Iago Oselieri, fundador e CEO da InvestPlay | Foto: divulgação
Iago Oselieri, fundador e CEO da InvestPlay | Foto: divulgação

Depois de anos atuando como uma empresa de inteligência voltada ao Open Finance, a InvestPlay decidiu ajustar sua rota. Aproveitando o hype da inteligência artificial, a empresa evoluiu para o desenvolvimento de uma IA proprietária, voltada exclusivamente para o setor financeiro e que representa a principal aposta de crescimento da empresa nos próximos anos.

Segundo Iago Oselieri, fundador e CEO da InvestPlay, a guinada foi impulsionada por uma necessidade do próprio mercado. “Os bancos estavam com dificuldade de lidar até com seus dados internos. O Open Finance acabou se tornando um ‘anabolizante’ para estratégias de dados que já estavam sendo construídas”, explica.

A partir dessa constatação, a empresa decidiu criar um modelo que pudesse apoiar as instituições financeiras independentemente do grau de maturidade em Open Finance.

O resultado foi o desenvolvimento de uma IA fundacional totalmente proprietária, chamada Allyra, e uma das poucas desse tipo no Brasil, conforme destaca o CEO.. “Contamos nos dedos quantas startups brasileiras têm uma IA própria. A nossa não usa nenhuma base externa, nem modelos abertos como Gemini ou GPT”, afirma Iago.

De acordo com o executivo, a decisão por desenvolver um modelo dentro de casa foi feita para fugir da dependência de grandes provedores de tecnologia, que ainda é vista por diversos bancos como um risco em custo e governança. “Para as fintechs, uma mudança de política ou de preço desses modelos pode inviabilizar o negócio de 99% delas. Os bancos, por sua vez, tem receio de adotar modelos externos ou permitir que eles aprendam com seus dados”, explica.

A análise feita por Iago sobre os bancões faz sentido, já que outros negócios semelhantes ao da InvestPlay já foram “absorvidos” pelo esquemão. O mais notório deles é o da Hyperplane, startup norte-americana (mas com fundador brasileiro) comprada pelo Nubank no ano passado. Outro caso foi o da NeoSpace, em que o Itaú comprou 15% do negócio para ter acesso prioritário à solução de inteligência da startup.

Entretanto, para Iago, o foco da InvestPlay é o de se manter agnóstica, atendendo o mercado financeiro de forma mais ampla. “Tivemos propostas de alguns bancos, chegamos a avaliar este caminho, mas vimos que para a gente não faz sentido. É muito mais estratégico pra gente ser agnóstico do que estar travado com alguma instrução”, pontua.

Com este posicionamento, a empresa quer fechar 2025 com um crescimento de quatro a cinco vezes. A meta é atender entre oito e dez bancos em 2026, consolidando a presença da solução no setor. O plano de longo prazo prevê mais de 100 clientes até 2027, incluindo bancos, fintechs e grandes corporações com braços financeiros. “Nosso foco é o mercado financeiro, mas queremos entrar no multi-indústria a partir de 2027”, afirma o CEO.

Como funciona?

Segundo explica Iago, a Allyra é capaz de gerar múltiplas embeddings — representações computacionais do comportamento dos clientes — a partir de um único modelo. O sistema também conta com AutoML, que cria e cruza variáveis automaticamente, sem intervenção humana. “Enquanto o machine learning tradicional depende de regras criadas manualmente, o nosso modelo aprende e combina variáveis 24 horas por dia”, afirma o fundador.

Este ano, um dos principais projetos que ajudou a validar a solução foi com um grande banco nacional, que utiliza a IA da InvestPlay para aperfeiçoar modelos de crédito voltados a clientes autônomos de baixa renda, como motoristas de aplicativo. A tecnologia analisa o comportamento financeiro de cada usuário e consegue prever variações de renda e capacidade de pagamento.

“Nosso modelo identificou, por exemplo, que uma queda no gasto com combustível de um motorista costuma antecipar uma redução de receita nas semanas seguintes. Esse tipo de análise permite ajustar o crédito de forma mais precisa e justa”, detalha Iago.

Essa independência ganha peso com uma parceria recém-firmada com a Databricks. Pelo acordo, a InvestPlay se tornou uma solução nativa dentro do ecossistema da multinacional, plataforma presente em 95% dos bancos brasileiros. “Isso muda nosso jogo. A partir do momento em que viramos uma solução nativa, qualquer colaborador de um banco que use Databricks pode testar nossa IA diretamente, sem que nenhum dado saia da instituição”, explica o CEO.

Rodada em vista?

O impacto dos novos anúncios e produtos já aparece nas projeções. A startup espera crescer quatro vezes em 2025 e prevê que a IA represente mais da metade do faturamento no próximo ano.

Para impulsionar tais metas ambiciosas, a empresa também se prepara para uma nova rodada de captação de investimento no primeiro semestre do próximo ano. “Temos conversas avançadas com fundos globais e latino-americanos”, diz o executivo.

A ultima captação da InvestPlay foi em 2023, quando recebeu um cheque de R$ 3,3 milhões da BRQ, Osten Moove e Darwin Startups.

Oselieri reforça que o avanço da IA própria é apenas o começo de uma nova fase. “A inteligência artificial está deixando de ser apenas chatbot ou ferramenta técnica para se tornar parte do core dos bancos. Queremos ser o motor que conecta essas áreas e acelera a transformação digital do setor financeiro brasileiro”, finaliza.