Se você perguntar ao iFood se o aumento nos investimentos previstos até março de 2026 é resultado do acirramento da concorrência na entrega de comida, você certamente ouvirá que não. Que isso faz parte de uma evolução consistente e necessária por conta do ganho de escala da operação.
Mas fato é que o anúncio de ampliação de orçamento em 25%, para R$ 17 bilhões, chega bem no momento em que a Keeta prepara sua chegada ao Brasil e a 99 investe no relançamento do 99Food. E ambos com planos de colocar alguns bilhões no país nos próximos anos.
De acordo com o iFood, este é o terceiro ano seguido em que seu investimento anual fica acima de R$ 10 bilhões. A marca foi atingida em 2023. Ano passado, o montante subiu para R$ 13 bilhões. Agora passou para R$ 17 bilhões.
Nos últimos tempos o iFood tem se movimentado para avançar além das entregas de comida. O aplicativo ganhou novas categorias como farmácia e supermercados e a companhia passou a oferecer cartão de benefícios e serviços financeiros para restaurantes. A criação de um ecossistema que se aproveita da escala da operação também incluiu investimentos na Shopper e na CRMBonus.
“Desde 2011, o iFood investe no Brasil, acreditando no potencial do país e contribuindo para um ecossistema de inovação que beneficia milhões. Ultrapassarmos os R$ 10 bilhões em investimentos pelo terceiro ano consecutivo não é apenas uma marca significativa; é a prova de que nossa operação cresce de forma sustentável, gerando impacto positivo na economia e fortalecendo cada parceiro em nossa rede. Este comprometimento contínuo reflete nossa visão de construir um futuro mais próspero para todos que fazem parte dessa jornada”, diz Diego Barreto, CEO do iFood, em comunicado.
O anúncio do plano de investimento acontece no primeiro dia do Move, evento do iFood que pretende reunir 12 mil pessoas entre hoje (5) e amanhã (6) no SP Expo, em São Paulo. Entre os 100 palestrantes previstos estão nomes como o ex-corredor Usain Bolt, Boninho e o presidente da associação brasileira de restaurantes (Abrasel), Paulo Solmucci.
Destino dos recursos
Segundo o iFood, os investimentos preveem, prioritariamente, ações para impulsionar o tráfego na plataforma, aumentar a recorrência de compras no aplicativo e ampliar os segmentos de atuação da empresa.
Para sustentar o crescimento desse ecossistema, os investimentos também serão direcionados às áreas de tecnologia e inovação, com grande foco em inteligência artificial – hoje, já são mais de 190 modelos proprietários de IA. Além disso, os valores incluem investimentos em crédito disponibilizado para restaurantes parceiros com foco no crescimento dos comerciantes.
E fazer tudo isso acontecer significa contratar mais gente. A expectativa é adicionar 1100 novos colaboradores diretos, um crescimento de 19% na comparação entre março deste ano e março de 2026, ultrapassando 8.600 funcionários. Mais da metade dessas posições são para profissionais de tecnologia. Desde o início de seu ano fiscal, a empresa já contratou 500 funcionários e abrirá 600 novas vagas até o primeiro trimestre do próximo ano. O iFood trabalha no calendário de ano fiscal que vai de abril a março, por isso o cronograma de desembolsos até março de 2026.
Adicionalmente, o iFood também pode fazer investimentos de até R$ 500 milhões em startups por meio da Prosus Ventures, o fundo de investimento de sua controladora.
O iFood atende atualmente 400 mil estabelecimentos nos mundos online e no físico, com 55 milhões de clientes. A operação está presente em 1500 cidades e gera renda para 400 mil entregadores. Em 2025, a plataforma alcançou a marca de 120 milhões de pedidos por mês.
Efeito na economia
Segundo pesquisa da Fipe encomendada pelo iFood, as atividades da companhia foram responsáveis por 0,64% do PIB brasileiro em 2025, movimentando R$ 140 bilhões em atividade econômica para o país. Em 2024, foram 0,55% e, em 2023, o iFood movimentou 0,53% do PIB nacional.
O montante supera o valor de mercado de cerca de 98% das empresas do país e é maior que o PIB estimado de 10 estados, como Rio Grande do Norte (R$105 bilhões), Paraíba (R$101 bilhões), Alagoas (R$100 bilhões) e Piauí (R$84 bilhões).
O levantamento da Fipe mostra ainda que o iFood ultrapassou a marca de 1 milhão de postos de trabalho diretos e indiretos gerados no ano passado. Isso equivale a quase 1% da população ocupada do Brasil e é um contingente maior que a população de cidades como Natal e Florianópolis.
No que se refere aos restaurantes, entre 2022 e 2024, houve um crescimento médio real de 17,6% no volume de vendas dos estabelecimentos parceiros da plataforma, já descontada a inflação.
Um outro estudo, realizado pelo IBGE, constatou que os estabelecimentos que comercializam seus produtos no aplicativo tiveram um crescimento real 2,3 vezes maior do que a média do setor entre 2023 e 2024. O efeito “motor de crescimento” também aparece na aquisição de novos clientes – 38% dos pedidos dos restaurantes vieram de novos consumidores em 2024.
O ingresso no iFood gerou impacto também na contratação dos comerciantes. Houve um aumento adicional de, em média, 6,9% no número de empregos formais dos estabelecimentos, comparando com restaurantes similares que nunca ingressaram na plataforma. Entre os restaurantes pequenos, o aumento é ainda maior, chegando a 10,2%.