Finlândia
Bandeira e mapa da Finlândia (Foto: Canva)

Enquanto milhares de brasileiros marcam presença em eventos como SXSW e Web Summit, menos de 15 estiveram no Slush do ano passado, em Helsinque, Finlândia. Considerado um dos maiores festivais globais de startups e tecnologia, o evento reuniu cerca de 13 mil participantes, sendo 70% deles startups e investidores de venture capital. A baixa representatividade latino-americana chamou a atenção do Cubo Itaú, hub brasileiro que agora se prepara para mudar esse cenário.

Entre 16 e 22 de novembro, o Cubo vai liderar uma missão a Estocolmo e Helsinque, levando startups, corporações e investidores brasileiros para uma imersão nos ecossistemas nórdicos. O objetivo é se inspirar em um ambiente conhecido por gerar unicórnios, inovação tecnológica e soluções sustentáveis, adaptando essas lições para a realidade latino-americana.

Olhando além do Vale do Silício

“A gente vê o Slush como o SXSW de 10 anos atrás”, afirma Marcella Falcão, Head de Growth do Cubo Itaú, refletindo sobre a adesão crescente de brasileiros ao festival norte-americano, hoje já consolidado. “Nosso papel é estar na fronteira da inovação e fomentar o empreendedorismo tecnológico. Por isso, sempre buscamos aprender com outros ecossistemas.”

Segundo Marcella, os países nórdicos se destacam em áreas ligadas a desafios globais, como sustentabilidade, deep tech e saúde. “São temas que discutimos bastante no Brasil, e a Europa tem empresas importantes olhando para essas áreas. As conexões seriam muito bem-vindas”, considera.

A escolha pelos países nórdicos não significa abandono das referências tradicionais. O Vale do Silício segue como modelo – o Cubo, inclusive, ainda apoia iniciativas como a Brasil at Silicon Valley -, mas o objetivo é complementaridade. “Estamos falando de um ecossistema mais colaborativo e sustentável, com conexão com políticas públicas. É olhar para o diferente”, pontua.

A reflexão que move o hub brasileiro é clara: “O Vale do Silício foi nossa referência há 10 anos. O que vai inspirar os próximos 10?” A resposta passa pela diversificação geográfica. Para 2026, o Cubo já planeja explorar novos destinos, como a China e outros países da Ásia, e criar um calendário recorrente de missões para ecossistemas considerados “menos óbvios” pelos empreendedores.

Conexões globais

A seleção dos participantes reflete a diversidade do ecossistema atendido pelo Cubo, abrangendo startups, corporações e investidores. Entre os escolhidos estão empreendedores focados em sustentabilidade, fundadores que já venderam empresas e buscam referências para novos negócios, investidores que querem conhecer novos parceiros, e executivos corporativos inspirados por deep techs e em busca de soluções para POCs. 

Luciana Ramos, fundadora e CEO da Cashin, avalia que a abordagem diferenciada faz toda a diferença. “O Vale do Silício tem inovação muitas vezes desconectada de propósito ambiental ou de melhoria de vida. Lá [nos países nórdicos], você sai um pouco dessa caixinha. É uma visão totalmente diferente.”

Filipe Guimarães, Head de Corporates do Cubo Itaú, esteve no Slush em 2024 e complementa a visão institucional. “Nosso objetivo é ser a lente para o mundo quando ele quer enxergar a América Latina. As missões servem para levar o que temos aqui e também mostrar nosso ecossistema como oportunidade de desenvolvimento para startups estrangeiras”, pontua.

Filipe detalha o diferencial do Slush: foco em founders e investidores, infraestrutura pensada para gerar o máximo de networking, e uma organização leve conduzida majoritariamente por voluntários universitários. “As pessoas olhavam o crachá e já diziam: ‘Ótimo, Filipe, deixa eu te fazer meu pitch’ – e isso no corredor mesmo. Faz tempo que não via um desejo por se conectar tão forte quanto no Slush.”

A infraestrutura também impressiona: três palcos sem interferência entre si, mais de 120 posições de networking reserváveis pelo aplicativo, e crachás enormes com QR Code integrado para interação imediata. “Tudo pensado para facilitar conexões reais”, ressalta Filipe.

Cadê os brasileiros?

Apesar da relevância, poucos brasileiros participam do Slush. Filipe lembra que conheceu menos de 10 compatriotas em Helsinque na edição do ano passado. “Conheci uma brasileira que mora em Helsinque e faz parte da organização do Slush. Quando me apresentei, ela disse ‘nossa, vocês são brasileiros? Nunca vi por aqui’”, conta.

Marcella, Head de Growth do Cubo Itaú, aponta que a falta de acesso a informações sobre ecossistemas menos populares contribui para a baixa participação. “O SXSW atrai entre 50 mil e 100 mil pessoas. O Slush recebe cerca de 13 mil. Ecossistemas menores numericamente acabam ficando menos conhecidos”, avalia.

Para a executiva, o verdadeiro valor do evento está na densidade intelectual, não no tamanho.
“O Slush mantém uma pegada de comunidade e conexão, com investidores e founders engajados, lembrando o perfil que o SXSW tinha no passado.”

Questões práticas também influenciam, como distância e percepção de que o ecossistema nórdico é fechado – algo que Filipe refutou pela experiência do Cubo em 2024. 

Aumentando a caravana

Em 2025, o grupo brasileiro da missão deve crescer para 15 a 20 pessoas. Luciana Ramos, CEO da Cashin, reforça o objetivo da participação: “Quero trocar bastante com brasileiros e também com europeus, porque lá estão em um grande centro de inovação.”

Além do Slush, a agenda inclui visitas à Lovable, unicórnio sueco de criação de sites e apps via processamento de linguagem neural; ao Norrsken House, importante hub de tecnologia de impacto em Estocolmo; e ao VTT Technical Research Centre of Finland, para entender como a Finlândia transforma pesquisa de ponta em crescimento industrial sustentável.

“A agenda nos permitirá trazer conhecimento, identidade e talentos para a América Latina após o evento”, afirma Marcella. Filipe complementa: “Queremos transformar a experiência em resultados práticos, influenciar a forma como eventos são pensados no Brasil e gerar negócios reais por meio de conexões.”

Para quem vai à missão, o executivo deixa um conselho: “É preciso ir com abertura e dedicação plena. Toda a imersão será importante, e é fundamental participar do início ao fim, com a agenda bem estruturada para aproveitar ao máximo.”

Criando pontes

Para o Cubo, a missão aos países nórdicos faz parte de uma estratégia maior: conectar a América Latina ao ecossistema global. “Chega empreendedor aqui, está em Jundiaí, mas quer construir na Índia. Ter pontes globais nos possibilita saber quem é a melhor pessoa para conectá-lo. O mesmo vale para um executivo que busca benchmark em Helsinki – ter essa conexão já estabelecida ajuda muito”, exemplifica Marcella. A expectativa, segundo ela, é criar parcerias estratégicas, não necessariamente abrir uma unidade do Cubo em cada país.

Filipe reforça o potencial de atração de talentos e soluções para o Brasil. “Queremos que startups nórdicas vejam nosso ecossistema como oportunidade, principalmente para deep tech e soluções ESG, aproveitando o volume de demandas e o potencial continental do país”, conclui.