Assim como o varejo acaba sendo um importante gerador de crédito para o consumo no Brasil, a indústria e os fornecedores têm um papel semelhante para o varejo, especialmente os de pequeno e médio porte.
Mas esse “banco”, assim como instituições tradicionais, muitas vezes deixa de fazer vendas porque os compradores não passam na sua análise de crédito –por não ter um histórico de relacionamento, ou por alguma questão momentânea.
E se tivesse alguma forma de dar mais assertividade nesse processo, aumentando vendas sem um incremento no risco de inadimplência? Para Arthur Fontana (mais conhecido como Tuca) e Eduardo Rossi, essa saída está nos recebíveis de cartão de crédito.
Em 2019, eles criaram a fintech PayHop, que quer colocar os recebíveis como garantia na relação dos varejistas com seus fornecedores. “Para o varejista é um buy now pay later porque ele não tem que pagar adiantado como acontece hoje. Para o fornecedor, viabiliza vendas mais difíceis que ele não faria dentro do modelo de crédito dele. São vendas adicionais, o que interessante para ele”, explica Eduardo. A estimativa dele é que entre 30% e 50% dos clientes analisados para concessão de crédito acabam não sendo aprovados, dependendo do segmento da economia. “Se a empresa pegar um pedaço disto já é um número relevante”, avalia.
Os recebíveis são uma mina de ouro de R$ 2,5 trilhões que até pouco tempo estava bloqueada com as credenciadoras, mas se tornou acessível com as novas regras implantadas pelo Banco Central em meados de 2021. Além da PayHop, outras fintechs como a Marvin e a Trademaster estão de olho nesse mercado.
Hora de a PayHop crescer
Em 2 anos de operação, a PayHop atendeu 20 empresas e agora quer acelerar seu crescimento com uma rodada de R$ 11,5 milhões liderada pela Experian Ventures, braço de venture capital da Serasa Experian. Também participara a DOMO Invest e a Citrino Gestão. Com a bolada, a fintech quer multiplicar por 4 o número de colaboradores (hoje em 10 pessoas) e por 10 o de clientes.
E nesse sentido, a sociedade com a Serasa pode ajudar muito. Como o foco da PayHop está na venda para os fornecedores, que por sua vez vão oferecer o serviço para os seus clientes, ela vai poder se aproveitar do acesso que a Serasa já tem no mercado, podendo reduzir o ciclo de vendas. “Nosso objetivo é de simplificar e facilitar o acesso ao crédito. Estávamos monitorando a legislação e começamos a buscar nomes para atuar nesse mercado. De todos que avaliamos, o que mais gostamos foi da PayHop”, diz Tiago Tiago Ladeia, líder do programa de corporate venture capital da Experian na América Latina.
Segundo ele, ter a oferta como uma opção para os clientes corporativos ajuda a melhorar o relacionamento com eles e, consequentemente, a percepção de valor dos serviços da companhia. “Se ele não consegue decidir só usando a Serasa ele usa PayHop e cumpre mais uma etapa, podendo concretizar uma venda que ele não faria”, completa.
Competição
O mercado de recebíveis é enorme, mas com o aumento da oferta de serviços que usam essa modalidade como base, não pode haver uma saturação do mercado rapidamente? Afinal, um varejista só tem um X volume de recebíveis para negociar. Em tese, quem chegar 1º, leva. Para Tuca, acertar essa fluidez das negociações dos recebíveis será um desafio, mas o mercado é muito grande, e não é só uma empresa que vai levar tudo.
Ele ainda ressalta o fato de a PayHop ter começado a desenvolver sua oferta antes da antecipação de recebíveis começar a valer, no ano passado, o que lhe dá uma vantagem de tempo. “Começamos a bater a perna antes de formar a onda”, destaca. O plano original era que a nova regra tivesses entrado em vigor em 2020, mas ela precisou ser adiada para que o mercado pudesse se ajustar.