A Creditas pretende avançar em suas iniciativas voltadas à promoção da diversidade e inclusão em seu ambiente de trabalho em 2022, com áreas de foco incluindo a contratação de mulheres negras de pele retinta e pessoas com deficiência (PCDs).
Em entrevista ao Startups, a fintech abriu com exclusividade as metas para 2022 e seus indicadores relativos a raça e gênero, considerando todas as admissões e o quadro de 4 mil funcionários da Creditas, Minuto Seguros e Volanty, adquiridas pelo unicórnio em 2021.
Pessoas negras (pretas e pardas) representam 36% do efetivo da empresa e 30,9% das funções de tecnologia de produto. Em 2021, estes profissionais representaram 34% das contratações da startup.
Atrair e manter uma força de trabalho mais diversa tem sido uma área que tem recebido cada vez mais atenção na Creditas, dada a predominância de homens brancos cisgêneros na empresa, especialmente em funções de tecnologia. A startup tem buscado endereçar o tema através de parcerias como a {reprograma}, organização que treina mulheres em situações de vulnerabilidade para o mercado de tecnologia, incluindo mulheres trans.
Segundo Karen Sandhof, vice presidente de pessoas, performance e operações na Creditas, o momento atual é de sofisticação da estratégia: “Começamos a olhar certos recortes para aprofundar nossas ações. Estamos priorizando iniciativas, olhando muito para a diversidade de gênero e também de raça, junto com PCDs,” ressalta a executiva, acrescentando que este ano, a startup deve contratar cerca de 1.500 pessoas, e a meta é que pelo menos 50% sejam negras.
“Dentro deste percentual, seremos intencionais quanto à contratação de pessoas pretas retintas, em particular mulheres, que tem ainda menos acesso a oportunidades”, pontua a VP. “Temos um número ainda muito pequeno [deste recorte] dentro da Creditas, mas temos também uma intencionalidade muito forte em relação a trabalhar nessa dívida histórica aqui dentro”.
Apoio do topo da pirâmide da Creditas é o que não falta para evoluir a agenda de diversidade. Segundo Karen, o avanço na pauta racial é uma prioridade para Sergio Furio, fundador da empresa: “[Sergio] é um grande entusiasta [do avanço na pauta de diversidade e inclusão], fomenta isso, cobra muito de nós neste sentido e sempre questiona: ‘Por que a gente está com tanta dificuldade de ter mais de metade da nossa tripulação de pessoas negras? Por que não colocar isso como um grande desafio para 2022? O que a gente precisa fazer para chegar lá?’. Ele está sempre envolvido na discussão das nossas ações e em como podemos agir de forma intencional”, aponta.
Mudando práticas
Até o momento, a empresa tem feito avanços maiores na frente de gênero: mulheres representam 50,5% da força de trabalho, e 34% das funções de tecnologia. Em 2021, elas representaram 40% das contratações. No entanto, a meta da empresa, segundo Karen, é trazer interseccionalidade para as contratações em 2022, atraindo mulheres negras retintas e com deficiência para vagas em todos os níveis de senioridade.
Atualmente, a Creditas tem 17 pessoas em cargos de vice-presidência, das quais 40% são mulheres. Por outro lado, ainda não há pessoas negras neste grupo. Segundo Karen, há a intenção de tornar o board da companhia mais diverso; o mesmo ocorre em posições de diretoria, para as quais a startups está contratando, através de vagas afirmativas. Segundo a startup, a intenção é aumentar em 10 pontos percentuais a proporção de pessoas pretas em posições de liderança.
Segundo a VP da Creditas, a ausência de certas práticas no processo de seleção deve ajudar a empresa a ampliar o acesso aos públicos que quer atrair para a sua força de trabalho. Entre eles, está a não-priorização de candidatos oriundos de universidades renomadas, e dispensa da exigência do inglês fluente.
“Universidade de ponta não é um critério [de contratação], até porque temos investido em pessoas que nem têm formação, e em programas de entrada em tecnologia para estas pessoas, de seis a oito meses de duração”, explica Karen, em referência a parcerias com organizações como a {reprograma}. Outras organizações com as quais a fintech tem trabalhado para evoluir sua visão de diversidade incluem o hub de inovação focado em empreendedores negros BlackRocks Startups, de Maitê Lourenço e o Se Candidate Mulher!, empresa que capacita mulheres para processos seletivos, liderada por Jhenyffer Coutinho.
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Inglês não é um idioma mandatório na Creditas, diz Karen. “A nossa língua é o português, somos uma empresa brasileira e entendemos que podemos oferecer muito mais oportunidades e equidade dentro das carreiras que temos aqui dessa forma. O inglês não impõe nenhuma barreira de entrada ou privação de oportunidades para públicos subrepresentados aqui dentro”, ressalta a executiva. Karen acrescenta que a empresa, que tem escritórios no México e na Espanha, oferece a possibilidade de aulas de português, espanhol e inglês, e dá autonomia para que os times decidam em qual idioma querem se comunicar, apesar de o português ser a primeira opção.
Em relação à cultura de indicações, outro fator que pode trazer empecilhos para empresas que buscam ter equipes mais diversas, Karen diz que a startup continua aberta a recomendações de profissionais que podem ser boas contratações para a Creditas. O que muda, segundo ela, é a “auditoria” da representatividade racial das áreas, feita pelas equipes de diversidade, recrutamento, cultura e employer branding.
“Temos indicadores específicos sobre diversidade, com vários recortes. Acompanhamos as áreas e podemos dizer, por exemplo, se uma área teve muitas indicações de pessoas brancas e está embranquecendo”, diz a executiva.
Segundo Karen, a Creditas investe em ações para garantir um ambiente em que públicos sub-representados, uma vez que são contratados, queiram permanecer. “Nunca fizemos uma ação específica para esta público em termos de contratação, mas hoje mais de 20% da nossa população se autodeclara LGBT. Isso mostra que temos um ambiente que é naturalmente seguro para que essas pessoas venham, permaneçam e se autodeclarem de uma maneira bem transparente”, acrescenta.
Iniciativas nesta frente incluem o reforço da promoção de equidade em processos de reconhecimento e avaliação de performance, além da manutenção de um alto nível de satisfação e segurança psicológica de pessoas de grupos sub-representados, medido a partir de pesquisas de clima mensais.
Oportunidades de ação
Ex-executiva de operações em fintechs como a Ebanx, Karen é uma profissional de tecnologia com muitos anos de experiência no setor bancário, tendo trabalhado em empresas como a TecBan, antes de se juntar à Thoughtworks, consultoria de tecnologia onde foi COO. Familiar com ambientes machistas de trabalho, a VP da Creditas também tem ciência dos desafios inerentes a trabalhar com diversidade e inclusão, principalmente em relação aos esforços de empresas para melhorar indicadores de gênero, sem considerar raça.
“[Avançar] em gênero faz com que você tenha muito mais empatia quando a gente fala de mulheres negras, por exemplo. Se você tem uma área de diversidade liderada por um homem, dificilmente ele vai entender o que é ser uma mulher, e principalmente uma mulher negra”, diz a executiva.
“Por mais que eu não tenha vivido as mesmas coisas que uma mulher negra viveu, eu empatizo muito mais, estou muito mais próxima da realidade delas do que um homem. Disso não tenho a menor dúvida”, pontua. Karen diz que sua proximidade com movimentos liderados por mulheres negras, como o Potências Negras, de Ana Minuto, e o Movimento Black Money, de Nina Silva, contribuem para este processo.
“Estar perto destas mulheres e suas realidades faz com que a gente tenha mais conhecimento das nossas limitações e os nossos vieses. Acho que o conhecimento cria proximidade, empatia, e oportunidades de ação”, ressalta.
No início de 2023, Karen espera ter atingido a meta de contratações feitas de forma intencional e interseccional neste ano. “Tenho visto empresas tratando a questão da diversidade como moda. Quero olhar para trás em um ano e falar que o que fizemos foi certo, direito, de maneira consistente e representativa. Quero conseguir dizer, com muito orgulho, que as coisas que a gente se propôs a fazer em termos de dar oportunidades, a gente conseguiu fazer.”