
O Bitcoin vem caindo nos últimos dias, em meio às incertezas sobre o fim do shutdown nos Estados Unidos – o mais longo da história do país, com 43 dias de paralisação. A sinalização do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) de que a taxa de juros pode não cair no ritmo esperado, também afetou o mercado, que adotou uma postura mais cautelosa.
Esperava-se que o fim do shutdown, nesta sexta-feira (14), ajudasse a trazer algum alívio para a trajetória de queda da criptomoeda. No entanto, o Bitcoin continuou caindo ao longo do dia, o que aumentou os receios de que a moeda estivesse se aproximando de um bear market, ou seja, um período prolongado de queda consistente nos preços de ativos.
Para analistas ouvidos pelo Startups, porém, o cenário não é tão ruim, se aproximando mais de uma correção de meio de ciclo.
O Bitcoin abriu o dia próximo dos US$ 100 mil, mas chegou a bater o patamar dos US$ 94 mil por volta de 13h30, retomando logo em seguida uma leve trajetória de alta.
Por volta das 14h30, o Bitcoin era negociado em queda de 3%, negociado a US$ 96.623. No mês, a criptomoeda acumula queda de quase 15%.
Em análise publicada nesta manhã, Rony Szuster, head de research do Mercado Bitcoin (MB) afirma que o chamado bear market começaria se o preço da moeda rompesse níveis como US$ 95 mil ou US$ 93 mil.
“Até o momento, o Bitcoin não perdeu o suporte de 98 mil dólares. E, se recuperar os 100 mil antes do fechamento das 21h, nem o candle diário ficará abaixo desse patamar. Esses dois sinais seriam importantes. Para nós, um bear market só começaria se o preço caísse de forma mais forte, rompendo níveis como 95 ou 93 mil. A queda recente ficou longe disso, então seguimos com o cenário-base de bull market”, disse o head de research do MB em comentário enviado ao mercado pela manhã.
Fillipe Trentin, CEO da Oxus Finance, destaca que o Bitcoin está apenas 20% abaixo da máxima histórica. Em ciclos anteriores, quedas de 50% a 80% eram a norma, o que, segundo ele, mostra resiliência e maturidade do ativo.
Parte dessa queda, de acordo com ele, está ligada a uma realização de lucros. “O que preocupa mais são os US$ 870 milhões em saídas dos ETFs de Bitcoin (segunda maior da história) e as liquidações de US$ 1,1 bilhão em posições alavancadas. Isso mostra que o mercado estava excessivamente alavancado e a correção está limpando o excesso de especulação o que, na minha visão, é saudável no médio prazo”, diz.
O que vem por aí
O shutdown acontece nos EUA ocorre quando o Congresso deixa de aprovar ou o presidente se recusa a sancionar as leis orçamentárias anuais. Como consequência, funcionários são suspensos (ou permanecem trabalhando sem pagamento), contratos são suspensos ou adiados, programas ficam sem novos pagamentos ou serviços, benefícios sociais são interrompidos, compras ou serviços públicos são adiados etc.
Outro problema é que, durante o shutdown, várias agências responsáveis por produzir indicadores econômicos, como o Departamento do Trabalho (BLS), o Departamento do Comércio (BEA) e o Census Bureau, suspenderam a divulgação de relatórios, fazendo com que o Fed não tivesse acesso a dados para tomar decisões sobre as taxas de juros.
Nesta quarta-feira, Trump sancionou o acordo aprovado na Câmara que colocou fim ao shutdown. No entanto, o problema continua, pois o acordo apenas prorroga o financiamento do governo até 30 de janeiro de 2026. Ou seja, poderá haver outra paralisação no início do próximo ano, caso o Congresso não aprove o orçamento.
Para Fillipe, a queda no Bitcoin é sintoma de uma crise sistêmica de liquidez no mercado financeiro americano. Segundo ele, o shutdown não foi apenas uma crise política, mas um experimento involuntário sobre o que acontece quando o governo para de injetar liquidez na economia.
“Enquanto o mercado de ações consegue se sustentar artificialmente na narrativa de IA, o Bitcoin não mente e os números são alarmantes. As reservas bancárias no Fed despencaram desde 2022, enquanto a conta do Tesouro americano inchou para US$ 940 bilhões. Isso significa que o governo está literalmente sugando liquidez do sistema”, afirma.
No entanto, ele acredita que esse problema está próximo de ser resolvido. “A administração Trump não vai deixar o sistema secar. O Fed já sinalizou que vai parar de reduzir o balanço em dezembro. Quando a liquidez retornar, o Bitcoin será o primeiro a reagir”.
Rony Szuster, head de research do Mercado Bitcoin (MB), observa que indicadores técnicos apontam para a possibilidade de estarmos próximos de um fundo local que pode anteceder uma retomada.
“As médias móveis de 50 e 200 períodos estão prestes a formar uma Death Cross, algo que deve ocorrer amanhã ou no sábado. Historicamente, esse cruzamento costuma aparecer perto de fundos locais. Nas últimas vezes em que a Death Cross surgiu, o mercado marcou um fundo e, semanas depois, engatou movimentos fortes de alta. Isso reforça nossa leitura de que podemos estar diante de algo semelhante agora”, avalia.