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De volta ao presencial, festival João Rock evolui trabalho com startups

O festival paulista leva sua atuação junto ao ecossistema para um novo patamar com o centro de inovação Dabi

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O festival de música João Rock está evoluindo sua abordagem junto ao ecossistema de startups. O tradicional evento prepara seu retorno depois de uma pausa de dois anos devido à pandemia, e quer avançar sua estratégia de inovação em áreas em parceria com startups em áreas como experiências no metaverso para fãs do festival e geração de receita com NFTs.

Prestes a completar duas décadas de história, o festival de rock nacional em Ribeirão Preto (SP) volta a ser presencial no mês que vem, com uma programação que inclui atrações como Emicida, Titãs, Natiruts e CPM 22. Os 70 mil ingressos para o evento estão esgotados desde abril. O retorno segue um período em que o festival enfrentou desafios como fazer reembolsos após sucessivos adiamentos em meio a crise, e uma busca por manter a conexão com fãs, com iniciativas como lives com nomes do rock brasileiro.

As mudanças ocasionadas pela Covid-19 no mundo do entretenimento e o aumento da relevância da inovação tecnológica como forma de gerar novas fontes de receita no setor de eventos fizeram com que a BP One, empresa de live marketing responsável pelo festival, buscasse evoluir os trabalhos nesta frente. A empresa então se tornou uma das patrocinadoras do Dabi Business Park, novo centro de inovação independente de Ribeirão Preto, para desenvolver projetos junto a startups com o objetivo de transformar a experiência do público e nos bastidores.

“O festival foi evoluindo muito junto com a própria tecnologia relacionada aos eventos. A inovação e o envolvimento com startups tem sido muito relevante para nós nos últimos anos”, diz Leonardo Castro dos Reis, gerente de planejamento comercial e projetos do João Rock, em entrevista ao Startups.

“Como empresa do setor de eventos, fomos muito impactados pela pandemia, e nesse período em que ficamos [sem poder realizar o festival presencial], nos questionamos muito, conversamos muito com outros empreendedores e produtores. Neste processo, ficou claro que precisaremos entender como a tecnologia poderia ajudar a nos aproximar ainda mais do público, e a responder aos desafios que vão surgir na retomada”, acrescenta.

Unindo forças

Ao longo da última década, o João Rock tem trabalhado com startups para otimizar diversas frentes da organização do festival. Por exemplo, em 2017 o evento se tornou cashless, com a introdução de uma pulseira com tecnologia RFID desenvolvida pela Zig Pay. Além de melhorar a experiência do cliente ao eliminar a necessidade de levar cartão ou dinheiro, os dados gerados pelo uso da pulseira trouxeram uma série de insights que alimentam a robusta base de dados do CRM da organização.

“Esse projeto trouxe a oportunidade do festival conhecer melhor seu público, trabalhar essa inteligência de dados que ajuda muito, não só do ponto de vista de logística, mas também a entender o comportamento do nosso público. Para se ter uma ideia, a gente consegue até entender qual tipo de público está mais propenso a assistir a determinada atração, porque sabemos que ele estava consumindo no bar próximo do horário de determinado show”, diz Leonardo, acrescentando que a inovação em meios de pagamento se tornou uma referência em termos do valor que startups podem gerar para o festival.

Com a intenção de avançar nessa frente, a BP One, que também atende o Dabi Business Park, propôs a que o festival fizesse parte do grupo de empresas madrinhas da aceleração desenvolvida pelo centro de inovação. O Dabi acaba de iniciar operações depois de um retrofit de um parque industrial anteriormente ocupado pela Dabi Atlante, tradicional fabricante de equipamentos odontológicos de Ribeirão Preto. Segundo Ricardo Agostinho, gestor do novo centro, a parceria com o João Rock fez sentido, dado o público do festival, que cuja faixa etária predominante está entre 20 e 29 anos.

“Quando a gente pensa [na audiência do João Rock] é um público que está falando muito sobre startups, que está construindo muita coisa bacana, é nativo digital e tem uma abertura muito grande para a inovação. Também é um público também que nos interessa muito em termos de desenvolvimento de competências que o mercado de trabalho está exigindo agora, em função de transformação digital e do surgimento de negócios digitais”, diz o executivo.

Novas fontes de receita

O programa do Dabi está com inscrições abertas e buscará solucionar desafios em diversas áreas, que podem ter sinergias entre si, ou seja, propostas desenvolvidas pelas startups poderão ser úteis para mais de uma das grandes empresas participantes do projeto. Além do festival sua produtora, patrocinadoras do Start Me Up incluem a cooperativa de crédito Sicoob, a incubadora e aceleradora de startups do agro T4 Agro e a Startse.

No que diz respeito especificamente ao João Rock e a sua empresa-mãe, Leonardo diz que a aceleração trará a oportunidade de discutir e ouvir as ideias de startups sobre os desafios do mundo do entretenimento. As propostas poderão gerar provas de conceito a serem conduzidas em três pilares, sendo que o primeiro se refere a tecnologias para publicidade e shows.

“Queremos entender novas tecnologias e ferramentas que proponham uma experiência híbrida, para que possamos trazer novas interações com o consumidor, impactar o público no evento, mas também ampliar estas tecnologias. Neste ponto, estamos falando de realidade aumentada, realidade virtual e o próprio metaverso,” aponta o gestor do festival.

Um segundo pilar que o festival de rock tem interesse em interagir com startups tem a ver com inovações na cadeia da música e como empresas usam tecnologia para aproximar a oferta da demanda. “A tecnologia permite a produção de um álbum inteiro praticamente usando instrumentos digitais, então os meios de produção são muito mais baratos. Ao mesmo tempo, os meios de consumo de música são muito mais baixos. Neste contexto, nosso interesse é saber quais plataformas estão dando visibilidade para esses artistas, recomendando os artistas corretos para um determinado público, além de ferramentas de curadoria que contém músicos a marcas”, explica Leonardo.

Outra frente de atuação para o João Rock e a BP One no âmbito da aceleração é relacionada a novas possibilidades em termos do uso da tecnologia para propriedade intelectual. “Como criar novos ativos a partir da tecnologia de NFTs para poder engajar nosso público cada vez mais e criar novas experiências é algo que nos interessa bastante. Existem muitas oportunidades nessa frente e dúvidas também: mas faz parte do amadurecimento do mercado tentar estas novas fontes de receita”, diz Leonardo, acrescentando que há um projeto em andamento para disponibilizar os primeiros ativos digitais do João Rock, além de iniciativas como clubes de benefícios para certas segmentações do público, como os superfãs do festival.

“Esperamos que em cada uma dessas três frentes a gente consiga trazer pelo menos uma startup para construir projetos em muitas mãos. A gente já discutia isso no dia a dia, e o projeto do Dabi traz a chance de discutir isso de forma mais ampla e aberta junto com outras empresas”, pontua.

Para o centro de inovação que vai orquestrar o trabalho com startups para o grupo de empresas que inclui o João Rock, o projeto é uma oportunidade de contribuir para a ampliação do grau de maturidade dos atores do ecossistema, e apoiar a inovação corporativa em um cenário de instabilidade. “Em um período extremamente conturbado, com alta de juros e recessão, queremos proporcionar um ambiente em que startups possam encontrar empresas em busca de soluções e gerar negócios”, diz Ricardo, do Dabi.

“Por outro lado, empresas não tratam mais inovação somente dentro de casa e buscam o ecossistema cada vez mais para acelerar sua capacidade de criar coisas novas. Nosso objetivo é conectar estes pontos,” conclui.