Negócios

Com R$ 100 mi, fundo Pyaar quer apoiar startups das favelas

Proposta é investir em startups de diversas áreas de atuação com cheques entre R$ 1 milhão e R$ 2 milhões

Favela
Foto: Canva

Fundado há mais de 2 anos para apoiar negócios criados em periferias e favelas brasileiras, o fundo Pyaar agora finaliza sua fase de estruturação e captação dos recursos. O veículo tem um target inicial de R$ 100 milhões, dos quais metade já foi captada. A expectativa é levantar o restante do dinheiro ainda este ano.

A proposta é investir em startups de diversas áreas de atuação com cheques entre R$ 1 milhão e R$ 2 milhões. O foco está em empresas de educação, construção, alimentação e desenvolvimento ambiental, que já tenham teses validadas no mercado e um faturamento médio anual. Até o momento, o fundo tem duas investidas: o Nossa! Cozinhas, serviço de delivery em que cozinheiras autônomas que moram em comunidades pobres do Recife trabalham como empreendedoras autônomas, e o Silva, uma espécie de iFood para as favelas.

“Buscamos empreendedores resilientes, mas flexíveis. Que estejam abertos para ouvir e transformar, se adaptar rapidamente e trazer metodologias de gestão ágeis. Que tenham paixão e brilho, consciência de uma dor de mercado e a capacidade de articular sua visão”, afirma José Papa Neto, sócio do Pyaar, publicitário e fundador do canal de cultura afrourbana Trace Brasil. Ele criou o fundo ao lado de André Szajman, cofundador da gravadora Trama e sócio da VR; Eduardo Mufarej, founder da GK Ventures.

“Nos últimos anos, conversamos com muitos empreendedores de periferias que são absolutamente brilhantes. Há um talento ainda inexplorado no país, uma quantidade de capital criativo e uma resiliência enorme capazes de transformar o Brasil. Foi por isso que decidimos desenvolver o Pyaar”, conta José Papa, conhecido como Zizo.

José Papa Neto
José Papa Neto, cofundador do fundo Pyaar. (Foto: Divulgação)

Próximos passos

Os R$ 50 milhões captados até o momento vieram de Multi Family Offices e investidores-anjo, incluindo os próprios sócios. O fundo segue em processo de captação dos R$ 50 milhões restantes, e já está analisando potenciais investidas para compor o portfólio. Segundo José Papa, o Pyaar tem hoje 10 empresas no pipeline.

O empreendedor reconhece que o momento do mercado é de maior cautela, mas está otimista em relação às oportunidades e à qualidade técnica das empresas. “Independentemente da tese do fundo, o contexto macroeconômico é um desafio que todo setor que busque atrair capital tem, e é bastante complexo. No nosso caso, temos o diferencial de, além de materializar o retorno financeiro, trazer sensibilidade e mostrar que o investidor pode ter três elementos juntos: propósito, retorno financeiro e potencial de transformação”, analisa.

Mais do capital, Zizo quer dar uma atenção especial a cada negócio para ajudá-los a prosperar, conectando os founders a potenciais clientes e parceiros. “O importante é ter as articulações certas. Vamos usar toda a nossa rede para alavancar as empresas, incluindo o desenvolvimento do negócio e toda a parte de gestão e incentivo de equipes”, pontua.

As oportunidades de networking são grandes, já que o próprio Zizo está conectado com tendências de inovação há mais de uma década. Em uma temporada vivendo em Nova York, ele atuou como CEO global da WGSN, a companhia global de previsão de tendências de consumo com curadoria de dados, opinião de especialistas e conhecimento aprofundado sobre a indústria. No Brasil, ele cofundou a Trace, ecossistema de mídia de cultura afro-urbana.

“Quando se fala em projeto de futuro não dá para ignorar a realidade dos problemas que a gente tem hoje, principalmente na base do país. Comecei a observar as demandas e oportunidades das periferias e me aproximei de sócios com a mesma visão”, afirma Zizo. “Os cases que temos hoje mostram que há um potencial econômico de geração de valor no Brasil. Uma vez provada essa tese, temos a possibilidade de gerar valor nas periferias e favelas. Vamos mostrar cada vez mais que conseguimos furar a bolha do capital tradicional no Brasil”, conclui.