Edtech

Afrofile pivota e inicia nova fase com foco em instituições de ensino

Edtech está relançando sua plataforma para facilitar o acesso à história e à cultura afro-brasileira nas escolas de todo o país

Carlos Ferreira, Viviane Morais e Dimitri Romero, fundadores da Afrofile
Carlos Ferreira, Viviane Morais e Dimitri Romero, fundadores da Afrofile | Foto: Felipe Romão (@eufeliperomao)/Divulgação

Desde 2020 facilitando o acesso à história e à cultura afro-brasileira, o Afrofile agora vive uma nova fase. Após passar pelos programas de aceleração VAI TEC, da Agência São Paulo de Desenvolvimento (ADE SAMPA), e do Ginga AfroTech Hub, idealizado pelo Sebrae for Startups em São Paulo, a edtech decidiu pivotar o modelo de negócio. Com o relançamento da plataforma, antes gratuita, a empresa agora foca em um público pagante, com ênfase em instituições de ensino públicas e privadas, além de clientes finais.

“O Afrofile nasceu do desejo de criar um banco de dados que centralizasse informações sobre a história e a cultura afro-brasileira”, explica Dimitri Romero, CTO do Afrofile, em entrevista ao Startups. “Com essa ideia em mente, passamos a estudar as necessidades do mercado para estruturar uma solução que organizasse todas as informações que sentíamos falta.”

Para desenvolver a plataforma, Dimitri e os sócios, Carlos Ferreira e Viviane Morais, realizaram uma série de pesquisas quantitativas e qualitativas. Eles conversaram com professores, ativistas do movimento negro e outros indivíduos, formando um panorama sobre como os brasileiros compreendem a educação, a política e o conhecimento da história afro-brasileira. Esse processo permitiu entender também como esses conhecimentos contribuem para fortalecer a identificação e o engajamento com a cultura afro-brasileira.

Durante o desenvolvimento do Afrofile, o mundo assistia aos profundos impactos de casos como o assassinato de George Floyd nos Estados Unidos e o de João Alberto Freitas em uma loja do Carrefour no Brasil. Esses episódios intensificaram os movimentos sociais globais, aumentaram a pressão pública e a conscientização sobre racismo, desigualdade social e a urgência de promover diversidade e inclusão.

“Naquele momento, enfrentávamos casos gravíssimos de racismo no Brasil e no mundo – algo que, infelizmente, não começou ontem e, provavelmente, ainda estará presente amanhã. Isso nos trouxe uma inquietação positiva para agir como agentes de transformação, assumindo a responsabilidade de compartilhar nossos conhecimentos e engajamento com a causa”, conta Viviane.

A plataforma

O Afrofile propõe simplificar o acesso a uma educação inclusiva, otimizando o tempo de aprendizado com o uso da tecnologia. “A partir de nossos estudos, identificamos três pontos essenciais: uma lacuna na formação dos profissionais das instituições de ensino, a dificuldade de acessar conteúdos densos em um tempo limitado e a importância da confiabilidade dos conteúdos, que precisam ser fornecidos por fontes seguras”, explica Viviane.

“Muita da expectativa de mudança na sociedade recai sobre as escolas e instituições de ensino. Por isso, desenvolvemos uma solução voltada para aqueles que lidam com a necessidade de transformação todos os dias”, acrescenta.

A plataforma é dividida em três frentes. A primeira é a Wiki, que oferece textos aprofundados e referências bibliográficas sobre a história e a memória afro-brasileira, tanto do passado quanto do presente. Essa seção é voltada para professores que buscam referências confiáveis para embasar suas aulas, além de atender pessoas interessadas em aprofundar seus conhecimentos por conta própria.

O Afrofile também possui uma vertical chamada Lugares, que destaca espaços e monumentos que celebram a cultura afro-brasileira em várias regiões do país. Além disso, há a seção Heróis, que apresenta personalidades que ampliam a visibilidade e a identidade negra no Brasil. Esses protagonistas, sejam anônimos ou famosos como Glória Maria, Conceição Evaristo e Marielle Franco, desempenham papéis fundamentais na vasta história afro-brasileira.

Modelo de negócio

“Já pesquisamos e testamos bastante o produto. Agora, é hora de iniciar uma etapa mais comercial, ir para a rua e vender a solução”, afirma Dimitri. Segundo o CTO, a edtech tem como objetivo resolver um problema específico: auxiliar os professores a adaptar seus planos de aula, tornando o conteúdo mais diverso e reduzindo o tempo de aprendizado com o uso da tecnologia.

A ideia é iniciar pelas escolas de bairro e, aos poucos, expandir para instituições de ensino maiores, como os grandes grupos educacionais. Além de oferecer conteúdos exclusivos em vídeo, texto e áudio, a nova versão do Afrofile contará com uma inteligência artificial que simplifica e reduz o tempo de elaboração de planos de aula e projetos pedagógicos. “Os professores poderão fazer perguntas à IA para obter ajuda sobre como adaptar o conteúdo para o dia a dia de suas escolas e de seus alunos. Já estamos alimentando a plataforma e, à medida que as pessoas a utilizarem, ela ficará cada vez mais apurada”, destaca Dimitri.

O Afrofile manterá seu foco central: oferecer uma curadoria de conteúdos confiáveis alinhada às necessidades institucionais, com base de dados atualizados e banco bibliográfico para referências. Os fundadores ressaltam que todos os materiais são pautados ou produzidos por especialistas em educação e diversidade — como pedagogos, historiadores, antropólogos e cientistas sociais —, e seguem a Base Nacional Comum Curricular, que define os conteúdos e habilidades essenciais para a educação básica de todos os estudantes brasileiros.

Embora a ênfase seja nas instituições de ensino públicas e privadas, clientes finais também poderão assinar a plataforma e acessar todo o conteúdo disponível.

Em paralelo à plataforma, a startup também oferece um portfólio de serviços para apoiar professores e instituições de ensino na adoção de uma educação inclusiva. “A plataforma provavelmente não será a única e exclusiva fonte dos educadores. Portanto, queremos construir uma forte comunidade no WhatsApp para a troca de informações e criar momentos de vivência nas escolas, com workshops, diagnósticos, trilhas de aprendizado e outras estratégias para colaborar com as instituições”, explica o CTO.

Viviane acrescenta que esses serviços ampliam a atuação da edtech no mercado, permitindo que a empresa vá além das instituições de ensino para atender outros tipos de empresas e organizações. “Embora nosso foco seja o mercado escolar, podemos auxiliar um público que já não está mais na escola. Nossos serviços são capazes de atender a essa demanda, levando formações e letramento para as organizações”, observa.

O Afrofile soma 90 mil visitas desde 2022, com uma média de 3 mil acessos por mês. Para o próximo ano, a expectativa é alcançar 990 assinaturas B2B na plataforma, além de 20 novos contratantes dos serviços que compõem o portfólio. No cenário B2C, a projeção é impactar 10 mil pessoas por mês em 2025, totalizando cerca de 120 mil pessoas ao longo do ano.

Até agora, os fundadores do Afrofile gerenciavam a edtech como um projeto paralelo, dividindo o tempo entre seus trabalhos principais. No entanto, com a estruturação do modelo de negócios e a entrada de clientes pagantes, eles consideram uma possível transição. “Esperamos realizar uma rodada de investimentos ou garantir sustentação financeira para nos dedicarmos 100% ao Afrofile”, afirma Dimitri. Mesmo assim, a captação será feita com cautela, buscando amadurecer a plataforma, a proposta e encontrar o parceiro ideal para impulsionar o negócio.