Há cerca de três meses, a fintech Turn2C recebeu da B3 (junto com outros investidores) um aporte de R$ 8,5 milhões. Com o “empurrão”, a empresa assumiu a missão de empregar tecnologia para endereçar alguns dos gargalos em um dos mercados mais tradicionais do país – e um dos mais engessados também: o de consórcios.
“Surgimos no mercado há cerca de um ano de atender um dos principais desafios dos consórcios, que é a qualidade na venda”, explica o fundador e CEO da Turn2C, Bruno Pinheiro. Segundo dados levantados pela empresa, cerca de 50% dos consórcios entram em inadimplência ou são cancelados em cerca de 12 meses devido a decepções com a expectativa sobre o produto.
Segundo o fundador da fintech, boa parte dos cancelamentos se dão em função da falta de sintonia entre a expectativa do cliente e os contratos oferecidos. “Pensamos não apenas em vender o consórcio, mas ajudar o cliente a utilizar o consórcio da melhor forma para o seu objetivo, seja comprar um carro, uma casa, ou outro bem de consumo”, explica.
De olho nesse percentual, a Turn2C resolveu criar o seu conceito de consórcio inteligente, desenvolvendo uma plataforma B2B2C que usa AI para fazer o match entre as ofertas das administradoras e as expectativas dos clientes. No meio, utilizando o sistema da Turn2C, estão corretores independentes, consultores de investimentos e outros agentes autônomos que atuam vendendo consórcios – cerca de 1.500 parceiros.
Entre os escritórios que utilizam a solução estão Acqua-Vero (que tem o BTG Pactual como sócio), Valor Investimentos (ligado à XP), além da corretora de seguros Asteca e outros. A receita da fintech vem de sua taxa de sucesso, recendo das administradoras uma parte da comissão sobre as vendas.
“Nosso sistema roda cenários em mais de 16 administradoras, que correspondem a 76% do mercado, para encontrar a opção de produto que mais fecha com a necessidade do cliente, reduzindo a possibilidade de desistência”, explica Bruno. Na plataforma da Turn2C estão plugadas algumas das maiores administradoras de consórcios do país, como Itaú Unibanco, Banco do Brasil, Santander, Embracon e Mapfre, entre outras.
Apesar de não revelar números e metas de receita, a Turn2C aponta que roda cerca de 250 milhões de simulações em sua plataforma todo mês, e um total de R$ 200 milhões em cartas de crédito. O plano é fechar 2022 com o dobro em cenários rodados mensalmente. A fintech também quer dobrar sua base de parceiros, chegando a 3 mil.
Conforme aponta Bruno, o aporte seed de R$ 8,5 milhões levantado com a Honey Island, 4UM, B3 e Urca Angels, será instrumental nesta escalada, ajudando no lançamento de novos produtos para cobrir novas bases no negócio e gerar outras fontes de renda.
Os desafios dos consórcios
Com mais de um ano rodando seu sistema inteligente, a empresa conseguiu eliminar – pelo menos dentro de sua base de clientes – um dos principais desafios do mercado de consórcios. “Obtivemos uma carteira de 98% de adimplência em nossa plataforma”, dispara Bruno, comparando com o padrão de mercado de 50%.
“Neste tempo, conseguimos validar o sucesso de nosso modelo de análise, e agora queremos atender também o percentual que ainda assim não obteve sucesso”, explica o CEO. Ancorada pelo aporte recebido, a empresa lançou um produto chamado Caminho Seguro, que garante o retorno de 100% das parcelas pagas aos clientes que não tiverem sucesso no seu consórcio.
“Não é uma promessa de contemplação, mas sim uma forma de reforçar a previsibilidade de nosso modelo. Se eu errei a minha análise, vou lá, compro as cotas e retorno as parcelas. Quebramos a barreira da previsibilidade e agora queremos quebrar a da insegurança”, explica Bruno.
Com o produto, uma espécie de “compra garantida do Mercado Livre” para os consórcios, a empresa quer chamar a atenção no concorrido cenário das fintechs que estão explorando um segmento dos consórcios, um mercado que se mantém forte no cenário nacional nos últimos anos, crescendo a uma média de 20% todo ano e batendo recordes – em 2022 o segmento bateu com R$ 222,26 bilhões em créditos comercializados, alta de 35,8% ano contra ano, conforme dados da Abac, associação que representa mais de 120 administradoras de consórcios.
Contudo, a Turn2C não está sozinha neste segmento, disputando espaço com players como Mycon, Consorciei, BomConsórcio, Klubi, Eutbem, Up Consórcios (criada pela Embracon), entre outros. Contudo, agora capitalizada, o plano da companhia é acelerar o go-to-market e ganhar competitividade. “Começamos com o Caminho Seguro, mas até o final do ano temos uma esteira de produtos a serem lançados”, completa o CEO.