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Conheça a Alvin, startup da Estônia que está conquistando talentos brasileiros

A empresa de governança de dados está entrando radar dos talentos do país latino para somar habilidades e avançar comercialmente

Casas sob a neve em Tallinn na Estônia - Startups

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À medida que o modelo de “anywhere office” (escritório em qualquer lugar) ganha força, uma startup estoniana está expandindo sua força de trabalho brasileira, que está contribuindo com o conhecimento técnico e ajudando a moldar a estratégia comercial da empresa.

Com sede em Tallinn, a Alvin automatiza a governança de dados para simplificar o trabalho dos times nas empresas. A companhia foi fundada em 2018 por Dan Mashiter, Romet Kallas e Martin Abelson Sahlén e, desde então, atraiu vários investidores europeus e do Vale do Silício.

No último ano, a empresa começou a acelerar seus planos de crescimento e contratou Gui Lozano, executivo situado na Finlândia especialista em recrutamento brasileiro, para intensificar seus esforços de contratação. Hoje, cerca de metade do quadro de funcionários da startup vem do Brasil; a maioria trabalha remotamente e alguns não têm planos de se mudar para a Estônia.

Até o final de 2022, a Alvin pretende empregar 30 profissionais no total, embora isso possa mudar à medida que a empresa se expande. “Ficamos impressionados com a quantidade de candidatos que tivemos e temos sido bem-sucedidos em contratar rapidamente. O foco atual é no onboarding, mas se houver alguma mudança em termos de financiamento, essas coisas podem acelerar”, diz Martin, em entrevista ao Startups.

Enquanto isso, a startup está avançando na frente comercial. A Alvin assinou seu 1º contrato e está realizando várias provas de conceito com potenciais clientes de diversos setores da indústria para melhor ajustar seu produto ao mercado, conforme a força de trabalho se prepara para apoiar a nova fase de desenvolvimento.

“Há um ano éramos apenas Dan e eu, e agora estamos chegando em 20 pessoas. A empresa está crescendo rapidamente e [focando] em encontrar um equilíbrio ideal entre ter modelos que mantenham as coisas funcionando e permitir que as pessoas trabalhem de forma independente e autônoma”, destaca o fundador.

Construindo a conexão Estônia-Brasil

Segundo Martin, a “conexão brasileira” na Alvin surgiu da pesquisa dos fundadores sobre as capacidades de habilidades que a empresa precisava para apoiar seu plano de crescimento. “Quando começamos a estudar o mercado de dados e procurar pessoas que achávamos interessantes, muitos brasileiros começaram a aparecer, e encontramos alguém fazendo um trabalho interessante com o Google Cloud”, explica.

“Pensamos ‘precisamos contratá-lo, pois seria alguém realmente transformador para a empresa’. Em algumas semanas, ele deixou a empresa onde trabalhava há 10 anos para se juntar a nós”, conta o empresário. O profissional em questão é Marcelo Costa, arquiteto e engenheiro de dados certificado em Google Cloud que trabalhou anteriormente para a multinacional brasileira CI&T. Martin acrescenta que o conteúdo que a startup publica sobre sua missão e valores, em plataformas como o Medium, tem um papel significativo na atração de novos talentos.

“Se eu tivesse que destacar algo que fizemos muito bem e investimos muito tempo, seria o conteúdo, que foi moldado para ser muito interessante não só para potenciais clientes, mas também para pessoas que possam se juntar ao time. Acho que esse foi um dos motivos pelos quais Marcelo ficou impressionado com a visão da empresa”, diz o fundador.

Assim como em muitas empresas early-stage, o cofundador da Alvin argumenta que muito da tração inicial da empresa vem das paixões e rede de contatos dos primeiros funcionários – o que significa que os brasileiros estão desempenhando um papel essencial à medida que a empresa estoniana cresce.

“Somos bastante pragmáticos. Ter muitos brasileiros no time abriu várias oportunidades comerciais interessantes. Se esses movimentos continuarem, vamos expandir as contratações no Brasil, não apenas no lado técnico, mas também para apoiar nossa atividade comercial, de suporte e desenvolvimento de negócios”, diz Martin. “Ter muitas pessoas com ótimo networking e que falam o idioma local é uma grande vantagem para nós.”

Conforme a força de trabalho brasileira aumentava na Alvin, ficou claro para a startup que as empresas estrangeiras subestimam os especialistas de tecnologia do país. “[O Brasil] é continental e tem muito talento inexplorado por vários motivos, incluindo o idioma, já que muitos brasileiros não falam bem o inglês, e também por um pouco de preguiça de olhar para fora de sua cultura e zona de conforto”, observa. “O que [as empresas de fora] perdem são muitas pessoas excelentes que podem agregar muito não apenas do ponto de vista do talento, mas de uma perspectiva cultural.”

Por outro lado, o próprio Brasil perde com essa história, à medida que empresas como a Alvin se tornam cada vez mais conscientes dos talentos disponíveis e dispostas a trabalhar com talentos internacionais – sem necessariamente ter que se mudar. “Tomamos muitas das medidas certas para trazer algumas pessoas de alta qualidade, chamar a atenção de futuros funcionários e, em geral, fazê-los se sentir valorizados – ficamos honrados por essas pessoas estarem se candidatando para trabalhar conosco”, destaca Martin.

“A cultura remota introduzida pela pandemia fez com que muitas pessoas entendessem seu valor e olhassem além do horizonte. O talento está se tornando cada vez mais algo global, e acho que ninguém pode resistir a isso. As empresas precisar traçar suas estratégias para garantir que não vão ficar de fora”, acrescenta.

Também do ponto de vista do recrutamento, Gui diz que as empresas – incluindo as startups – criam processos focados em encontrar motivos para rejeitar pessoas em vez de contratá-las. “As empresas estão procurando uma correspondência 100% com o que acreditam que precisam. E isso tende a ser bastante irreal”, diz o especialista em recrutamento da Alvin, acrescentando que as companhias devem se concentrar no problema que precisa ser resolvido, ao invés de pedir muitos anos de experiência que podem não ser necessários para o trabalho em questão.

“Não criamos requisitos irreais ou testes técnicos específicos. Pelo contrário, tudo é muito baseado em conversas: é sobre tentar oferecer um processo de recrutamento humanizado”, diz o recrutador. “Somos transparentes em relação ao nosso processo, desde o salário [a Alvin define um salário-base de R$ 21 mil], até o feedback: mesmo que você seja um caminhoneiro e seu currículo não seja adequado para o cargo, receberá um retorno nosso.”

Oportunidades pela frente

De acordo com Martin, que também é diretor de tecnologia da empresa, o mercado endereçável da Alvin é vasto: “Considerando as jornadas de transformação de dados que as empresas estão embarcando e as grandes migrações para a nuvem que estão promovendo, a questão atual é: quão maduras são essas empresas e quão longe elas já chegaram em termos de governança de dados. Sentimos que podemos agregar valor nesse aspecto”, ressalta.

“À medida que as companhias crescem e amadurecem, percebem que têm muita pressão em torno da governança e precisão dos relatórios de dados, e acabam contratando muitas pessoas para fazer isso. É aí que entramos, com muita automação e uma ferramenta que pode ajudá-las nesse processo. Estamos particularmente empolgados em trazer mais desses princípios de engenharia de software e DevOps para os processos de dados”, acrescenta o fundador.

Quando se trata dos tipos de clientes que a startup está buscando, embora o aumento de escala seja uma opção natural, o CTO argumenta que Alvin não descarta trabalhar com as chamadas empresas tradicionais. “Existem muitas companhias por aí que são bastante modernas e progressistas”, observa.

Em relação ao que o futuro reserva para Alvin, Martin está otimista com as perspectivas futuras. “O espaço de dados é bastante especial, e esse foi especialmente o caso no ano passado”, diz ele, referindo-se ao interesse de potenciais futuros investidores.

Além disso, o fundador observou que os mercados onde existem regulamentações de proteção de dados, como Europa e Brasil, serão particularmente interessantes para a startup nos próximos meses. “A privacidade é um grande impulsionador, mas as empresas também se preocupam muito com a qualidade de seus dados e sua confiabilidade. Enquanto para muitas empresas conceitos como linhagem de dados e governança teriam sido um pouco mais abstratos e teóricos, agora esses elementos estão se tornando muito mais concretos e entrando no mainstream”, conclui o fundador.

(tradução por Gabriela Del Carmen)