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"Desleais são as incumbentes", diz executivo da Swile sobre processo das gigantes de benefícios

Após ser processada por grandes do setor de benefícios, startup resolve provocar com campanha bem-humorada

julio brito
Swile. Crédito: divulgação

A melhor defesa é o ataque. Não sei quem é o autor desta frase, mas pelo jeito a Swile resolveu seguir esta linha de pensamento para responder ao recente processo que as startups de benefícios tomaram da Associação Brasileira das Empresas de Benefícios ao Trabalhador (ABBT), que representa empresas como Sodexo, Alelo e Ticket – e que acusa empresas como a Swile, Caju, Flash e outras de concorrência desleal.

A ação da ABBT alega que as empresas representadas pela entidade operam benefícios por meio do Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT), e que as startups estariam atuando de forma ilegal no programa, pois utilizam o “arranjo aberto” de pagamento, trocando as bandeiras exclusivas usadas pelos players tradicionais por bandeiras mais difundidas como Visa ou Mastercard, aceitas em mais estabelecimentos.

“Desleais são as incumbentes”, dispara Júlio Brito, general manager da Swile no Brasil, em entrevista exclusiva ao Startups. Mas a cutucada de Júlio não fica apenas no discurso. A Swile resolveu levar a provocação a público, em uma campanha publicitária com tom bem-humorada.

Com o nome “Exposed”, a campanha fala sobre o que está por trás dos interesses das grandes empresas de vale tradicional, e questiona o motivo de cartões de benefícios flexíveis incomodarem tanto as companhias tradicionais. “Se inovar é motivo de incômodo, a Swile garante que continuará incomodando”, diz a empresa no comercial.

Segundo Júlio, a ideia da campanha foi pensada ao ver a reação do público ao processo movido pelas grandes do setor. “A campanha é uma resposta bem humorada ao absurdo da situação, e o público percebeu que, em vez de também inovar, nossos concorrentes resolveram ir para a justiça. É um ato de desespero, pois viram que estão ficando para trás e não vão sobrevier nessa onda de ganhar muito dinheiro e manter milhões de clientes”, alfineta Júlio, ele mesmo um veterano do setor de benefícios – foi diretor da Alelo por sete anos, antes de ir para a Swile.

Júlio Brito, general manager Brasil da Swile (Crédito: divulgação)
Júlio Brito, general manager Brasil da Swile (Crédito: divulgação)

Tanto a Swile quanto outras empresas do setor entraram com recurso contra a ação da ABBT, mas segundo Júlio, todas as empresas estão atuando dentro da legislação. “O mercado de benefícios no Brasil conta com apenas quatro empresas tradicionais, que detêm cerca de 85% dos cartões. Chega a ser absurdo falarem em concorrência desleal”, afirma Julio.

De acordo com o executivo, a manobra das grandes do setor se assemelha ao que Uber recebeu uma década atrás quando entrou no mercado, virando alvo de associações de taxistas e até mesmo de prefeituras. Entretanto, para Júlio, as incumbentes deveriam se espelhar na reação dos grandes bancos a fintechs como o Nubank. “Eles se mexeram para competir na mesma arena, que é a tecnológica e de experiência, e não entrar com ação na justiça contra quem tem uma pequena participação nesse mercado”, pondera. A exceção talvez tenha sido o GuiaBolso, que sofreu uma ação do Bradesco. A fintech acabou ganhando o processo, mas já era tarde e o momento deles tinha passado.

Concorrência desleal?

Perguntado sobre como as incumbentes são desleais na concorrência com as startups de benefícios, Júlio faz menção a uma recente mudança no PAT, que veta o chamado rebate, uma prática utilizada pelas empresas fornecedoras de cartões de benefícios tradicionais, que concediam descontos às empresas na hora de fechar contratos.

Contudo, segundo revela o general manager, a prática não deixou de acontecer, mas as grandes empresas estão encontrando formas criativas de driblar a proibição. “Eles estão burlando a lei. Eles estão pagando festinha de final de ano, eles estão hoje pagando plano de saúde para os RHs”, afirma Júlio.

“Eles estão totalmente acomodados no dinheiro que eles ganham hoje cobrando taxas exorbitantes de estabelecimentos comerciais, não só de administração como de antecipação, e repassando um pouco disso de forma disfarçada para os RHs, então quem tá fazendo as coisas de forma ilegal, não somos nós”, continua.

A reportagem do Startups procurou a ABBT na última segunda (11) para responder aos comentários do executivo da Swile e aguardou um posicionamento até a publicação desta matéria, mas não obteve resposta.

Para o general manager da Swile, em vez de apelar na justiça ou tentar maneiras alternativas de dar vantagens financeiras aos clientes, as incumbentes poderiam se inspirar no mercado francês, onde grandes como Edenred e Sodexo tiveram que acelerar seu ritmo de inovação frente ao crescimento da startup, que abocanhou sozinha um share de 13% em quatro anos de atuação. Porém, para Júlio, as incumbentes brasileiras sentiram que “a água bateu na bunda”.

“É reação em função da impossibilidade deles inovarem na na agilidade que a gente inova”, pondera. Aliás, segundo ele, a ação acabou mais ajudando do que atrapalhando. “Isso não afetou o nosso negócio em nada. Pelo contrário, trouxe uma discussão salutar e positiva para empresas como a nossa”, finaliza.

Entenda a treta

No começo de fevereiro, o juiz Andre Salomon Tudisco, da 1ª Vara Empresarial e Conflitos de Arbitragem de São Paulo condenou as startups ao pagamento de indenização por danos materiais. Segundo ele, o arranjo aberto passou a ser permitido no PAT a partir de 1º de maio de 2023. Dessa forma, as empresas que ofereceram cartões de benefício nessa modalidade até essa data praticaram concorrência desleal, segundo o magistrado.

“Os prejuízos sofridos pelas associadas da requerente são incontestáveis, pois aqueles que contrataram as requeridas para utilização de cartões alimentação/refeição, por meio de arranjo de pagamento aberto, sob o regime do PAT, seriam prováveis clientes, pois, para obtenção do benefício tributário, somente poderiam contratar aquelas que atuavam por meio de arranjo de pagamento fechado”, disse o juiz na sentença.

Na ocasião, as startups iFood BenefíciosCajuSwile e Flash informaram que vão recorrer da decisão, alegando que já estavam inscritas e operando dentro das regras do PAT antes da mudança no ano passado.

“Caso o beneficiário tente utilizá-lo para uma finalidade diferente da categoria contratada, ele é automaticamente bloqueado. Por fim, a empresa reitera que todos os contratos vigentes seguem operando normalmente, portanto, nada muda para os trabalhadores que utilizam cartão“, afirmou a Swile.