O nome pode ser complicado – remoção de carbono via intemperismo acelerado de rochas – mas o valor que os investidores estão dando para a solução da Terradot é bem simples: US$ 53 milhões (ou R$ 353 milhões). Este foi o valor do cheque que a startup acabou de levantar em sua série A.
Com um pé no Brasil e outro cravado no Vale do Silício (mais especificamente na Universidade de Stanford), a Terradot chamou a atenção de investidores de peso, tais como Google, Microsoft, John Doerr (Kleiner Perkins), Floodgate, Sheryl Sandberg (ex-Facebook), Valor Capital, Gigascale Capital, Acre Venture Partners, entre outros players, para a mais recente captação.
Fundada em 2022, a empresa já tinha feito uma captação seed no ano passado, quando levantou US$ 4,3 milhões. Entretanto, a série A recém-anunciada rodada representa a entrada de gigantes como Google e Microsoft no captable, um sinal importante de como as big techs também estão de olho em greentechs.
Segundo destacou a startup em nota, os recursos servirão para que a companhia cumpra seus contratos existentes, mas também para expandir sua infraestrutura de medição e verificação, assim como desenvolver novas ofertas de software.
Mas afinal de contas, o que é o tal intemperismo acelerado de rochas (ou ERW, sigla em inglês para a tecnologia)? A partir da tecnologia, desenvolvida no laboratório de solo e biogeoquímica da Stanford, a startup remove carbono atmosférico por meio da aplicação de pó de rochas silicáticas em solos agrícolas.
A captura de carbono advinda deste processo vem da interação entre o CO² presente na água da chuva e do solo com a rocha. Essa interação libera cátions e nutrientes benéficos, melhorando a qualidade do solo.
“Nosso objetivo é fornecer a base científica e tecnológica necessária para tornar a remoção de carbono uma solução viável e escalável em nível global, especialmente nas regiões tropicais onde o intemperismo de rochas tem maior potencial”, afirma James Kanoff, CEO da Terradot.
Se um dos pés da Terradot está em São Francisco, o outro está em São Paulo, e a partir de sua operação brasileira a companhia já tem atuação nos estados de São Paulo, Paraná, Mato Grosso do Sul e Maranhão.
Neste estados, a empresa desenvolve ferramentas de medição, verificação e otimização para escalar a tecnologia de forma eficaz nos setores agrícola e de mineração, de olho em clientes como grandes empresas e governos.
Grandes contratos
Além de entrar como investidor, o Google acabou de fechar um grande contrato com a Terradot, prevendo a remoção de 200 mil toneladas de CO², a maior compra de remoção de dióxido de carbono realizada pela gigante da tecnologia.
Além disso, a startup tem um contrato de 90 mil toneladas com a coalizão Frontier, que representa um dos compromissos mais significativos do grupo em ERW, e e o primeiro compromisso em larga escala no hemisfério sul. A coalização conta com empresas como Google, H&M, McKinsey, Salesforce, Shopify etc. Em pouco mais de um ano de operação no Brasil, a Terradot espalhou mais de 48 mil toneladas de rocha em 1,8 mil hectares de terras agrícolas.
Para avançar neste novo modelo de ERW escalável, a Terradot estabeleceu uma colaboração com a EMBRAPA. Juntas, a Terradot e a EMBRAPA Cerrados estão desenvolvendo projetos-piloto visando uma estrutura de ERW que possa ser ampliada em todo o país, aproveitando a vasta força agrícola e potencial de remoção de carbono.
Estima-se que o Brasil tem potencial de mais de 1 gigatonelada de remoção anual de CO? através do intemperismo acelerado, e que regiões tropicais concentram 75% do potencial global dessa solução. Com mais de 1,4 mil pedreiras de basalto operacionais e ampla aceitação de insumos agrícolas à base de rochas, como calcário e remineralizadores, o país reúne condições únicas para integrar ERW ao setor agrícola.
Segundo a brasileira Julia Sekula, CFO da Terradot, o plano a partir do Brasil é colocar o ERW como uma solução global viável para remoção de carbono, em parceria com os agricultores, que é uma parte importante do PIB nacional e que pode se beneficiar de práticas sustentáveis alinhadas ao mercado internacional.
“Reunimos uma equipe científica de alto nível, que desenvolve avanços relacionados à medição e otimização para escalar tanto a ciência quanto às operações. Esse critério da permanência de carbono vai ficar cada vez mais importante e queremos ajudar a construir essa indústria no Brasil”, afirma Julia.
“O Brasil possui um potencial significativo para se posicionar como líder no mercado global de remoção de carbono, com o intemperismo acelerado de rochas despontando como a próxima fronteira desse setor. Essa abordagem, fundamentada em ciência avançada, oferece alta escalabilidade e promete gerar um impacto transformador no futuro do planeta”, completa Antoine Colaço, sócio da Valor Capital.