmicos e corporativos, recebeu um aporte de R$ 4 milhões da DOMO. A meta da companhia criada em 2015 é crescer 150% ao ano.
  • A fintech BizCapital, anunciou uma extensão de sua rodada série B, recebendo mais R$ 20 milhões do fundo de investimento de impacto holandês Oikocredit. Com isso, a captação da companhia na rodada chegou a R$ 85 milhões. Os recursos serão usados no desenvolvimento de novos produtos e novos canais de distribuição.
  • A catarinense Asaas recebeu um aporte de R$ 37 milhões em uma rodada 37 liderada pelo Invobra Ventures, do Bradesco. A Parallax Ventures, que já era investidora da startup, também participou da rodada série B. Os recursos serão usados em marketing e vendas. Com 140 funcionários atualmente, a companhia pretende chegar a 300 até 2022.
  • Mais de uma década depois de começar a investir na América Latina a partir do Brasil, a Naspers está ampliando sua atuação região. Por meio da Prosus Ventures, o braço de investimento em companhias early stage de sua subsidiária Prosus, o grupo liderou uma série A de US$ 15 milhões no Klar, um banco digital com 200 mil clientes. Participaram da rodada o IFC, Quona Capital, Mouro Capital (antigo Santander Innoventures) e a aCrew, que já eram investidores da companhia. Ao todo o neobank criado em 2019 já levantou aproximadamente US$ 72 milhões em equity e dívida.

Aquisições

  • A disputa pelos investimentos dos brasileiros está ficando cada dia mais animada. O BTG anunciou da compra da Necton (corretora criada da união da Concórdia e da Spinelli no começo de 2019, que tem como economista-chefe a fonte queridinha dos jornalistas André Perfeito) por R$ 350 milhões. A Necton atua no segmento de alta renda e tem R$ 16 bilhões em ativos sob custódia. A marca será mantida e a operação da corretora será mantida independente.
  • A Igah, gestora criada com a fusão da bricks com a Joá, fez seu primeiro exit com a venda da Reserva para a Arezzo. Somando o histórico conjunto das duas gestoras, o número de saídas chega a 13. A operação de R$ 715 milhões (sendo R$ 457 milhões em ações e R$ 225 milhões em dinheiro) teve um múltiplo de 1,65x a receita de 2019 (R$ 435 milhões), ou 15x EV/Ebitda. As duas métricas foram calculadas levando em consideração sinergias. A Igah ficará com participação de 1% na Arezzo&Co. A expectativa é que o negócio seja aprovado pelo Cade entre o fim de novembro e o começo de dezembro.

Fundos

  • A gestora de investimentos Equitas lançou um fundo de investimento em venture capital, o EquitasVC. A operação é liderada por Felipe Masano (fundador da CentralFit e do Beleza na Web, que conseguiu exit nas duas companhias). O fundo que conta com recursos próprios já investiu em 4 companhias e pretende fazer cheques de R$ 500 mil a R$ 3 milhões – que podem ser maiores dependendo da necessidade da rodada, chamando outros coinvestidores.
  • A Maya Capital, da Lara Lemann e da Monica Saggioro, levantou mais US$ 15 milhões para seu primeiro fundo. Com o montante, o total captado chega a US$ 41 milhões. O fundo lançado em 2018 já investiu em 25 empresas.

Mais IPOs na fila

  • A Bemobi Mobile, focada na distribuição e monetização de apps, games e serviços digitais móveis para países emergentes, que tem como sócios o grupo norueguês Otello Corporation (antigo Opera Software) e o executivo Pedro Ripper, entrou com pedido para abertura de capital na B3. Nos nove primeiros meses deste ano, teve receita de R$ 108,217 milhões, com queda de 3,3% sobre igual período do ano passado. O lucro líquido foi de R$ 28,468 milhões, com expansão de 0,7%.
  • A Neogrid, do fundador da Microsig, Miguel Abuhab, também entrou com pedido de IPO. Os recursos da oferta primária serão usados para fusões e aquisições (80%) e investimento em pesquisa e desenvolvimento, marketing e vendas (20%). Nos primeiros nove meses deste ano, a Neogrid teve receita bruta de R$ 154,525 milhões, com lucro de R$ 8,579 milhões.

Se tá ruim pra eles, imagina para a classe média!

  • Quando eu falo que a disputa pelos investimentos dos brasileiros está animada. A Magnetis, que lançou sua corretora própria em julho, agora está de olho no dinheiro dos ricaços brasileiros. “Mesmo o cliente que tem mais de R$ 1 milhão em investimentos ainda é carente de opções e às vezes investe por meio do gerente do banco ou do assessor da corretora, com conflito de interesse”, disse o fundador e presidente da companhia, Luciano Tavares, ao Finsiders.

Fintechs (com o caixa) bombando

  • As fintechs brasileiras receberam R$ 5,58 bilhões em aportes no acumulado do ano até setembro, segundo levantamento feito pelo Transactional Track Record(TTR). O montante representa um incremento de 87% em relação aos valores registrados no mesmo período do ano passado.

Contratações

  • A fintech de pagamerntos iugu, que recebeu aporte do Goldman Sachs, está em processo de profissionalização da gestão. O fundador e até então presidente, Patrick Negri, assumiu a parte tecnológica da companhia. Para o comando dos negócios foi chamado Renato Ribeiro ex-conselheiro do Burger King Brasil e da Neoway, que também era investidor da iugu. Também se juntou ao negócio, como diretor financeiro e de relação com investidores, André Luiz Gonçalves, que possui 20 anos de experiência em empresas como JSL Logística e Fibria. A companhia tem como meta duplicar a carteira de clientes e a receita até o fim de 2021. Em 2019 foram R$ 40 milhões de faturamento.
  • A plataforma de equity crowdfunding EqSeed contratou Igor Monteiro para o cargo de diretor de negócios (Chief Business Officer, CBO).

ANPD liberada

  • O Senado aprovou na terça-feira (20) os nomes dos cinco membros da primeira diretoria da Agência Nacional de Proteção de Dados (ANPD). Eles já tinham sido liberados para assumir os cargos pela Comissão de Infraestrutura do Senado (CI), em sabatina na segunda-feira (19). Dos cinco nomes indicados pelo governo par assumir a ANPD, três são de militares, incluindo o presidente do órgão, Waldemar Gonçalves Ortunho Junior, que também é presidente da Telebras. Os outros dois (Arthur Pereira Sabbat e Joacil Basilio Rael) integram o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), ligado à Presidência da República (órgão ao qual se temia que a ANPD fosse subordinada). Também com ligação ao governo, foi indicada Miriam Wimmer, que atualmente é diretora de Políticas para Telecomunicações e Acompanhamento Regulatório no Ministério das Comunicações. A única integrante do setor privado é a advogada Nairane Farias Rabelo Leitão.

Novo sócio do Piere Schurmann

  • Aaron Ross, autor do best-seller “Predictable Revenue”, virou sócio da Nuvini, empresa criada por Pierre Schurmann para comprar outras companhias de software como serviço criado pelo empresário Pierre Schurmann – que foi lançada no fim o ano passado como Keiretsu. A ideia é consolidar o mercado como a canadense Constellation Software, investindo R$ 100 milhões para comprar 40 empresas até o final de 2021. Até lá a expectativa é chegar a uma receita de R$ 200 milhões.

É funcionário ou não é?

  • Uma corte de apelação da Califórnia confirmou que uma nova lei do estado – que prevê que motoristas sejam considerados funcionários do Uber e da Lyft – deve ser cumprida pelas companhias. A decisão, no entanto, só entra em vigor em 30 dias. O prazo é posterior à consulta pública sobre a Proposição 22, apoiada pelas companhias, que prevê mais direitos aos motoristas, mas sem vínculo empregatício. A consulta acontecerá junto com a eleição presidencial no dia 3 de novembro.

O produto que poderia ter sido uma funcionalidade

  • A Quibi, a startup de streaming de vídeo criada por Jeff Katzenberg e liderada por Meg Whitman. Anunciou que está deixando de operar pouco mais de seis meses depois de começar a funcionar. Um “fail fast” bem carinho de um produto que poderia muito bem ter sido uma funcionalidade!

Um belo (re)design

  • O ex-todo poderoso do design da Apple, Jony Ive, fechou um acordo com o Airbnb para prestar serviços à companhia. O anúncio acontece às vésperas do IPO da empresa e no momento em que ela diz estar se recuperando do baque sofrido com a pandemia.

Aceitamos bitcoins

  • O PayPal incluiu o bitcoin entre as moedas aceitasv para compras e pagamentos. É o primeiro grande nome a tradicional a incluir o bitcoin entre suas opções. O anúncio aconteceu (e ajudou a fazer) na semana em que a cotação da moeda chegou a R$ 70 mil (R$ 12 mil) pela primeira vez.

Leituras recomendadas


Faltou da semana passada

  • A EBANX, nunciou o Push LatAm, iniciativa que compreende a expansão de suas operações para novos mercados na América Central e do Sul; a oferta de serviços híbridos em países latino-americanos; e o lançamento do EBANX GO, cartão pré-pago em parceria com a Visa, que oferece também uma conta de pagamentos digital, para outros mercados da região além do Brasil; tudo dentro dos próximos 12 meses.

 


Download

  • Como andam os investimentos em venture capital pelo mundo em meio à pandemia? O Crunchbase montou um cenário bastante completo.
  • As startups do setor de logística, as logtechs, já são 283 no Brasil. Destas, 50% foram fundadas entre 2015 e 2020. O segmento recebeu US$ 187,6 milhões em 2020. Desde 2011, os investimentos realizados em empresas do setor acumulam mais de US$ 1,3 bilhão, segundo levantamento do Distrito.