Duas expressões em inglês que eu gosto de usar: ripple effect e dumpster fire. A primera diz respeito aos efeitos causados por um um evento específico – é o que nós chamamos de “efeito dominó”. A outra expressão é a mais legal: como sua tradução literal sugere (fogo na lixeira), ela remete a uma lambança grande, que além de quente, ela fede e ninguém quer ficar perto. É isso o que está acontecendo na sequência da implosão da fintech americana de banking-as-a-service Synapse e um dos neobancos mais populares dos EUA, o Mercury, que está sofrendo efeitos colaterais – mesmo tendo encerrado as relações com sua antiga fornecedora.
Ontem (28) falamos aqui no Startups sobre como mais de 100 fintechs foram impactadas pela queda da Synapse, o que poderia afetar mais de 10 milhões de clientes. Inclusive, algumas startups ficaram com seus serviços inativos e outras até fecharam por conta do pedido de recuperação judicial da fintech – que aparentemente foi assinado da paradisíaca ilha de Santorini, na Grécia.
Na sequência do acontecido com a Synapse, as redes sociais entraram em polvorosa com diversos usuários lembrando que a Mercury também era cliente, o que gerou dúvidas sobre a sustentabilidade do negócio e trouxe de volta aquele sentimento que muita gente teve em março do ano passado quando as fragilidade do balanço do Silicon Valley Bank (SVB) vieram à tona.
Com isso, a pulguinha do bank run, ou como nós brasileiros conhecemos bem, corrida bancária, se instalou na cabeça de muita gente. E a recomendação dada por gente graúda do mercado foi de tirar dinheiro da instituição. “É boato, mas bank run é bank run, e você não quer saber se está certo ou errado. Você não quer perder dinheiro”, afirmou uma fonte de mercado à reportagem do Startups.
Preste atenção ali na palavra boato. Assim que os rumores de que a Mercury tinha parceria com a Synapse, a empresa se posicionou para esclarecer o fato. “Estes receios surgiram de rumores devido a relatórios recentes sobre o Synapse, um prestador de serviços bancários nos EUA. Essa situação é pública e está em evolução há algum tempo, e a Mercury deixou de trabalhar com a Synapse há vários meses”, afirmou a Mercury em um e-mail para um cliente brasileiro.
No comunicado, a companhia esclareceu que seu principal parceiro bancário atualmente é o Evolve, e segundo o neobanco, não há informações que indiquem que o Evolve esteja em risco comercial real. Além disso, a empresa garantiu que os depósitos são segurados pelo Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC), em até US$ 5 milhões. Um detalhe interessante: no comunicado, a empresa afirmou que várias destas garantias para proteger seus clientes foram um reflexo do baque sofrido no ano passado após o episódio do Silicon Valley Bank (SVB).
O número de startups atendidas pela Mercury é considerável: segundo dados do próprio neobanco, são mais de 100 mil empresas – ou seja, o medo de um novo SVB não é tão irreal. Contudo, para evitar um cenário semelhante, a companhia resolveu correr, e até o CEO Inmad Akhund saiu respondendo a pessoas no X (ex-Twitter), para apaziguar os ânimos.
Enfim, como eu já falei no começo, quando a lixeira está em chamas, ninguém quer ficar por perto e se queimar por tabela. Por exemplo, Nomad e Banco Inter, duas empresas que chegaram a ser clientes brasileiros da Synapse no passado, se pronunciaram para assegurar que há tempos não são mais clientes da fintech norte-americana.
A Nomad afirmou em nota enviada ao Startups que encerrou em janeiro deste ano o vínculo com a Synapse, e com isso os últimos acontecimentos não apresentaram nenhum tipo de risco para os clientes. Já o Banco Inter, apesar de ainda mencionar a Synapse como provedora do cartão de débito da Global Account, respondeu à reportagem do Startups nesta terça (28), afirmando que também não é mais cliente da fintech gringa, mas não deu mais informações sobre o assunto.