Em cinco anos, a relação dos brasileiros com o dinheiro virou do avesso. As transferências bancárias, antes realizadas por TED ou DOC, podiam levar dias para serem processadas – e geralmente vinham acompanhadas de taxas. Empréstimos e investimentos exigiam uma visita ao gerente, e uma ida ao banco que consumia horas em longas filas. Com oportunidades geradas por um sistema bancário concentrado e ineficiente, as fintechs começam a ganhar força no Brasil, atendendo a uma parcela da população até então desassistida pelos bancões. As mudanças aceleraram com a pandemia e culminaram no lançamento do Pix, em novembro de 2020, revolucionando o mercado de pagamentos.
Mas as transformações na forma como lidamos com o dinheiro não param por aí. Se os últimos anos foram de digitalização e instantaneidade para o sistema financeiro, os próximos cinco serão marcados por um mercado mais descentralizado e o fim das fronteiras. Nesse novo cenário, as criptomoedas e o blockchain tomam a frente, representando uma mudança de paradigmas quase filosófica.
“O mundo está ficando com fronteiras cada vez mais claras e elevadas, e essa é exatamente a antítese do blockchain. Quando um lado puxa para um extremo, a tendência é que o lado oposto se fortaleça também”, ressalta João Zecchin, co-fundador da BRX Finance, provedora de infraestrutura financeira em blockchain.
Ao lado de Guilherme Hug, Alexis Terrin e Dan Yamamura, João fundou em 2019 a Fuse Capital, gestora que nasce como um venture capital tradicional, mas em 2020 começa a se especializar em blockchain. Em abril do ano passado, a Fuse anuncia uma joint venture com a Transfero, de criptoativos, para a criação da BRX Finance, aproveitando o histórico das duas companhias para o desenvolvimento de novas soluções para o ecossistema financeiro em blockchain.
Para João, as stablecoins são o próximo passo para uma integração ainda maior do sistema financeiro, permitindo que se criem possibilidades como, por exemplo, o investimento em títulos do Tesouro americano em blockchain, “o que era impensável há dois anos”.
“O futuro é anárquico no sentido de quebra de barreiras, mas o regulador está vindo numa linha de querer entender e proteger o consumidor final, o que é o melhor dos dois mundos”, diz.
Uma das primeiras plataformas para negociação de criptoativos no Brasil, o Mercado Bitcoin surgiu há 12 anos, mas foi há cerca de cinco anos que passou a olhar para esse segmento de forma mais ampla, incorporando a renda fixa na sua plataforma por meio da tokenização desses ativos. Com meta de passar dos atuais 4,3 milhões de clientes para 25 milhões em 2030, o CEO Reinaldo Rabelo acredita que, no futuro próximo, as stablecoins se tornarão a regra no ambiente digital.
“Todo banco será um banco com moeda digital, seja com o Drex ou com emissões privadas. Assim como aconteceu com TED e DOC, as transferências internacionais vão se tornar mais simples e baratas, como se fosse um Pix entre países”, prevê.