Cripto | Foto: Canva
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A falta de regulação dos criptoativos era considerada um entrave para o avanço desse segmento, segundo 90% das empresas ouvidas por um estudo realizado pela Associação Brasileira de Criptoeconomia (ABcripto), em parceria com a PwC Brasil. Novas regras editadas pelo Banco Central e pela Receita Federal nas últimas semanas, porém, podem ajudar a destravar esse mercado, aponta o levantamento.

As novas resoluções do BC entram em vigor em 2 de fevereiro de 2026. Entre as mudanças está a criação da categoria de sociedades prestadoras de serviços de ativos virtuais (SPSVAs), que englobam corretoras, exchanges ou outras plataformas que oferecem serviços relacionados a criptomoedas, tokens, stablecoins, entre outros. Além disso, as normas estabelecem que algumas dessas transações passam a ser tratadas como operações do mercado de câmbio e capitais internacionais, e preveem a prestação de informações para o Banco Central sobre essas operações.

Já a Receita Federal criou a Declaração de Criptoativos (DeCripto), um novo padrão de declaração de operações com ativos virtuais, alinhado com o Crypto-Asset Reporting Framework (CARF) da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). O envio mensal da DeCripto será obrigatório a partir de julho de 2026, via e-CAC (Centro Virtual de Atendimento).

Para Fabio Moraes, diretor de Educação e Pesquisa da ABcripto, o alinhamento entre inovação tecnológica e segurança jurídica é fundamental para definir o ritmo de expansão do setor. “O Brasil está construindo uma infraestrutura financeira digital sólida, segura e inclusiva. Temos um mercado tecnicamente maduro, que domina blockchain, tokenização e cripto, mas precisa de um ambiente regulatório estável para liberar todo o seu potencial. Quando regulação clara e inovação caminham juntas, o resultado é crescimento sustentável, eficiência e inclusão”, afirma.

Entre as empresas ouvidas pelo levantamento, 80% consideram as criptomoedas como a tecnologia de maior impacto para seus negócios. Elas também aparecem como a tecnologia mais bem compreendida pelas empresas: 73% delas afirmam ter alto ou profundo domínio técnico, e 97% reconhecem benefícios concretos em usos como investimento, liquidez, intermediação e pagamentos.

A tokenização também ganha destaque. Atualmente, 74% das empresas dizem dominar essa tecnologia, e 73% já enxergam aplicações práticas para aumentar a eficiência operacional, diversificar investimentos, captar recursos ou automatizar processos financeiros. Além disso, 60% acreditam que a tokenização deve se consolidar nos próximos dois a cinco anos.

O blockchain, por sua vez, já é visto como uma infraestrutura fundamental: 83% das empresas dominam seu funcionamento, 77% identificam oportunidades de transformação ligadas à sua adoção e apenas 3% não reconhecem valor na tecnologia DLT. Por fim, soluções emergentes como DeFi já são conhecidas por 47% das empresas, enquanto os NFTs aparecem no radar de 9%, com expectativa de crescimento conforme avançarem a padronização técnica e a estabilidade regulatória.

Cibersegurança

Além da regulação — apontada como o principal risco por 90% das empresas — também ganham destaque preocupações com cibersegurança (48%), falta de profissionais qualificados (47%), risco de fraudes (45%) e desafios de escalabilidade e integração tecnológica. Para a maioria das empresas, a consolidação do setor deve ocorrer no médio prazo: 60% estimam que isso acontecerá entre dois e cinco anos.

Ana Gonçalves, sócia da PwC Brasil, destacou que a tecnologia agrega valor em várias frentes da criptoeconomia, contribuindo para a gestão de riscos, o aumento da eficiência e a ampliação da capacidade operacional.

“Por isso, cibersegurança precisa permanecer como prioridade, acompanhando o avanço do setor e o fortalecimento das práticas antifraude. A regulamentação trará mais organização ao mercado, definindo quem pode operar e de que forma, mas, sozinha, não é suficiente para eliminar todos os riscos de segurança”, diz.

Startups e fintechs lideram movimento

Startups e fintechs estão à frente da expansão do mercado cripto, que se mostra cada vez mais diverso e dinâmico. Entre as empresas analisadas, 53% atuam em serviços financeiros e 23% em tecnologia. Outros setores presentes incluem serviços profissionais (10%), educação, infraestrutura digital, consultorias e soluções corporativas. Embora o setor financeiro seja predominante, 63% das empresas não possuem licença bancária, reforçando o protagonismo de novos entrantes.

Quanto à maturidade, o cenário revela um ambiente em evolução: 53% das empresas estão em fase de consolidação, 20% em expansão, 20% ainda iniciando suas operações e 7% desenvolvem MVPs. O ecossistema combina organizações de diferentes portes — de micro a grandes corporações — com faturamentos que variam de menos de R$ 5 milhões a mais de R$ 200 milhões. As expectativas seguem otimistas: 57% projetam crescimento entre 1% e 50%, enquanto 40% esperam avançar acima disso. Em relação ao público atendido, 50% focam exclusivamente em pessoas jurídicas, 43% atendem tanto empresas quanto consumidores e 7% atuam no varejo, consolidando a diversidade de modelos de negócio que impulsionam o setor.