Quando a Uinvex começou a oferecer investimentos por meio de crowdfunding em projetos imobiliários e de energia solar, a plataforma se deparou com um problema: a falta de liquidez. É que cada projeto possui um prazo de conclusão – e os investidores só podem resgatar o valor aportado ao final desse prazo, que pode levar anos. Mas esse obstáculo acaba de ganhar uma solução.
Nesta terça-feira (03) a Uinvex e a B3 inauguram uma plataforma que permite aos investidores negociarem tokens dos seus ativos de crowdfunding, garantindo maior liquidez a esse mercado. Com liquidação financeira via Pix, a operação acontece em blockchain, o que permite ter rastreabilidade e controle de titularidade.
Inicialmente, a Uinvex havia desenvolvido uma solução própria para criar uma espécie de mercado secundário dentro da plataforma. Isto é, um espaço onde os investidores pudessem vender a sua cota no projeto, resgatando assim uma parte ou a totalidade do valor.
Em abril deste ano, porém, a B3 começou a providenciar uma solução tecnológica white label para as chamadas “transações subsequentes”, modalidade que foi criada em 2022 por uma atualização na Resolução nº 88 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
A medida permitiu que as plataformas de crowdfunding atuem como intermediadoras da compra e venda de títulos das empresas que realizarem ofertas em sua plataforma, denominadas de transações subsequentes.
Na operação anunciada nesta terça-feira, a Uinvex realizou a captação primária para investimentos na Saveon Energia, empresa especializada em energia solar. Em seguida, contratou a plataforma desenvolvida pela B3 para permitir a tokenização e a negociação subsequente dos contratos de investimento.
“Quando a gente soube que a B3 estava entrando nesse mercado, quisemos colocar nossa solução in-house na geladeira e fazer com eles, que possuem tecnologia, infraestrutura, marca e credibilidade. Nesta terça-feira fazemos a primeira oferta pública com esse mecanismo da B3“, explica André Sobreira, co-fundador da Uinvex.
Flávia Mouta, diretora de Emissores da B3, afirma que, neste primeiro momento, a resolução da CVM permite que as negociações subsequentes sejam realizadas apenas dentro da própria plataforma. Neste caso, na Uinvex. No entanto, existe a possibilidade de que as normas sejam novamente atualizadas, permitindo negociações desses tokens em outras plataformas também.
“A CVM já sinaliza que em algum momento adiante fará mais um movimento de evolução dessa resolução. Estamos sempre buscando novas alternativas para ampliar o espectro de atuação para captação das empresas, para que o mercado de capitais não fique concentrado em poucas companhias. Mas nada precisa ser feito sozinho. Juntamos a experiência da B3 em sistemas de tecnologia com a experiência da Uinvex e o olhar de quem é esse emissor e como ajudá-lo”, afirma a executiva da B3.
Como funciona
Fundada em 2023 por André Sobreira e Ivano Westin, a Uinvex é uma plataforma de investimentos em projetos selecionados e exclusivos, que passam por uma curadoria. A ideia, segundo os sócios, é permitir a empresas que normalmente não teriam acesso a financiamento por meio do mercado de capitais conseguir captar recursos com investidores pessoa física.
Cada projeto possui condições diferenciadas. O investimento mínimo na Saveon Energia, por exemplo, é de R$ 5 mil, com rentabilidade estimada de 25% ao ano (cerca de 2% ao mês). Caso queira vender sua participação em uma negociação subsequente, o investidor deve negociar unidades da nota comercial, que corresponde a R$ 5 mil.
“Não podemos ter venda fracionada. Se o investidor comprou duas notas comerciais, ele pode anunciar interesse em vender uma nota ou duas, mas não uma fração da nota. O preço em que vai colocar a venda, quem define é o investidor. Pode ser mais alto ou mais baixo do que o valor que ele pagou”, aponta Ivano.
Além de oferecer uma opção com retornos acima do CDI para os investidores, o empreendedor acrescenta que a plataforma vai trazer mais liquidez para um mercado que favorece o setor de pequenas e médias empresas, responsáveis por 52% dos empregos do país e 30% do PIB.
Especializada nos segmentos imobiliário e de energia solar, a Uinvex está se preparando para entrar em um novo mercado: o de precatórios. “Entramos em setores onde possamos ter garantias reais, com bons empresários. Existem muitos fora de São Paulo, onde o funding normalmente é mais fácil”, diz Ivano.
O fundador também tem experiência com investimentos em startups e acredita que a plataforma trará benefícios para essas empresas, tanto quanto para as PMEs.
“Existem muitas startups que são muito boas e vão para friends and family para captação por conta de uma dificuldade de acesso ao mercado de capitais. Esse mecanismo possibilita que a empresa ofereça seu ativo, seja dívida ou equity, por meio de uma oferta pública em uma plataforma regulada pela CVM e com amplitude em todo o território nacional. A quantidade de possíveis investidores é muito maior”, aponta.