Há cerca de um ano, nós dos Startups estivemos em Manaus para acompanhar a abertura da fábrica da Voltz na Zona Franca, um investimento de R$ 12 milhões para acelerar o ritmo de fabricação da montadoras de motos elétricas e eliminar o backlog de pedidos. Em 2023, entretanto, o cenário é outro: a companhia ainda lida com atrasos nas entregas e enfrenta uma ação de despejo em sua fábrica por conta de pagamentos não realizados.
Segundo reportou inicialmente o portal Capital Reset, a startup de mobilidade está respondendo a um processo movido pela empresa Manaus III Projetos Imobiliários devido à falta de pagamento. Segundo documentos disponíveis online, a ação iniciou em 17 de abril e o valor da causa é de R$ 2.799.606. Apesar do documento não dar detalhes sobre o imóvel com pagamentos em atrasos, tudo indica que tem a ver com os galpões alugados pela Voltz para sediar a sua montadora.
Procurado pela reportagem do Startups, o CEO e fundador da Voltz, Renato Villar, confirmou o processo e que ele tem a ver com o aluguel da fábrica, mas que não passa de uma questão protocolar. “O aluguel está atrasado em apenas dois meses e está em negociação amigável com o inquilino — as empresas Hines e Manaus III“, explicou o executivo. Até o momento,a Manaus III Projetos Imobiliários não se pronunciou sobre o caso.
“O time da Hines e do Manaus III são super parceiros. O valor da causa é esse porque, por lei, deve ser calculado o valor de 12 aluguéis. Mas são dois meses de seguro garantia”, completa Renato, que atribui a origem dos problemas às questões logísticas – no caso, os problemas que a Voltz ainda enfrenta para entregar os pedidos de seus clientes.
“O problema de logística na cadeia de entrega leva ao problema financeiro”, explicou o CEO em nota enviada ao Startups. Segundo ele, problemas no mercado asiático fizeram o ciclo total dos pedidos subir para 180 dias, o que afetou o caixa da companhia.
Outro ponto citado pelo CEO em nota ao Startups foi a dificuldade da Voltz em levantar novas rodadas. “Nós contávamos com uma captação que estava acertada em 2022, porém o cenário mudou e agora estamos captando”, revelou Renato, sem entrar em detalhes sobre quanto a companhia está levantando ou quando a rodada pode ser fechada.
A última captação realizada pela montadora foi em 2021, quando recebeu um cheque de R$ 100 milhões de dois investidores de peso: R$ 5 milhões saíram do bolso do Grupo Ultra – que controla os postos Ipiranga – e mais R$ 95 milhões foram investidos pela Creditas. Entretanto, segundo Renato, para manter o ritmo de crescimento, e os planos divulgados no ano passado – que envolviam a criação de novas linhas de motos e serviços como estações de recarga – mais dinheiro será necessário.
“Sim, sabemos que quanto mais crescemos, mais caixa será necessário e estamos buscando múltiplas soluções além de equities (investidores)”, completa o CEO em nota.
Metas não atingidas
Na época da inauguração da fábrica em Manaus, a companhia apontou que no início, o ritmo de fabricação da planta seria de 800 a mil motos por mês, com o plano de chegar até o final de 2022 com 5 mil motos/mês, o que não apenas eliminaria o backlog de pedidos como também produziria um estoque para pronta entrega.
Entretanto, conforme revelou Renato Villar ao Startups, o número ficou bem abaixo da meta – cerca de 4,5 mil motos no ano. “Foi o melhor número de nossa trajetória até aqui, (mas) ainda temos cerca de 1300 motos para entregar em backlog. A demanda continua elevada e temos uma fila de reserva e que nossa ambição é atender até o final de 2023”, explica o CEO.
Os atrasos nas entregas afetaram também as parcerias que a Voltz tinha estabelecido no ano passado quando se preparou para ampliar a sua capacidade produtiva. Uma delas foi com o iFood, criando condições facilitadas para motoboys trocarem suas motos pelo modelo EVS Work.
Quanto às dificuldades no programa de motos elétricas com a Voltz, o iFood chegou a responder para o jornal O Globo que criou alternativas para os entregadores optarem por veículos menos poluentes. Atualmente, a maior parte deste programa se dá com uma parceria do app de food delivery com a Tembici, com 40 mil entregadores participantes (22% dos pedidos da plataforma).