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Com liberação do Banco Central, Belvo quer casar Pix com open finance

Fintech agora é autorizada pelo para oferecer soluções de iniciação de pagamentos online utilizando o Pix

Belvo Pix
Crédito: divulgação

Um dos players que carrega a bandeira do open finance na América Latina, a Belvo reforçou seu arsenal para competir no mercado brasileiro. Agora a fintech recebeu do Banco Central a liberação para operar como iniciadora de transação de pagamentos (ITP), dentro do escopo de open finance regulamentado pela instituição.

Com a licença, a startup passará a oferecer aos seus clientes a possibilidade de gerenciar e comandar, dentro de suas próprias plataformas, a realização de transferências (pagamentos e recebimentos) via Pix entre contas de diferentes instituições.

Com o novo produto, a Belvo assume uma nova postura no mercado brasileiro. De acordo com o general manager da fintech no Brasil, Albert Morales, se trata de uma nova era para a companhia. “Nossa atuação até então era forte a nível técnico no open finance para nossos clientes, mas agora temos uma solução que nos coloca como um ator direto no processo de pagamentos, com o aval do Banco Central”, explica Albert, em entrevista ao Startups.

De acordo com o executivo, a certificação como ITP abre diversas possibilidades de uso, de pagamentos para empresas de varejo a financeiras que desejam otimizar seus sistemas de cobrança aliando a praticidade do Pix e a inteligência de dados que o open finance permite. “A Belvo cuidará da operação dos pagamentos, mas quem vai oferecer e colher os benefícios dos dados serão os clientes”, pontua Albert.

“A partir deste passo, poderemos potencializar nossa oferta para o mercado nacional, com um produto completo que possibilita desde a agregação e enriquecimento de dados financeiros até a iniciação de pagamentos” , diz Pablo Viguera, co-CEO e co-fundador da Belvo.

O Pix são os trilhos

Para o general manager da Belvo, a estrutura desta primeira fase do Pix funcionam apenas como os trilhos para algo ainda maior que deve vir nas novas fases do sistema de pagamentos criados pelo Banco Central. “Não me leve a mal, são trilhos muito bons”, afirma rapidamente Albert, chamando a atenção que eles por enquanto são base para soluções ainda melhores.

Segundo o executivo da Belvo, o próximo passo para o Pix é o de absorver uma capacidade transacional ainda maior, e a camada de inteligência entregue pelo open banking pode ser o catalisador para o modelo de transferências ir além do P2P e entrar de vez nas transações B2B e B2C. Atualmente, segundo dados do Bacen, o Pix já tem uma aceitação semelhante à dos boletos nos maiores e-commerces do país, perdendo apenas para os cartões de crédito.

Albert tem uma teoria para este dado, e acredita que o open finance a favor do Pix pode aumentar a popularidade do meio de pagamento, inclusive permitindo a criação de novas possibilidades como parcelamento. “Hoje o cartão de crédito é ainda visto como mais seguro para isso pois tem um sistema antifraude robusto. O open finance permitirá isso para o Pix”, avalia.

Albert Morales Belvo
Albert Morales, diretor geral da Belvo no Brasil. Crédito: divulgação.

“Atacando o mercado”

O plano da Belvo com seu novo produto é já terminar o ano com cinco clientes utilizando a solução, que para Albert, validará o modelo para atrair mais clientes no próximo ano. “Já temos uma demanda grande de clientes que utilizam nossos serviços de inteligência de dados, e os pagamentos serão uma parte grande desta equação”, afirma.

Segundo o executivo, hoje a companhia não possui muita concorrência na parte de ITP como serviço para terceiros. “O que vemos hoje é que os players que obtiveram esta licença estão usando para fins próprios”, afirma, citando bancos que criaram sistemas facilitados de pagamento, e o Mercado Livre, que lançou sua solução de ITP recentemente dentro do Mercado Pago.

Dinheiro no caixa para expandir a empresa tem. Em agosto a empresa anunciou uma captação de valor não divulgado, vindo da Citi Ventures. Na época, a empresa afirmou que o aporte (considerado estratégico) seria utilizado para crescer no mercado mexicano.

Atualmente a Belvo oferece conexões com mais de mais de 60 instituições financeiras no México, Brasil e Colômbia e opera com mais de 150 clientes, entre as quais, algumas das empresas financeiras que mais crescem na região, de verticais como banco digital, empréstimo e ferramentas para gestão de finanças pessoais. A empresa não abriu números de receita ou crescimento na região.

Mais recentemente, em um outro movimento de acelerar seus planos de expansão, a empresa anunciou seu VP de Finanças. O brasileiro Leandro De Piano, ex-Warren, chegou para apoiar a fintech em seus planos de expansão no mercado brasileiro, assim como no México e Colômbia. Um detalhe curioso, que pode ser coincidência ou não: a Citi Ventures também é investidora na Warren.

No Brasil, a Belvo tem sua operação em São Paulo, empregando atualmente cerca de 150 pessoas. No ano passado, a empresa levantou uma série A de US$ 43 milhões, maior rodada de uma fintech latino-americana na época, junto a investidores como a Future Positive, gestora de venture capital de Fred Blackford e Biz Stone (um dos primeiros investidores de Pinterest, Square e Beyond Meat), além de Kibo Ventures e FJLabs.

Participaram da série A também investidores-anjo como Sebastián Mejía, co-fundador e presidente da Rappi, e Harsh Sinha, CTO da Wise (antiga Transferwise). Os investidores da rodada seed que a fintech teve em 2020 –  Kaszek, Maya Capital, Venture Friends e David Vélez (fundador e CEO global do Nubank) – também entraram.

No total, a companhia levantou cerca de US$ 56 milhões até o momento.