O tal do BNPL (sigla em inglês para Compre Agora, Pague Depois) tem sido um assunto quente para startups e investidores nos últimos tempos. Afinal, trata-se de um mercado bastante promissor. Um levantamento da GlobalData apontou que o valor de transações feitas com essa modalidade de pagamento em 2021 atingiram um total de US$ 120 bilhões em todo o mundo, dobrando a marca alcançada em 2020. Para 2026, a expectativa é que o volume chegue a US$ 576 bilhões.
Apesar dos números, a consultoria destaca que a alternativa de pagamento representa apenas 2,3% do volume total de vendas no ecommerce global – ou seja, de cada US$ 100 gastos, cerca de US$ 2,30 vão para compras por BNPL.
Segundo o analista de pagamentos da GlobalData, Chris Dinga, o BNPL teve um estouro de popularidade, com um volume de transação quase quadruplicando de 2019 a 2021 – US$ 33 bilhões para US$ 120 bilhões. “Este crescimento veloz se deve ao número crescente de vendedores aceitando estas soluções”, citou o analista, mencionando que a adoção do BNPL por gigantes como Amazon e Shopify como movimentos decisivos para esta mudança. O estudo da GlobalData aponta os millenials e Gen Z como os principais adeptos dos pagamentos BNPL.
Crediário 2.0?
Para quem não conhece o tema a fundo, os pagamentos BNPL envolvem pequenos empréstimos ou parcelamentos realizados pela plataforma de e-commerce (por ela própria, ou usado uma fintech parceira) na hora do checkout. A análise e liberação acontecem de forma rápida, utilizando tecnologias de AI. Um dos atrativos da modalidade são os juros mais baixos ou em muitos casos, inexistentes.
A opção ganhou força nos Estados Unidos e na Europa por permitir que os consumidores paguem por suas compras em parcelas e sem ter que usar o cartão de crédito. O estímulo ao consumo tem feito sentido principalmente para atrair jovens da geração Z.
O formato parece familiar? Pois é. No frigir do ovos, o BNPL não é muito diferente do que aqui no Brasil conhecemos, há décadas, como crediário, ou o famoso carnê das Casa Bahia. Isso não tem impedido que startups locais tentem surfar a onda – afinal, nada melhor do que uma novidade com nome gringo pra bombar no mercado, não é?
Startups locais como a Swap, VirtusPay, PayHop, Bom Pra Crédito e Provu estão apostando no BNPL para crescer, atingindo públicos mais jovens e pessoas que não têm cartão de crédito. Na maioria dos casos, o parcelamento acontece por meio do que? Do bom e velho boleto bancário!
Nem tudo são flores
Apesar do crescimento, o analista da GlobalData reconhece que as fintechs de BNPL ainda tem coisas a resolver antes de aumentar ainda mais a popularidade de seus serviços de pagamento. Na Europa, entidades reguladoras do mercado financeiro estão pressionando startups como a Klarna, ClearPay e outras a serem mais transparentes em seus termos de uso.
Segundo as entidades, elas não têm sido claras o suficiente para mencionar as taxas e riscos que a inadimplência pode acarretar no histórico de crédito dos usuários – afinal de contas, tecnicamente estamos falando de empréstimos.
Aliás, a Klarna, a fintech mais valorizada da Europa e segunda mais valiosa do mundo (US$ 45,6 bilhões, atrás apenas da americana Stripe, que vale US$ 95 bilhões), também está com problemas. Na semana passada, ela anunciou um corte de 10% na sua força de trabalho, que é de 7 mil funcionários.
O presidente e fundador, Sebastian Siemiatkowski, atribuiu o corte aos impactos econômicos do conflito entre Rússia e Ucrânia, mudanças na confiança do consumidor, inflação e “uma provável recessão”.
Em meio à uma realidade econômica mais árida (inclusive no Brasil) e um consumidor mais cauteloso, resta saber se 2022 continuará o ritmo animado para o BNPL. Estaremos observando.