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Depois do aporte, CAF atrai ex-Mastercard e planeja expansão global

Após levantar R$ 80 milhões, a Combate à Fraude agora quer avançar para a Europa e os Estados Unidos

Foto: Tumisu/Pixabay
Foto: Tumisu/Pixabay

No interior do Rio Grande do Sul, em uma cidade com cerca de 72 mil habitantes, a Combate à Fraude – agora conhecida como CAF – tem sonhos grandes. Fundada em Venâncio Aires, a famosa capital nacional do chimarrão, a startup de identidade digital está direcionando seus esforços para impulsionar o crescimento no Brasil e em todo o mundo.

O negócio foi criado em 2019 por Leonardo Rebitte e oferece um sistema de validação de identidade e onboarding digital. A tecnologia verifica a autenticidade de documentos e usa reconhecimento facial para garantir a legitimidade das pessoas. A proposta atraiu grandes bancos, fintechs e varejistas brasileiros como Magalu, iFood, Cora, Asaas, Mutual e N26.

Depois de se consolidar no Brasil, agora a startup quer conquistar outros cantos do mundo. O plano é chegar nos Estados Unidos e em alguns países da Europa entre o fim do ano e início de 2023. Para isso, a companhia contratou o norte-americano Jason Howard como seu novo diretor de receitas. Ele vai supervisionar todos os aspectos do go-to-market global e de vendas da empresa, além de orientá-la no aprimoramento da integração digital de clientes e em eficiência de back office (setores e funções administrativas que estão por trás do funcionamento de uma companhia).

O executivo passou os últimos 9 anos na liderança da Ethoca, empresa de combate a fraudes digitais adquirida pela Mastercard, e pretende trazer toda a sua experiência para ajudar a IDTech brasileira. “Eu aprendi muito na Ethoca, principalmente sobre a importância do relacionamento com o cliente”, diz Jason em entrevista exclusiva ao Startups. Antes da aquisição, a Ethoca já atuava em 40 países, apoiando cerca de 5.000 comerciantes e 4.000 instituições financeiras.

“Se você conseguir realmente entender as necessidades deles e fazer a tecnologia funcionar para isso, terá sucesso”, afirma o executivo. Segundo Jason, a CAF tem feito isso bem, mas ainda pode fazer mais – e ele espera poder ajudá-la com isso. “É tudo sobre crescer, escalar e olhar para o cliente. A oportunidade é continuar a construir o sucesso que temos no Brasil e expandir no país e fora dele.”

A expansão global é apoiada por um aporte de R$ 80 milhões anunciado no último mês. A rodada série A foi liderada pelos canadenses Darryl Green, André Edelbrock e Trevor Clarke, que cofundaram a Ethoca em 2005. Pelo aporte e a expertise dos executivos, o fundador da CAF convidou Darryl para assumir a presidência da idtech (e, indiretamente, abriu mais portas para a contratação de Jason).

Jason Howard, diretor de receitas da CAF
Jason Howard, diretor de receitas da CAF
Foto: Divulgação

De Venâncio para o mundo

O principal mercado da CAF, segundo Jason, ainda é o Brasil. Por aqui, a companhia diz em seu site ter realizado mais de 26 milhões transações e evitado R$ 877 milhões em perdas com fraudes desde sua fundação. A empresa cresceu 10 vezes em receita e 5 vezes em número de funcionários em 2021. Em meio à onda de demissões, a IDTech quer contratar 100 pessoas até o fim do ano, chegando a mais de 350 colaboradores. Capitalizada com o recente aporte, o objetivo é contratar talentos globais, para apoiar a expansão.

“Vamos focar no nosso mercado principal, que é o Brasil, e continuar trazendo tecnologia para a região. Mas também vamos começar nossa jornada em outros lugares”, afirma Jason. A internacionalização da CAF será oficializada agora, mas a startup já tem alguns pezinhos fora do Brasil há um tempo. Além de Venâncio Aires, a companhia tem escritórios em São Paulo, Rio de Janeiro, Londres, Toronto e Austin, nos Estados Unidos.

Jason vive na capital do estado do Texas, mas a partir de agora vai fazer bate-voltas frequentes ao Brasil. Para o executivo deixar o país de origem com tanta frequência, a proposta do negócio realmente tem que valer a pena, já que em casa ele deixa a esposa e cinco filhos, incluindo um pequeno de 2 meses.

“Planejo continuar vivendo nos EUA, mas estou no Brasil com frequência”, diz o executivo, que já tem passagem comprada para passar 2 semanas por aqui em agosto. Ele diz que a primeira coisa que lhe chamou atenção na CAF foi o time. “Eles são apaixonados, motivados e focados no cliente. Foi muito emocionante ver todo esse entusiasmo”, conta.

Disputando espaço

Segundo Jason, é a paixão pelo negócio que destaca a startup de gigantes como a unico, startup líder no setor de identidade digital no Brasil. Ele também argumenta que a CAF tem uma “tecnologia muito boa e flexível”, o que aumenta o nível de customização para os clientes.

A unico entrou para o time dos unicórnios há 1 ano, depois de levantar R$ 625 milhões dos fundos SoftBank Latin America Fund e General Atlantic. No início de 2022, a companhia recebeu mais um cheque de US$ 100 milhões do Goldman Sachs para acelerar os negócios.

Fora do Brasil, a CAF disputa com nomes como OCR Labs (Reino Unido), que ajuda empresas a verificar a identidade de seus usuários com reconhecimento facial e levantou US$ 30 milhões em fevereiro, Vida (Indonésia), Socure (Estados Unidos), avaliada em US$ 4,5 bilhões, e Incode (México), que vale US$ 1,25 bilhão.

No cenário global, Jason enxerga oportunidades para a CAF como empresa brasileira. “Uma das coisas que comecei a apreciar no Brasil é o quão inovador e avançado o país é, especialmente quando se refere a todos os tipos de serviços financeiros, produtos e soluções”, pontua. “O país tem a vantagem de estar crescendo e se tornando um líder na economia global. E a região está aberta para desenvolver melhores práticas e novas ideias para tornar as coisas eficientes e, obviamente, para lidar com os desafios que existem no exterior”, conclui o executivo.