D&I

Blend Edu cresce no B2B e expande modelo de negócios

Fundada em 2018, startup atende mais de 100 empresas como Globo, TIM e OLX Brasil, e já impactou mais de 80 mil pessoas com suas soluções

Thalita Gelenske, CEO e fundadora da Blend Edu
Thalita Gelenske, CEO e fundadora da Blend Edu | Foto: Divulgação

Empreender não era um sonho de infância para Thalita Gelenske. Natural do Rio de Janeiro, ela começou a trilhar o seu caminho profissional no RH corporativo até que, ao trabalhar em um projeto estratégico de estruturação da pauta de diversidade na Vale, percebeu que sua real vocação era gerar impacto.

“Me apaixonei pelo tema de diversidade e inclusão (D&I). Era algo que fazia muito sentido profissionalmente, por gostar de trabalhar com impacto, e também pessoalmente, por ser uma mulher lésbica que, naquela época, não falava abertamente sobre isso no ambiente de trabalho”, conta Thalita, ao Startups. “Decidi estudar e aprofundar meu conhecimento no setor e, com o tempo, cheguei à conclusão de que não queria ser uma executiva de RH, e sim trabalhar com D&I, ajudando mais empresas a se engajar neste movimento.”

Com a inquietação para empreender, ela teve o empurrãozinho final que precisava depois de participar do Young Leaders of the Americas Initiative, programa de intercâmbio e desenvolvimento profissional criado pelo governo dos Estados Unidos para apoiar jovens líderes e empreendedores da América Latina, Caribe e Canadá.

A experiência culminou na criação da Blend Edu, especialista em inovação para a diversidade. Fundada em 2018, a startup cria projetos, treinamentos e soluções digitais para ajudar organizações a colocarem a diversidade em prática, com a missão de transformar culturas organizacionais, disseminar oportunidades para grupos sub-representados e melhorar as estratégias de D&I para seus parceiros. 

Virada de chave

Com mais de 100 empresas no portfólio, incluindo gigantes como Globo, Movile, TIM e OLX Brasil, a companhia já impactou mais de 50 mil pessoas com suas soluções corporativas. Agora, a startup entra em uma nova fase, passando a olhar também para o consumidor final – neste caso, os talentos e candidatos, com a expectativa de impulsionar o seu crescimento no próximo ano.

“Embora ter um serviço específico de recrutamento e seleção não fosse nosso foco estratégico, sabemos que as empresas têm o desafio de alcançar e contratar perfis de profissionais qualificados diversos, tanto em cargos de entrada quanto de liderança. Essa é uma demanda latente dos nossos clientes, então começamos a pensar em uma solução que ajudasse os recrutadores a encontrarem os melhores talentos e, ao mesmo tempo, ampliasse a representatividade no mercado de trabalho”, observa Thalita.

Assim nasceu a Representa SA, plataforma gratuita onde profissionais de grupos sub-representados, como mulheres, pessoas negras, indígenas, LGBTQIA+, pessoas com deficiência e acima de 50 anos se cadastrem e acessem oportunidades de emprego. Lançada há 1 ano, a plataforma já soma mais de 30 mil usuários cadastrados.

O objetivo não é ser um mero banco de currículos. Pelo contrário, Thalita enxerga a Representa SA como uma comunidade de desenvolvimento profissional. Além de ajudar os profissionais a encontrar as vagas de emprego que melhor se encaixam no seu perfil, a plataforma também oferece oportunidades exclusivas, como lives, cursos, eventos, bolsas e programas para impulsionar a carreira e desenvolver-se profissionalmente.

“São benefícios para que a pessoa acesse e se desenvolva independente se estiver buscando uma vaga ou não”, explica a CEO. O intuito é permitir que os usuários ganhem visibilidade, recebam dicas de gestão de carreira e se conectem com empresas comprometidas com diversidade e inclusão. “Até então, a Blend Edu prestava serviços para as empresas e, a partir delas, impactava os colaboradores e parceiros das organizações. Com a Representa SA, conseguimos alcançar o talento diretamente, sem a necessidade de intermédio das companhias. Esse olhar para o cliente final tem uma grande perspectiva de impacto para os próximos anos”, acrescenta.

Hora de crescer

A plataforma Representa SA tem papel importante na estratégia de expansão da startup em 2025. “É um momento de virada de chave. Hoje, mais da metade da nossa receita vem de projetos com as empresas, seja consultoria ou treinamento – que são ótimos, mas que têm início, meio e fim. À medida que implementamos novas soluções de base tecnológica, estamos migrando cada vez mais para um modelo de negócio por assinatura, que gera uma maior recorrência, previsibilidade financeira e potencial de escala.

O plano é, no ano que vem, disponibilizar a plataforma para empresas e recrutadores autônomos, a partir de uma assinatura periódica para que eles tenham acesso ao banco de talentos. “O foco é atrair empresas comprometidas em realizar processos seletivos inclusivos”, diz a CEO. “A inscrição para o talento seguirá totalmente gratuita, e vamos começar a monetizar com as empresas e os recrutadores”, pontua.

Sem abrir números específicos, Thalita revela que, caso as expectativas se concretizem, a expansão da vertical B2C pode duplicar a receita da Blend Edu no próximo ano. “A Representa SA endereça uma dor muito forte do mercado, e tem alto potencial de escala. Quem sabe ela não se torna o nosso produto principal em termos de relevância e impacto de receita?”, avalia.

Para a CEO, o maior diferencial da plataforma é reunir diferentes marcadores de diversidade em um só lugar. “Atualmente, a maioria das plataformas de diversidade são fragmentadas. Ou seja, cada uma olha e atende um público específico, sejam mulheres na tecnologia, pessoas trans, ou profissionais negros. Elas são boas e importantes, mas acabam gerando um desafio para o recrutador, que precisa acessar várias plataformas para mapear os talentos. A vantagem da Representa SA é ter tudo em um só lugar”, explica.

Ela destaca também a proposta inovadora da plataforma, oferecendo uma série de benefícios para que os talentos se desenvolvam profissionalmente, e não simplesmente a divulgação de vagas e currículos.

A Blend Edu opera no bootstrapping desde a sua fundação. Na verdade, ela até chegou a receber um aporte, ao atrair um cheque de R$ 18 – sim, apenas dezoito reais – no Shark Tank Brasil, 2022. “Foi um valor simbólico, em que buscamos muito mais os conselhos e a rede de contatos dos investidores do que o dinheiro”, diz Thalita. A startup evoluiu a parceria com Carol Paiffer, uma dos tubarões do reality de empreendedorismo, que hoje é sócia da empresa.

Thalita não está ativamente em busca de novos investidores, mas não descarta a possibilidade. “Tenho interesse em dialogar, mas é importante que sejam pessoas com foco em impacto, e que tenham os valores alinhados com a agenda de ESG de forma geral”, comenta. Ainda assim, uma rodada de investimentos não está entre as prioridades da companhia para o próximo ano. “O objetivo é fortalecer as nossas atuais soluções e, eventualmente, desenvolver outros produtos de base digital para gerar um impacto cada vez maior em diversidade e inclusão”, conclui.