No começo dessa semana, a Netflix anunciou o seu maior negócio até hoje: ela pagou US$ 5 bilhões para garantir os direitos de exibição do Monday Night Raw, o principal programa de wrestling (luta livre) dos Estados Unidos, em um negócio que surpreendeu muitas pessoas.
Entretanto, no rastro deste meganegócio, o que realmente pegou todo mundo de surpresa foi a polêmica que veio apenas dois dias depois. Vince McMahon, o fundador, ex-CEO da WWE e hoje presidente executivo da TKO, companhia que detém a marca, foi indiciado em um chocante processo envolvendo alegações de assédio sexual e tráfico sexual dentro da WWE, durante o tempo em que ele comandava o negócio.
As acusações, que estão correndo na Justiça dos EUA, foram tratadas em detalhe em uma reportagem divulgada ontem pelo The New York Times. Nem vamos entrar a fundo nos detalhes, mas entre as acusações feitas por uma ex-funcionária de Vince McMahon, Janet Grant, estão constantes assédios do executivo, e até mesmo a exigência de serviços sexuais da vítima para agradar atletas do elenco da WWE em renegociações de contrato.
Apesar de atualmente Vince McMahon não ser mais a figura central da WWE, as acusações repercutem sobre a TKO, empresa que detém a promoção de wrestling e também o UFC. Ela é comandada pela Endeavor, que tirou a WWE dos McMahons no ano passado, quando pagou US$ 9,3 bilhões pela empresa. Contudo, apesar de ter sido afastado em 2022, quando foi alvo de suas primeiras acusações de assédio, Vince McMahon retornou a um cargo executivo da WWE no ano passado, após um acordo, de valor não divulgado, com as vítimas.
Entretanto, com a reportagem bombástica no New York Times, a TKO se manifestou sobre o assunto. “O Sr. McMahon não controla a TKO, nem supervisiona as operações diárias da WWE. Embora este assunto seja anterior à gestão atual da equipe executiva da TKO na empresa, levamos as horríveis alegações da Sra. Grant muito a sério e estamos tratando deste assunto internamente”.
Em resposta ao processo, o porta-voz de Vince McMahon declarou o seguinte: “Este processo está repleto de mentiras, instâncias obscenas inventadas que nunca ocorreram e uma distorção vingativa da verdade. Ele defenderá vigorosamente a si mesmo.”
Como isso impacta a Netflix?
Bem, em um primeiro momento, parece que a polêmica envolvendo o criador e ex-chefe da WWE não respingou na Netflix. Aliás, a TKO sofreu uma queda mínima em seu valor de mercado nesta sexta (26), caindo apenas 0,3% na Bolsa de Nova York. E mais, parece que a TKO já sentia que a bomba estouraria em algum momento e resolveu trazer um outro nome para ser o “rosto executivo” da WWE dentro da TKO. Dwayne Johnson, o The Rock, ex-estrela da WWE, foi anunciado como membro do board de diretores da TKO esta semana.
Do lado da Netflix, caso a TKO consiga se separar das acusações e retirar Vince McMahon de seu quadro executivo, é possível que ela escape sem maiores problemas, ficando apenas com o lado bom do negócio, que é a audiência de 1,7 milhões, ao vivo, todas as segundas.
Contudo, todo esse imbróglio mexe com polêmicas antigas passadas pela companhia. Em 2017, um ex-executivo de RH da companhia afirmou que a empresa tolerou por muitos anos práticas assediadoras e discriminatórias de alguns de seus profissionais de alto escalão.
No fim das contas, a grande ironia de toda essa situação com a Netflix tem a ver com o timing do negócio, principalmente. Por anos, o fundador e ex-CEO da gigante do streaming, Reed Hastings, desdenhou da TV tradicional, chegando a afirmar que este tipo de conteúdo estava com os dias contados. Enquanto isso, concorrentes como o Prime Video, da Amazon, fecharam megacontratos com nomes como NBA para exibir atrações ao vivo.
Daí, na semana em que anunciam o seu primeiro grande contrato para passar atrações ao vivo em sua plataforma, a Netflix faz isso com uma empresa que vira alvo de um mega processo de assédio sexual. É de se pensar.