Depois de um período mais contido em 2024, a RV, braço de corporate venture capital da gaúcha Randoncorp, retoma o ritmo de crescimento em 2025, isso no embalo de dois exits importantes. O mais recente, feito em abril, foi o da fintech Money Money, adquirida pela multinacional norte-americana Fiserv. Com esse impulso, a gestora gaúcha agora mira novos investimentos até o final do ano.
No ano passado, o CVC não teve nenhum cheque novo assinado, mas, segundo Mateus de Abreu, diretor da RV (antes chamada Randon Ventures), não foi exatamente uma decisão deliberada. “Foi mais um reflexo do mercado, mas estamos vendo ele recuperando a saúde”, completa.
“Temos deals em análise e a expectativa é assinar pelo menos dois novos cheques ainda este ano. Estamos qualificando o funil com atenção”, destaca o executivo, em conversa exclusiva com o Startups.
Além do exit com a Money Money, no fim de 2024 a RV também fez sua saída da Delta Global, startup de soluções logísticas que recebeu um investimento de R$ 13 milhões em 2023. No caso da Delta, o exit foi “dentro de casa”, já que a logtech foi comprada pela Rands, spin-off de serviços que integra a Randoncorp – e na qual Mateus também é Diretor de Negócios.
Perguntado pelo Startups, Mateus não deu detalhes sobre o quanto os deals representaram de retorno para o CVC, mas segundo o executivo, eles chegam como uma validação importante para o modelo de investimentos do veículo. “Isso vale especialmente para o caso da Money Money, que foi um deal que fizemos com um comprador externo”, pontua o executivo.
O exit da Money Money
No caso da fintech Money Money, especializada em soluções de crédito, o caminho até o M&A com a Fiserv, multinacional com cerca de US$ 90 bilhões de market cap, foi um plano construído com participação da RV. Inicialmente, a fintech rodou suas soluções dentro do Banco Randon, ajudando a instituição do grupo a entender como oferecer produtos de crédito a PMEs.
Entretanto, em meio ao esfriamento do mercado nos últimos dois anos, a Money Money resolveu focar no seu core business, não com a visão de buscar novas rodadas, mas de se tornar um ativo interessante para um possível M&A. Foi aí que a empresa recebeu um follow-on da própria RV em 2024, reorganizando seu produto e abrindo portas para o deal com a Fiserv, que foi fechado este ano.
O negócio incluiu todos os ativos tecnológicos e a equipe da fintech brasileira. A operação marca a entrada oficial da Clover Capital, marca de serviços da Fiserv, no Brasil. Com a aquisição, a base de leads atendida salta de 30 mil para mais de 400 mil anuais.
“Com a gente, a Fiserv encontrou uma solução pronta para escalar com a marca Clover. O produto chega no Brasil com a Money Money, que, com o tempo, vai se tornar essa nova marca. Vamos continuar com nossa missão, agora com um escopo muito maior, dentro de uma grande corporação, mas que mantém nosso propósito inicial: fazer crescer pequenos e médios negócios”, destaca Marcos Travassos, fundador da Money Money.
Para Mateus de Abreu, o plano bem-sucedido com a Money Money dá uma chancela diferenciada para o fundo, fugindo da crença comum de que CVC é só para gerar dealflow para a mantenedora. “Quando temos uma conexão estratégica com as investidas, isso cria um valor que vai além do exit e dos múltiplos — senão, seríamos mais um VC do que um CVC”, afirma.
Uma estratégia variada
Olhando além dos cheques e dos múltiplos, no último ano a RV também se movimentou em outras direções para diversificar sua atuação como CVC. Desde o ano passado, a companhia está investindo em programas de aceleração próprios para startups em estágios iniciais.
“Rodamos no último ano duas turmas, com um feedback interessante, com mais de 150 startups inscritas em cada edição”, destaca Mateus. A primeira turma acelerou cinco startups, todas com mentorias e provas de conceito (POCs) com empresas do grupo. A segunda contou com seis participantes, e duas delas estão atualmente em avaliação para possíveis contratos com a Randoncorp.
Segundo ele, a iniciativa também ajuda a atender demandas internas da mantenedora e a se aproximar de soluções inovadoras que ainda não estão prontas para receber um investimento direto. “A aceleração permite criar vínculo sem a obrigação de investir em um primeiro momento. Posso acompanhar startups, ajudá-las a se preparar para uma captação futura — sendo o investimento nosso ou não”, afirma Mateus.
Com uma nova turma de aceleração já em andamento — e mais de 100 startups inscritas —, a RV quer reforçar seu papel como ponto de conexão entre inovação e indústria. Segundo o diretor da RV, a expectativa é que a terceira turma siga fortalecendo o pipeline de startups que poderão futuramente ser investidas ou contratadas.