Criada com a proposta de mostrar aos brasileiros que investimento não é “coisa de rico”, a Grão vai entrar também no mundo das contas digitais. A proposta de ir além do “porquinho virtual” é tornar o ato de guardar dinheiro mais automático. “O foco continua sendo ajudar as pessoas a investir. A conta vem para facilitar isso”, diz Monica Sacarelli, fundadora da fintech.
Hoje, os aportes na Grão podem ser feitos por meio de transferência de outras contas e por boleto, o que cria entraves em termos de esforço dos usuários e também de valores a serem guardados. Com a conta própria, o usuário poderá aplicar qualquer valor e usar opções como o arredondamento ao pagar uma conta, diz Monica.
A Grão oferece como opção de investimento em uma LFT que paga 89% do CDI com aportes a partir de R$ 1.
Outro aspecto é facilitar o uso dos recursos guardados. Com muitos clientes desbancarizados, ou que têm conta, mas acabam não usando muito, a Grão tem que fazer um esforço para ensiná-los a usar o que já têm ou abrir uma conta nova. Com o cartão Visa que será oferecido com a conta e as funções de pagamento de contas e recarga de celular que foram incluídas recentemente no aplicativo, isso fica mais fácil. A conta está em fase de testes e estará disponível a partir de setembro.
Para criar a conta, a Grão não está se tornando um banco. A estrutura para a operação está sendo contratada da Conductor. O pagamento e a recarga são da Celcoin.
Prioridades
O lançamento estava nos planos da Grão inicialmente para julho, mas sofreu um atraso por uma mudança nas prioridades em meio à pandemia. Com o cenário econômico fragilizado pelas medidas de isolamento social, a decisão foi priorizar o lançamento da função de pagamento de contas com o saldo no aplicativo. “Temos muitos clientes que são autônomos e a renda caiu, ele começou a consumir a reserva que tinha”, diz.
Os saques, no entanto, não aconteceram na velocidade acelerada que se imaginou nos piores cenários traçados a partir da primeira quinzena de março. A captação de recursos até aumentou no segundo trimestre: 44%. É um ritmo bem mais lento do que a companhia vinha experimentando – no primeiro trimestre o avanço foi de 201% – que mostra que a estratégia usada em meio ao cenário desfavorável funcionou.
Segundo Monica os esforços de aquisição de clientes foram reduzidos e o foco passou a ser o engajamento da base de usuários, intensificando os conteúdos apresentados aos usuários. De acordo com ela, houve um crescimento muito rápido nas regiões Norte e Nordeste, que tiveram uma queda na atividade menos brusca e com retomada mais rápida do que em São Paulo.
Atualmente a Grão tem 30 mil usuários ativos. O número é o triplo do registrado em janeiro, quando anunciou uma rodada de investimento liderada pela Astella, que contou com a participação da Vox Capital e da Domo Invest. O valor do aporte não foi revelado.
O pior já passou?
Na avaliação de Monica o pior ainda não passou porque ainda há um desemprego represado que pode se concretizar no segundo semestre com o fim de estímulos do governo como a MP 936 e o auxílio emergencial. Por conta desse cenário, a companhia pretende continuar segurando o caixa para navegar com um pouco mais de tranquilidade em 2021.
Em paralelo a Grão está trabalhando para aumentar a sua base por meio de em acordos com construtoras e instituições financeiras para atender pessoas que tiveram um financiamento imobiliário negado (que representam cerca de 70% do total de pedidos). A ideia é ajudar essas pessoas a melhorar o seu perfil de crédito, economizando o suficiente pelo menos para a entrada e criando o hábito de separar dinheiro para um compromisso (o que pode ajudá-lo a não se tornar inadimplente no futuro).