*Marcelo Gimenez Vieira para o Startups
Apesar do cenário desafiador para a economia brasileira, a taxa básica de juros definida pelo Banco Central deve ficar ainda mais baixa que os 9,25% esperados pelo mercado. Isso se deve à série de objetivos secundários assumidos pela autarquia ao longo dos próximos anos, incluindo metas de redução de desemprego e aumento da atividade econômica e do crescimento. O objetivo com isso é aumentar a arrecadação e deixar o país mais próximo de cumprir a meta fiscal assumida pelo Governo Federal.
Essa é a opinião da equipe econômica do C6 Bank, expressada na quarta-feira (8) por seu economista-chefe, Felipe Salles. Ele falou ao público durante a quinta edição da Innovation Xperience Conference, evento realizado em São Paulo pelo Movimento Inovação Digital (MID).
Atualmente em 12,25%, os juros devem chegar aos 11,75% até o fim de 2023, segundo os dados apresentados pelo economista. Isso com uma inflação controlada, pouco acima dos 5%, e expectativa de crescimento real do PIB de 3% ao fim desse ano, apesar da provável retração experimentada em novembro e dezembro.
“O mercado não acredita que haja espaço para a Selic cair assim. O Banco Central, em suas publicações oficiais, deixa claro que, na visão dele, tem espaço para continuar cortando. Mesmo que a inflação fique um pouco alta esse ano, tudo bem, o banco continua trazendo o juro para baixo porque está mirando mais longe. A gente tem uma visão mais pessimista”, disse o executivo.
O economista disse acreditar que o BC tende a dar maior relevância para outras metas que não o controle da inflação, geralmente “remediado” por taxas mais altas. “Com a taxa de juros mais alta, há custo de emprego e crescimento, e com a economia crescendo menos se dificulta a meta fiscal”, lembrou. “É difícil chegar ao equilibro. Mas achamos que o BC tende a cortar juros mais do que o mercado está indicando.”
Segundo o economista, a meta fiscal de déficit zero nas contas do governo federal – que “dificilmente” será alcançada, segundo declarações dadas pelo próprio presidente Luis Inácio Lula da Silva no fim de outubro – é “ambiciosa”, e se cumprida será “uma excelente notícia”, apesar das incertezas. Para ele, “o caminho trilhado é bom”, mesmo com a dependência de um aumento de arrecadação para ser cumprido.
“A dívida do governo deve continuar subindo. É consenso entre economistas. A mensagem é que a busca por mais arrecadação e medidas que melhorem os resultados está só começando, não vai parar agora. O governo prefere ir na direção de aumentar arrecadação.”
Outro impacto da queda dos juros projetada por Felipe é que o dólar deve subir no período, graças a essa queda da taxa básica de juros no Brasil – enquanto nos EUA ela deve se manter elevada. “Quando o juro no Brasil fica alto, o dólar fica barato. Do contrário, fica caro”, disse. “Nossa visão é de que o dólar vai chegar perto de R$ 6 no ano que vem.”
Boas e más notícias
Felipe também fez projeções de longo prazo para o cenário econômico brasileiro. Segundo ele, o País está envelhecendo, e com isso a taxa de pessoas no mercado de trabalho caindo segundo uma taxa de 0,9% ao ano. Para que o ritmo de crescimento seja mantido, portanto, é preciso aumentar a produtividade.
“É difícil modelar a produtividade para o futuro, mas no passado a gente enxerga. Ela crescia 0,6% por ano. Se a produtividade continuar nesse patamar, quanto a economia brasileira consegue crescer? Se nada for feito o Brasil estaria limitado a uma taxa de crescimento baixa”, disse.
Segundo ele, há boas notícias e existem oportunidades. A primeira boa notícia seria a recente reforma trabalhista, que “aumentou a eficiência do mercado de trabalho”. A segunda boa notícia ainda depende de aprovação: a reforma tributária, que foi aprovada em primeiro turno nessa quarta (8), no Senado Federal.
“Vai demorar para [a reforma tributária] fazer efeito, mas é fundamental que seja aprovada porque simplifica enormemente e traz ganhos de oportunidade”, disse Felipe.
Outras oportunidades para o País tem relação com a geopolítica atual. Segundo o economista, se antes a lógica do mercado global era alocar recursos onde a mão de obra é mais barata, agora passou a ser investir onde é mais seguro. Isso afasta o dinheiro de países envolvidos ou afetados por conflitos (Rússia, Ucrânia etc) ou instabilidades políticas.
“Muitas empresas estão indo para o México. É mais seguro pensar que o México não vá ter rupturas. Para o Brasil também é uma oportunidade: somos uma democracia relativamente robusta quando a gente se compara com Turquia, Argentina, Rússia… Temos instituições mais fortes”, disse Felipe.
No que diz respeito à digitalização e ao capital disponível para inovação no Brasil, são boas notícias. “Isso nada mais é do que ganho de produtividade na veia”, disse o economista do C6.