Para o brasileiro, ter dinheiro no exterior sempre pareceu ser algo ilegal, relacionado a atividades ilícitas, ou algo restrito aos muito ricos, inacessível a reles assalariados.
Mas com a queda dos juros e a busca por investimentos alternativos, o tema tem ganhado espaço nas ofertas de bancos e corretoras – diz aí se já não te ofereceram um COE de empresas de tecnologia – e em breve, ter ativos no exterior pode ser tornar algo natural.
“Chegamos a um nível de maturidade que coloca o assunto na mesa. Já ecoa na sociedade. E não é uma coisa brasileira, é mundial. O mundo vai se conectar mais”, diz Roberto Lee, fundador e presidente da Avenue Securities. Para ele, isso vai acontecer no mundo dos investimentos e também em todos os aspectos da vida financeira das pessoas. E é nesse sentido que a Avenue caminha: oferecer mais produtos de investimento e a possibilidade de uma vida financeira internacional aos brasileiros. “Montamos uma infraestrutura de negócios robusta e isso abre espaço para entrar em mais e mais negócios”, diz Lee.
A oferta de serviços de banco, com cartão e conta corrente ainda não tem data para acontecer, mas tampouco está tão distante. A Avenue está com o caixa reforçado por uma rodada de R$ 35 milhões que acaba de ser feita com atuais investidores – que elevou seu valuation para R$ 500 milhões – e aguarda a liberação de duas aquisições no Brasil: da corretora de câmbio Bexs e da corretora de valores Coin. Essa aquisição, aliás, permitirá que a Avenue opere na compra e venda de ativos no mercado local (Oi, XP!).
Com a perna brasileira da operação resolvida, nos EUA, a companhia pretende se associar a algum banco, seguindo o modelo da Neon Pagamentos com o banco Votorantim ou da Chime com o Stride Bank.
A avaliação de Lee é que em um prazo de dois anos bancos e corretoras brasileiros também oferecerão opções para investimento direto no exterior. “Comprar ativos diretamente é sempre melhor”, diz ao comentar sobre a estratégia de criação de fundos que investem em ativos fora e também a mudança nas regras para a compra de BDRs feita pela CVM.
Atualmente a Avenue tem 175 mil contas, com pouco mais de US$ 450 milhões em recursos sob custódia. Segundo Lee, o número de novas contas abertas tem ficado na faixa de 800 por dia, com pico de até 1,5 mil. A aceleração aconteceu por conta da alta brusca do dólar em meio à pandemia, que fez muita gente buscar proteção em investimentos em dólar.
Sobre a chegada ao Brasil de concorrentes como a australiana Stake, Lee diz que é preciso tomar cuidado com o formato de operação das companhias para evitar que a categoria fique mal vista por conta de eventuais problemas. “Trata-se de construir uma categoria nova e essa evolução tem que ser feita de forma saudável”, diz.