No Rio Grande do Sul, o Grupo RBS é a maior potência quando se fala de mídia. Mais do que uma retransmissora da Globo, a companhia é um dos maiores grupos de comunicação do país, com faturamento na casa dos R$ 600 milhões em 2021. Contudo, o alcance da RBS vai além de seus jornais, rádios e TV. A empresa acabou de lançar um novo braço de investimento em startups, a RBS Ventures. Contudo, diferentemente de um CVC tradicional, a gestora chega com uma proposta diferente: a de ser uma media capital.
O modelo da RBS Ventures se alinha com uma recente guinada feita pela sua empresa-mãe, a Rede Globo, quando criou a Globo Ventures, fundo de investimentos em startups e em oportunidades de media capital utilizando o poderio do maior grupo de mídia do país.
No caso da RBS Ventures, a tese de aportes se dá através do poder de fogo que a RBS tem na mídia local, aportando valores que podem ser utilizados para divulgação nos diversos veículos que o conglomerado possui.
É uma proposta diferente da investida anterior da RBS no mundo das startups. Há cerca de 10 anos, o grupo participou do e.Bricks Ventures, fundo que investiu cerca de R$ 300 milhões em diversas startups, entre elas a GuiaBolso e RockContent. Em 2020, o e.Bricks se juntou à Joá Investimentos, formando a Igah Ventures, saindo do ecossistema da RBS.
Segundo Mauricio Sirotsky Neto, membro de terceira geração da família que fundou a RBS e sócio-fundador da RBS Ventures, a nova empreitada se diferencia dos fundos de venture capital tradicionais por utilizar a mídia para participar de negócios e acelerá-los em diferentes segmentos.
Segundo o executivo, hoje muitas startups em fase de escalar seus negócios concentram seus investimentos em mídia, e é nesse campo que a RBS Ventures pretende atuar.
“Vivemos um momento em que o modelo de media for equity está amadurecendo, e a RBS como afiliada da Rede Globo viu uma oportunidade relevante de investir em startups com este interesse”, afirma Mauricio, executivo com experiência no segmento de investimentos. Além de liderar a RBS Ventures e ser membro do conselho da RBS, ele é sócio-diretor da Maromar, holding porto-alegrense que atua como private office da família Sirotsky.
Aporte estratégico
O plano da RBS Ventures é atuar como um parceiro de coinvestimento junto a outros fundos, especialmente em negócios B2C e B2BC, com foco inicial junto ao público gaúcho, e também com startups que tragam soluções que façam sentido para o core business do Grupo RBS. “São parcerias que podem gerar sinergias em áreas como recursos humanos, ou de produção de conteúdo”, aponta Mauricio.
A expectativa é anunciar de 2 a 3 novas investidas até o fim do ano, que receberão além do aporte em mídia a consultoria da gestora para otimizar seus investimentos em divulgação, utilizando o ecossistema de veículos da RBS, de TV a rádios, jornais e até mesmo influencers que fazem parte do staff do grupo.
Só para ter uma ideia, a rede do grupo compõe a RBS TV e suas 11 regionais, 5 rádios, 3 jornais, e diversos veículos digitais. “Os investimentos podem ir de R$ 1 milhão a R$ 15 milhões, variando de acordo com a capacidade da empresa em escalar e atender o público que a exposição pode trazer”, explica o executivo, para dar uma dimensão do quanto de impacto a mídia trazida pela RBS pode trazer a negócios locais.
Entretanto, segundo Mauricio, o plano não é ficar apenas regionalizado, e a conexão com outros braços de investimentos ligados à Rede Globo também faz parte da estratégia. “Tem um movimento de ecossistema se formando a partir da Globo Ventures. A RPC, no Paraná, também está se movimentando, e estamos conversando sobre oportunidades de coinvestimento”, aponta.
A primeira investida da RBS Ventures já vem nessa pegada: a Player 1 Gaming Group, um investimento em sociedade com a Globo Ventures, é um spin-off da área de games da Globo, que está tocando o projeto para uma nova marca de cobertura de e-sports e games na RBS, além de novos produtos com a curadoria da P1GG.
Olhando mais para a frente, Mauricio espera que a RBS Ventures chegue a 10 startups investidas em cerca de um ano. Para aumentar sua visibilidade e capacidade de prospecção, a gestora está se aproximando de ecossistemas locais como o Instituto Caldeira, novo “point” startupeiro na capital gaúcha, assim como polos tradicionais de desenvolvimento de negócios, como os parques Tecnopuc (da PUC-RS) e Tecnosinos (da Unisinos). “Fizemos um Pitch Day com o Tecnopuc, e estamos em conversas com duas startups que saíram desta atividade”, revela Maurício.
Além disso, a RBS Ventures também está se aproximando de fundos para acompanhar possíveis rodadas como parceiro de media capital. “Já nos reunimos como fundos e boutiques locais como Stone Capital, Trust & Co, assim como plataformas como StartSe e Captable, e com o tempo também pretendemos falar com fundos de outras regiões”, finaliza Mauricio.