Quando a Gympass anunciou no mês passado a mudança de nome para Wellhub, várias pessoas ficaram sem entender e algumas até foram às redes sociais questionar se o movimento do unicórnio brasileiro não representaria um “tiro no pé” de uma marca que levou anos para construir sua fama. Entretanto, para João Barbosa, cofundador da empresa, a mudança foi algo bastante pensado para refletir o momento atual da companhia.
“Não é um ‘tiro no pé’. A gente vem trabalhando nessa mudança há cerca de dois anos, sabe? Não é uma troca de nome por si só, é algo que faz muito sentido quando você olha a nossa evolução. É só a confirmação e alinhamento da proposta de marca, valores, ratificar a nossa missão de tornar o bem-estar universal”, pontua João, em entrevista exclusiva ao Startups durante o Web Summit Rio.
Segundo o executivo, o nome Gympass ainda refletia uma visão muito literal sobre o negócio, deixando em segundo plano outras facetas da startup, como funcionalidades de saúde mental (Wellz), nutrição, entre outras. “Se a gente não trabalhar esse colaborador na visão 360, a gente não vai atingir o objetivo que a gente quer”, avalia.
João acrescenta que, em seus esforços de expansão internacional, a Gympass perdia tempo explicando seus diferenciais frente a outros serviços de passe de academia com “pass” no nome. “A gente gastava os primeiros 10 minutos pra explicar o que é o Gympass. Olha, eu não sou só um passe de academia, eu também faço isso, isso e isso. Então, acho que o nome ajuda a refletir essa realidade de evolução da empresa nesses 12 anos”, afirma.
Perguntado se a marca Gympass continuará dentro do “guarda-chuva” da Wellhub, João confirmou que o nome será largado eventualmente, mas terá um tempo de transição. “Ele (Gympass) não vai existir mais. Vamos fazer essa transição de forma suave para não impactar os usuários. Primeiro será o Gympass by Wellhub, depois Wellhub by Gympass, até que a gente vai 100% para o Wellhub para garantir que tudo está alinhado dentro desta nova experiência”, explica João.
Consolidando o mercado
Agora com o nome e posicionamento ajustado, o plano da Wellhub está traçado. “Hoje o nosso foco é 100% consolidar o nosso posicionamento dos mercados resistentes. Então, nos Estados Unidos, Europa e América Latina, a gente vai fazer esse double down e garantir nossa consolidação nestes mercados”, revela João.
Questionado se estes planos de consolidação envolvem novas aquisições (como a da plataforma de saúde mental Vitalk, em 2022), João não abriu muito o jogo. “A gente sempre está olhando para todas as oportunidades do mercado, mas não tem nada para sair. Entretanto, a gente tem um olho muito ativo, uma equipe que está sempre prospectando e a nossa ideia mesmo é ter tudo relacionado a bem-estar”, afirma.
Entretanto, um dos gatilhos que a Wellhub quer explorar para crescer é via parcerias. Com o rebranding, a companhia anunciou um leque maior de opções para a jornada de bem-estar, com novas categorias de atividades físicas, mindfulness, terapia, nutrição e qualidade do sono. Alguns dos novos parceiros (dos mais de 55 mil) incluem: Apple Fitness+, FitDance, Nutrium, Utreino, SleepScore, entre outros.
“O nosso core é a experiência do usuário. Então, sempre a nossa preferência é unir forças com quem são os melhores players globais, aqueles que tem a escala, que tem a melhor experiência para nos ajudar e alavancar a entrega na ponta do usuário”, diz.
IPO vem aí?
Apesar dos desafios que um rebranding pode representar, ainda mais em uma marca reconhecida e com mais de 10 anos de mercado, no lado dos investidores a mudança foi bem recebida – pelo menos isso é o que diz João.
“Quando comunicamos isso para as empresas e investidores, eles disseram que fazia muito sentido, que agora o nome está alinhado com a realidade do que é o produto. Quando a gente vai para as academias, é um pouco diferente, e por isso teremos um período de transição”, avalia.
E então, agora com um nome condizente com o produto e uma estratégia traçada para consolidar sua presença globalmente, está aberto o caminho para o tão esperado IPO? Bem, segundo o confudador da Wellhub, essa é uma ideia que já flutua na empresa há um tempo, mas que não é uma prioridade no momento.
“A gente está crescendo 40%, 50% ao ano, num ritmo muito legal, com caixa já sustentável, então no momento o IPO não é uma necessidade”, destacou, sem entrar em detalhes sobre os números do negócio.
Contudo, vale lembrar que no ano passado a companhia buscou mais fundos no mercado privado, captando US$ 85 milhões com a EQT Growth, e aumentando seu valuation para US$ 2,4 bilhões.
Ainda falando do IPO, ele diz que a empresa já fez seu trabalho de governança interna, já operando como uma empresa aberta em termos de compliance – claramente um movimento de empresa que já quer se preparar para uma possível oferta pública no futuro.
“É uma possibilidade, é algo a ser avaliado no futuro de acordo com condições de mercado, necessidade de capital para poder continuar investindo e dar um passo mais longo aqui em algumas iniciativas”, finaliza.
E a Vittude?
Em uma nota não muito relacionada ao negócio da Wellhub, no dia em que a ex-Gympass anunciou sua nova marca e identidade visual, alguns posts em redes sociais chamaram a atenção para algo curioso: a nova marca da startup ficou bastante similar à da healthtech brasileira Vittude, tanto no logo quanto nas cores.
Perguntado sobre a similaridade, João admitiu ter visto os comentários na web, mas garantiu que tudo não passou de uma coincidência, e que a nova identidade foi um trabalho bastante pensado antes de ser lançado.
“Quando você pensa em similaridades, para mim é muito importante você pensar no contexto. Nosso contexto é o flywheel, a roda de todos os pilares do bem-estar. Tem uma razão de ser, então a gente não está preocupado com isso”, finaliza.