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Com IoT, healthtech Nexxto quer acabar com a ineficiência na saúde

A startup atende mais de 600 instituições no país, incluindo a Beneficência Portuguesa e o hospital, Oswaldo Cruz

Pessoa colocando uma peça em cima de outras com figuras ilustrativas de saúde - Startups

A internet das coisas (IoT, na sigla em inglês) pode ser uma ferramenta poderosa para a indústria da saúde. Conectando dispositivos do dia a dia à rede mundial de computadores, a tecnologia é capaz de aumentar a eficiência de clínicas, hospitais e laboratórios, melhorando processos de atendimento, diagnóstico e cirurgias.

Essa é a grande aposta da Nexxto, startup paulistana que cria soluções de IoT para ajudar empresas de saúde a serem mais digitais. A companhia foi fundada em 2010, inicialmente com uma proposta de fazer a rastreabilidade de equipamentos de data centers. Depois de algumas pivotagens, os cofundadores Lucas Albrecht de Almeida, Antonio Carlos Rossini Jr e Matheus Nani Costa encontraram o modelo atual, que opera há cerca de 3 anos.

“Mergulhamos 150% no universo da saúde, uma área em que é muito fácil encontrar propósito: ajudar quem salva vidas a fazer mais”, diz Lucas. Para exemplificar seu trabalho, ele cita como exemplo um refrigerador abastecido com materiais sensíveis e de alto custo, como vacinas contra a Covid-19, medicamentos oncológicos e anestésicos. “Um desvio de temperatura pode comprometer tudo. Mais do que o dinheiro, o preço final é uma vida”, pontua.

Dados da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) mostram que 20% dos medicamentos no Brasil são desperdiçados anualmente, representando cerca de R$1 bilhão. Para evitar os danos, a Nexxto desenvolveu um sensor de controle de temperatura e umidade para produtos e ambientes, além de padronização de processos e gestão de incidentes em tempo real. A solução é usada para otimizar a cadeia fria, que envolve o manuseio, armazenamento, distribuição e transporte de produtos como medicamentos, vacinas, sangue e materiais biológicos.

O software processa as informações e faz uma análise do que está acontecendo, dando indícios de qual pode ser o problema – uma falha no motor, vazamento de fluído, entre outros. “Isso ajuda a equipe a tomar uma decisão mais rápida, evitar o prejuízo de perder medicamentos e garantir a segurança do paciente”, explica Lucas.

Segundo o empreendedor, a solução reduz até 90% dos custos para instituições de saúde. Hoje, a healthtech atende mais de 600 instituições no país, com mais de 150 mil dispositivos monitorados simultaneamente em 14 Estados.

Impacto social

Hoje, a startup atende instituições de saúde de médio e grande porte, mas de acordo com Lucas, a ambição é atender outros segmentos no futuro. “Se você tem plano de saúde, mora na capital e é de classe média-alta, [o acesso à saúde] está garantido. No entanto, para mais de 70% da população, que depende 100% do SUS [Sistema Único de Saúde], não é assim”, afirma.

O objetivo da Nexxto, diz o empreendedor, é usar a tecnologia para que mais pessoas tenham acesso a saúde de qualidade, com mais segurança e tratamento humanizado. “Resolver os gargalos [de ineficiência] significa criar inclusão e solucionar um dos principais problemas do setor: o acesso”, pontua.

Lucas explica que para chegar no setor público, a startup ainda precisa ganhar escala. “Somos uma empresa muito pequena em comparação com o tamanho da demanda existente pelos produtos. Nosso sonho de longo prazo é ganhar escala, viabilizada pelo setor privado, para chegar em uma solução acessível para o SUS.”

O principal desafio para esse crescimento, segundo o cofundador, é educar o mercado. Mostrar que, embora recente, o segmento de IoT na saúde já existe, é viável e resolve problemas. “Há muitos paradimas a serem vencidos, relacionados à ideia de que IoT é muito cara no Brasil e não tem gente para fazer”, explica. A estratégia da Nexxto é investir na produção de conteúdos e fazendo parcerias com canais de saúde “para levar o máximo de informação técnica e científica sobre o que estamos fazendo.”

A mudança, aponta Lucas, será impulsionada com o apoio dos grandes grupos de saúde. “Estão mais maduros, têm mais recursos financeiros e apetite à risco. É importante que eles testem [a solução] e mostrem que dá certo”, pontua. A startup já atende instituições como Beneficência Portuguesa e os hospitais Albert Einstein, Oncoclinicas, Hapvida, GNDI, Oswaldo Cruz, Sírio Libanês e Madrecor.

Potencial de mercado

A Nexxto faz parte de um mercado promissor. Segundo a consultoria McKinsey, a indústria de IoT na saúde tem um potencial de impacto de 4% a 11% no Produto Interno Bruto (PIB) global em 2025, movimentando algo entre US$ 3,9 trilhões e US$ 11,1 trilhões. 

Dê olho nesse potencial, ela atraiu investimentos do fundo SP Ventures, hoje especializado em soluções de AgFoodtech. Em 2015, a gestora injetou R$ 3,5 milhões na healthtech para que ela investisse em tecnologia e desenvolvimento das soluções. Esta foi, por uma escolha dos próprios fundadores, a captação mais recente feita pela startup. “Estamos em break even [sem prejuízos, nem lucros]. Não temos a necessidade de caixa para fazer uma rodada, e é por isso que não procuramos”, afirma Lucas.

O setor já começou a chamar a atenção de outros players, como a Sensorweb e a Senfio. Para o executivo, o que diferencia a Nexxto dos demais é, principalmente, a tecnologia 100% proprietária. “Não depender de terceiros nos dá mais flexibilidade e velocidade para lançar um produto na agilidade que o mercado precisa. Outra questão é que a healthtech atua de ponta a ponta na cadeia. “Por mais que a gente terceirize, o serviço vai sempre com a marca Nexxto, da entrega dos equipamentos à instalação e manutenções preventivas e corretivas. O cliente não precisa contratar cada parte com uma empresa.”

Lucas explica que quando uma instituição de saúde pensa em comprar soluções digitais, a categoria da Nexxto não é a primeira da fila. “Existem outras prioridades, como softwares de gestão, agendamento de consultas e atendimento”, pontua. “Só depois que o cliente passou por essas etapas de transformação digital, chega na parte de IoT de healthcare.” É por isso que o negócio foca em instituições de médio e grande porte, que já alcançaram certo nível de maturidade e têm processos estruturados para dar o próximo passo de otimização.

Foto de Lucas Albrecht de Almeida, cofundador da Nexxto - Startups
Lucas Albrecht de Almeida, cofundador da Nexxto

Inovação no centro

Em 2022, a healthtech está investindo mais de R$ 2 milhões em uma solução de rastreamento intra-hospitalar de equipamentos. “Um dos desafios da pandemia foi a escassez de ventiladores pulmonares nos hospitais, mas esse problema já existia. O profissional precisa de um monitor cardíaco ou ventilador pulmonar e não encontra”, afirma.

“A questão é que, muitas vezes, o hospital tem o equipamento, mas ele foi extraviado. Em muitos casos, os pacientes morrem por falta de um aparelho que está perdido em algum lugar da instituição. Um problema desses em pleno 2022, com o nível de tecnologia que temos, não pode mais acontecer”, argumenta Lucas.

A solução, a ser lançada no 2º semestre, funciona como um GPS indoor, detectando a localização dos equipamentos dentro do hospital. A ideia, segundo Lucas, é que os profissionais possam encontrar as máquinas rapidamente, antes da demanda. “Não dá para esperar alguém ter uma parada cardíaca para sair correndo em busca do aparelho. O sistema prevê a demanda, localiza antecipadamente e reorganiza o time e a locação dos equipamentos, a partir de inteligência de dados, para que não falte quando seja necessário”, explica.

O produto já está sendo testado pela Beneficência Portuguesa, em São Paulo. Segundo Lucas, a instituição já era cliente da Nexxto e precisava de uma solução que resolvesse a questão da rastreabilidade dos aparelhos nas unidades. O produto já estava na esteira de produtos da healthtech, mas o desenvolvimento foi acelerado para atender a demanda dos hospitais. A tecnologia também foi validada pela rede de saúde integrada Dasa, no Hospital Santa Paula, na capital paulista.

Com as inovações, a healtech projeta terminar 2022 com um ARR (Faturamento Recorrente Anual) na ordem de R$ 10 milhões. Para os próximos 12 meses, a expectativa é saltar de 80% a 100% em receita recorrente.