Durante o ano passado, aqui no Startups você deve ter visto diversas matérias sobre a Oxygea, fundo de CVC e CVB bancado pela Braskem. Criado em 2023, o fundo surgiu com portentosos US$ 150 milhões previstos, focado em investir em negócios tanto dentro quanto fora do país. Entretanto, segundo fontes de mercado, o fundo atualmente está com seu futuro indefinido, inclusive com risco de ser descontinuado.
Segundo divulgou a Bloomberg Linea, o fundo está em avaliação dentro do atual processo de reestruturação da Braskem, que começou após a chegada do novo CEO Roberto Prisco Paraíso Ramos. Conforme fontes de mercado, o executivo está em uma jornada de redução de custos, querendo realocar investimentos no core business do negócio.
Quando entrou na companhia em dezembro, o novo CEO começou com medidas agressiva, como a reorganização de áreas e demissões de diretores, incluindo executivos que faziam parte do comitê que aprovavam startups para possíveis investimentos da Oxygea.
Segundo fontes de mercado, a “limpeza” pode também ter algo a ver com os planos da companhia para uma possível venda, que se arrasta há anos e se complicou com os recentes problemas que a companhia teve com o colapso de uma de suas minas em Maceió.
O sinal é de que projetos como inovação aberta podem não ser mais uma prioridade para a companhia – e no caso o projeto da Oxygea é um que custa caro. Até o momento, cerca de US$ 10 milhões dos US$ 150 milhões previstos para a Oxygea foram gastos em aportes e em programas de aceleração.
Na prática, os efeitos dessa pausa na Oxygea já foram sentidos. Startups selecionadas na segunda turma do programa Oxygea Labs, previsto para acontecer de junho a dezembro do ano passado, estão na espera dos investimentos previstos pelo programa , que era de R$ 2 milhões ao final da aceleração. As startups selecionadas foram Carrot, EloVerde, A4 Solutions, Flowls, PixForce e Trackfy.
Na primeira edição do Oxygea Labs, foram investidos R$ 4,5 milhões, que foram para a empresa de sensores para IoT Embeddo, Growpack (em que a Oxygea entrou em uma rodada com a Irani Ventures), e a LogShare, entrando em uma rodada de R$ 12 milhões que a logtech fechou no começo do ano passado.
Em conversa com o Startups, uma fonte ligada a uma das selecionadas da segunda turma do Oxygea Labs admitiu que foi pego de surpresa pela notícia do CVC. Desde o fim do ano, as empresas da turma do programa entraram em processo de due dilligence, mas até o momento as negociações não foram suspensas.
“O investimento não está na geladeira, pelo menos não nos avisaram nada do tipo. Como é começo de ano, as coisas costumam andar mais devagar, mas em teoria ainda estamos dentro do programa, em negociações para o aporte”, pontuou a fonte.
Dentro da Oxygea, o momento é de apreensão, já que o futuro do veículo está indefinido, e deve ser discutido até o fim da semana – uma reunião do conselho administrativo da Braskem está prevista para o dia 30.
Reavaliando ativos
Procurada pelo Startups, a Oxygea enviou uma nota breve sobre a situação. “Por questões de governança, esse tema ainda será deliberado pelo conselho da nossa parent company.
Ate la, preferimos não comentar.”
A Braskem divulgou uma nota, afirmando que está reavaliando seus ativos e investimentos, focando em eficiência e otimização de alocação de capital.
“Os investimentos no projeto Oxygea inserem-se nesse contexto e devem ser avaliados junto ao ecossistema de inovação. Não há, entretanto, qualquer decisão final nesse sentido”, disse em nota a petroquímica, que deve fazer uma reunião de conselho administrativo até o fim dessa semana para decidir o futuro do CVC.
Segundo apurou o Startups, a Oxygea já estava sob escrutínio do conselho da Braskem há alguns meses, e uma das ideias repercutidas internamente era a de suspender o Oxygea Labs e ficar somente com o veículo internacional de CVC, que mira startups mais maduras e com potencial de escala global.
Com US$ 100 milhões alocados, essa parte da Oxygea é uma parceria com a norte-americana Touchdown Ventures, e realizou dois investimentos: um de US$ 2 milhões na AssetWatch, empresa que desenvolve soluções de sensores e IA para monitoramento e manutenção preditiva de equipamentos em chão de fábrica, e de US$ 1 milhão na Circular.co, de soluções para marcas que buscam fornecedores de plástico reciclado.
Entretanto, em conversas com founders e outros players do ecossistema, a informação é de que a situação tem mais a ver com o choque de gestão trazido pelo novo CEO da Braskem, do que questões internas do veículo. “A princípio estava tudo bem. Em dezembro eles (Oxygea) fizeram o evento (Forward), reuniram startups e estavam se preparando para novos investimentos”, disse uma fonte ao Startups.
Agora, fica o questionamento: em um negócio estremecido, é hora de apertar o cinto e voltar tudo para o core business, ou investir em inovação é uma saída estratégica? Para a Braskem e Oxygea, a resposta ainda está em aberto.