O media for equity é um mercado bastante profissionalizado lá fora, especialmente nos Estados Unidos. Entretanto, para o executivo Pedro Berto, ele ainda tem um longo caminho para trilhar no Brasil. Para contribuir neste processo de profissionalização entre startups e sócios famosos, ele acabou de lançar a Angra VC, gestora que quer conectar startups e influencers de médio e grande porte para impulsionar negócios.
“O mercado de media for equity tem se profissionalizado, com a entrada de outros veículos no Brasil. Entretanto, ele ainda está se educando, pois não é algo para todo mundo”, afirma Pedro Berto, que reside na Europa, mas trilhou um longo caminho na Vila Autódromo, uma favela hoje não mais existente no Rio de Janeiro, até se firmar no mercado de venture capital, passando por fundos como a Redpoint eventures e Volpe Capital.
Antes de montar a Angra VC, Pedro atuou na EDP Ventures, braço de CVC da gigante portuguesa do setor energético. Ele também esteve do outro lado do balcão, trabalhando nas startups a serviço dos fundos em que atuava, o que ajudou o executivo a entender melhor as necessidades de quem busca os investimentos.
De acordo com Pedro, toda essa experiência se reflete no modelo da Angra VC, que quer unir influencers e suas bases engajadas com startups que querem acelerar seu crescimento através destes novos sócios “famosos”. Além disso, do lado dos influencers, a Angra VC cumpre um papel de fundo, analisando negócios com maior potencial de retorno.
“Nossa base é macro, com 500 mil a 1 milhão de seguidores, e megainfluenciadores, com mais de 1 milhão de fãs, e buscamos sempre influenciadores com perfil de sócio, que entendem que o equity está ligado à performance, da entrega que é dada às startups”, explica Pedro.
O foco principal da Angra VC também está direcionado a startups B2C, que buscam uma maior tração em canais de grande audiência, mas querem ir além da publicidade com influencers. “Pagar um publi pode trazer resultado, mas não há nenhuma garantia para as startups”, avalia o cofundador
Quero ser empreendedor
De acordo com executivo, há um grande interesse dos influencers em se tornarem empreendedores e unir forças com startups, ao “emprestar” sua exposição em troca de uma participação no negócio. “Tenho amigos que são influencers, que tem este perfil empreendedor, mas nem todo creator com esse perfil quer ser um sócio full time”, explica.
Segundo Pedro, os creators, principalmente os maiores, estão muito de olho nessa oportunidade, pois já tem contato com o mercado, seja por ações publicitárias ou contratos com marcas, e desejam dar um passo maior.
Por conta disso, a Angra VC faz o matchmaking e ajuda no plano de ação e metas quando um contrato é fechado. Os valores são definidos negócio a negócio, com a gestora cobrando um fee de 20% sobre o vesting dos influencers quando uma meta é batida.
Apesar de chegar no mercado há apenas um mês, o pipeline já está em andamento, com algumas empresas em estágio avançado de negociação com influencers. “A expectativa é que já tenha um deal até o primeiro trimestre de 2024”, adianta Pedro.
A Angra.vc está entrando agora em um mercado que ainda está amadurecendo, mas não é assim um oceano azul. Diversos fundos já estão de olho nas oportunidades do media for equity, como a RBS Ventures (RS), Nexpon (SC) e Quintal Ventures (PR). Outro exemplo (ainda maior), é o da Globo Ventures, que está cada vez mais colocando a parte do “media” em seus aportes em startups.
Do lado das startups, especialmente B2C, onde a torneira do venture capital andou fechando consideravelmente, a busca por outros modelos de investimento tornou o media for equity uma opção com possibilidade de resultado. Segundo a pesquisa The State of Global Media for Growth Funding, lançada pela Brand Capital International e que analisou mais de 1.500 deals deste tipo, empresas que apostaram no media for equity registraram crescimentos de, em média, três vezes.
Evitando encrencas
Sabe o papo de profissionalização que falei no começo do texto? Pois é, segundo Pedro, por conta da falta de um parceiro, alguns influencers brasileiros já se meteram em maus lençóis ao fazer deals. Um caso recente foi o do Girabank, fintech que foi envolvida em polêmicas de fraudes e comprometeu a imagem do influenciador Carlinhos Maia, sócio e “rosto” do neobanco.
Outro caso de sócio famoso que virou polêmica, mas que neste caso quase comprometeu a startup, foi o da healthtech hygia saúde. No começo do ano, ela se viu em um turbilhão com o ex-sócio Daniel Alves, que foi preso e indicado por acusações de estupro – e teve que aprender a duras penas como lidar com isso.
“É um mercado que ainda tem muito deal informal, que vem por amigo ou conhecido. Já vimos alguns casos de influencers que se deram mal ao entrar em negócios que deram errado, pois faltou due dilligence”, aponta Pedro. Segundo o executivo, o papel da Angra VC neste caso será muito semelhante ao de um VC tradicional, em que startups são analisadas para que os “limited partners”, que no caso são os influencers, possam fazer negócios melhores.
“Só vamos mostrar para o influencer o que de fato a gente acredita e que tenha fit com ele. Além disso, damos o suporte e ajudamos a amarrar isso tudo, com metas e planos”, pontua o fundador.
Com esta proposta mais profissional, agora o plano da Angra VC é chegar a mais influencers e startups, aumentando a sua rede de conexão. “Inicialmente nossa meta é crescer no boca a boca, no bootstrapping. Assim como no mercado de VC, o cenário de influencers também se conhece bastante, então vamos aproveitar isso”, finaliza Pedro.