Pouco menos de um ano depois de levantar uma rodada pre-seed com a Honey Island (dos fundadores da EBANX) e com a Reserva, o site de compra e venda de roupas usadas TROC está em busca de um novo investidor. E o momento não poderia ser melhor.
No começo de setembro, caiu no colo da TROC o IPO do Enjoei, o principal nome da categoria no Brasil, o que fez o interesse pela companhia e seu modelo de negócios crescer. “Temos sido muito procurados. O assédio está enorme. É o momento para fazer uma captação”, diz Luanna Toniolo, fundadora e presidente do site. Ela não abre o quanto a companhia pretende captar.
Pela faixa de preço e quantidade de ações oferecidas, o Enjoei pode levantar entre R$ 1 bilhão e R$ 1,8 bilhão em sua listagem na bolsa.
Parecidos, mas diferentes
TROC e Enjoei têm modelos de atuação bastante distintos. Enquanto a companhia investida da Monashees funciona mais no formato OLX, onde pessoas anunciam e vendem seus produtos com contato entre elas, a TROC tem uma proposta mais ativa.
Os itens cadastrados na plataforma são enviados para o armazem em Curitiba, cidade-natal da companhia e passam por um processo de avaliação que leva em conta uma lista de marcas aceitas e o estado de conservação. Na capital paranaense, em São Paulo e em Belo Horizonte há um serviço de coleta em domicílio dos itens.
Se for aprovada, a peça é colocada à venda no modelo de consignação. Se a resposta for não, ela pode ser enviada de volta à vendedora (sim, a maior parte do público é feminino), com os custos pagos por ela – ou podem ser doados e repassados a outros brechós, dentro da proposta de fomentar o ecossistema. “O preconceito com os itens de segunda mão é uma cultura que precisa mudar no Brasil”, diz. A estimativa é que em 2029 os itens de segunda mão vão representar até 17% do guarda-roupa das pessoas, seguindo a tendência de crescimento do conceito de economia circular.
De acordo com ela, o processo de análise dos itens recebidos é feito de forma bastante automatizado para reduzir os custos. “Todo processamento é escalável”, diz.
Desde sua criação, em 2016 a TROC processou 250 mil peças. Hoje ela tem 45 mil itens em estoque e uma fila de 1,5 mil pessoas querendo vender produtos. Durante a pandemia, a demanda cresceu na faixa de 50% e a equipe da empresa chegou a dobrar de tamanho.
Os itens são enviados às compradoras em uma caixa com papel de seda para dar uma experiência premium.
O take rate da TROC varia em quatro faixas de acordo com o valor da peça vendida – começando em 60% para itens até R$ 150 e caindo para 30% nos produtos acima de R$ 3 mil. “O Enjoei não tem como ter uma comissão muito alta porque o modelo não permite”, alfineta Luanna.
As principais referências da TROC são as americanas Thredup e a The RealReal. Esta última estreou na bolsa em meados do ano passado captando US$ 300 milhões com um valuation de US$ 2,2 bilhões. Atualmente a companhia vale US$ 1,36 bilhão.
De olho no B2B
Um passo que a TROC está dando no momento é oferecer seua tecnologia e processos para outras marcas. A ideia é que elas ofereçam aos consumidores a opção de colocar peças usadas como forma de pagamento na hora de comprar itens novos.
O modelo de revenda como serviço (ou RAAS) foi adotado inicialmente pela Reserva na sua marca para crianças, a Reserva Mini e está sendo negociado com outras redes. “É uma forma de ter uma receita extra, se posicionar junto ao público jovem, que pede esse tipo de postura”, diz.
Segundo ela, o serviço foi pensado inicialmente para lojas físicas, com lançamento previsto para maio, mas foi repensado por conta da pandemia. Luanna também conta que o nome da Reserva como investidor na rodada do fim de 2019 não havia sido divulgado antes porque a ideia era colocar o primeiro produto feito a partir do acordo em operação.
“Nós vemos a TROC RAAS como a solução perfeita para o varejo de moda brasileira se tornar sustentável. Nós esperamos que grandes grupos também comprem essa ideia e façam parte desse movimento onde todo mundo ganha. O varejista aumenta o fluxo de vendas, o consumidor ganha desconto para novas peças e resolve o problema das roupas que não usa mais, e o mais importante: o meio ambiente ganha quando as peças aumentam seu tempo de vida útil”, disse Rony Meisler, fundador e presidente da Reserva, ao Startups, por e-mail.
O investimento na TROC foi o segundo feito pela companhia em uma startup. O primeiro foi na Touts, que deu origem ao Reserva Ink, a plataforma de customização de camisetas da marca.
Segundo Meisler, a ideia não é virar um fundo, ou ter um orçamento dedicado à compra de participações em empresas. “Eu costumo dizer que na verdade o que tem corrido são encontros entre boas pessoas. O investimento estratégico na TROC ocorreu porque nós queremos estar ao lado de negócios que proporcionam a mudança”, disse.