“Brigar de igual para igual com o Uber é uma batalha perdida”, afirma logo de cara Antonio Vieira, cofundador e CEO da Gostei, app de mobilidade que está entrando no mercado. O comentário faz menção direta ao poder financeiro da gigante norte-americana, algo que a Gostei não possui, mas segundo o CEO, a startup tem uma carta na manga: o foco nos motoristas.
Com um investimento de R$ 2,5 milhões saído do bolso de seus fundadores, a plataforma de mobilidade urbana foi criada em cima de demandas de motoristas de aplicativos, um trabalho de desenvolvimento que durou 20 meses até a chegada o mercado. “Falamos com cerca de 400 motoristas de aplicativos para chegar a um modelo que coloca o prestador de serviço em uma posição de protagonismo”, pontua Antonio.
Segundo o CEO da Gostei, este foco no motorista se baseia em 3 pontos. O primeiro é a segurança, com a tecnologia para dar mais proteção ao motorista, incluindo destinos das viagens e mais informações sobre os passageiros. O segundo é a transparência. “O motorista vai saber sempre quanto vai ganhar e nosso percentual de cobrança é fixo em 25%”, explica o executivo.
A questão do percentual, segundo Antonio, também resume o terceiro ponto, que é o de ajudar na rentabilidade dos motoristas, que a partir de taxas mais transparentes, podem organizar melhor suas finanças.
A startup iniciará suas operações em Jundiaí, município com 420 mil habitantes que fica a 480 km de São Paulo. Segundo a Gostei, Jundiaí foi escolhida por ser um município com alto Índice de Desenvolvimento Humano – IDH (0,822 segundo o IBGE, numa escala de 0 a 1); por ter um alto percentual da população usuária de smartphones e internet móvel, estar localizada próxima à São Paulo e ter um público misto de passageiros individuais e empresariais.
“Iniciaremos a operação lá (em Jundiaí) com 120 motoristas parceiros cadastrados e aptos a atender os usuários e a fase de testes deve durar em torno de 6 meses. Quando tivermos atingido um alto índice de satisfação, vamos expandir para outras localidades”, afirma Antonio.
E os passageiros?
Ao colocar o foco na satisfação do motorista, sempre a ponta menos prestigiada pelos apps de mobilidade, Antonio acredita que isso será o catalisador de reflexos positivos na experiência do passageiro. “Temos uma visão de engajamento da mobilidade pelo viés social”, explica o CEO.
Como que isso ocorre? Para o empresário, motoristas mais motivados eleva a qualidade do serviço, ao mesmo tempo que a proposta mais humanizada no tratamento aos motoristas conquiste uma parcela da população mais conscientizada com as condições pouco favoráveis que muitos apps entregam à sua força de trabalho. “A gente vê que isso é uma ideia simpática a uma grande parcela do público”, avalia.
Inclusive, com uma base mais qualificada de motoristas e passageiros, a Gostei planeja criar serviços específicos que os apps que atendem em massa não entregam, como transporte de passageiros menores de idade para escola, contratações de caronas para terceiros. Para isso, a empresa deverá investir mais em tecnologia. “Temos mais R$ 2 milhões para investir na plataforma no próximo ano”, afirma o CEO, ressaltando que mais para a frente, a empresa deverá ir ao mercado para buscar investimentos e escalar.
Em suma, na visão de Antonio, o plano é investir em proposta de valor, algo que se relaciona com a frase que abriu este texto. Para ele, não adianta entrar em guerra de preço com o Uber, e sim conquistar uma parcela engajada e fiel dos consumidores.
Por falar em guerra de preço com o Uber, o mercado brasileiro já teve diversas vítimas – entre players de fora e regionais – que não resistiram. Um exemplo famoso foi o da europeia Cabify, que chegou a rivalizar com o app norte-americano por alguns anos, mas cedeu à violenta batalha de taxas e descontos agressivos. Quem ainda bate de frente por aqui é a 99, que tem por trás os bolsos fundos da chinesa Didi Chuxing.
Crescimento sustentável
Apesar de começar em um município de interior, a Gostei já tem planos de expansão. “Até 2025, queremos atender cerca de 30 regiões metropolitanas, e isso não envolve só capitais, mas grandes cidades em regiões interioranas dos estados”, explica Antonio.
A empresa também já trabalha suas expectativas de receita. Para o seu primeiro ano de atuação, a companhia espera chegar a uma receita de R$ 11 milhões, e em 5 anos, bater nos R$ 150 milhões, um crescimento médio de 35% ao ano.
Com essa visão de certa forma mais nichada, a Gostei tem planos conservadores de crescimento, pelo menos por agora. “A gente não tá buscando um crescimento explosivo, queremos algo orgânico no momento. Só vamos buscar algo mais agressivo quando tivermos indicadores mais satisfatórios”, afirma Antonio.