Diversidade

Brasileira cria projeto para levar empreendedores negros ao Vale do Silício

Danielle Marques está criando oportunidades para empreendedores negros e periféricos com imersões no Vale do Silício focadas em aprendizados, conexões e networking

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Danielle Marques, fundadora do projeto Do Silêncio ao Silício (Foto: Divulgação)
Danielle Marques, fundadora do projeto Do Silêncio ao Silício (Foto: Divulgação)

Nascida e criada em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, Danielle Marques realizou em 2022 o sonho de conhecer o Vale do Silício. Formada em administração de empresas, ela embarcou em uma imersão no principal polo de inovação do mundo, determinada a aprofundar os conhecimentos e redirecionar sua carreira para o setor de tecnologia. A iniciativa foi viabilizada por meio de uma vaquinha online, que arrecadou os recursos necessários para que ela participasse de uma viagem com um grupo brasileiro.

“Foi uma experiência muito impactante”, afirma Danielle, em conversa com o Startups. “Tive a oportunidade de me conectar com o ecossistema e fazer amizades, além de conhecer grandes referências da região”, conta. Ao mesmo tempo, a vivência escancarou desafios estruturais relacionados à diversidade no setor de tecnologia: entre as 70 pessoas do grupo, ela era a única mulher negra. “Isso me fez refletir sobre por que pessoas como eu ainda não ocupam esses espaços e não têm as mesmas oportunidades de inclusão nesse ecossistema. Essa viagem foi uma virada de chave na minha carreira”, pontua.

De volta ao Brasil, Danielle aprofundou os estudos sobre diversidade e o cenário nacional para empreendedores negros. “Os brasileiros criam inovação o tempo todo, especialmente na periferia. No entanto, ela cria inovação para a manutenção de sua própria existência. Queria, de alguma forma, dar visibilidade para essas inovações”, explica.

A partir de suas pesquisas, ela se deparou com a disparidade no acesso a capital por parte de empreendedores negros e com a escassez de fundos de investimento voltados especificamente para esse público. Além disso, percebeu um padrão recorrente: muitos CEOs de grandes empresas e fundadores das maiores startups têm formações em universidades da Ivy League, um contraste com a realidade brasileira, onde menos de 5% da população fala inglês, segundo um estudo da British Council.

Foi a partir desse cenário que Danielle criou o projeto Do Silêncio ao Silício, uma iniciativa que oferece uma imersão gratuita no Vale do Silício para pessoas negras e de áreas periféricas, com foco em aprendizado, networking e crescimento profissional. A primeira edição do programa foi lançada em 2024 e recebeu mais de 300 candidaturas de todo o país. Após um processo seletivo criterioso, foram escolhidos 10 empreendedores para uma imersão de 12 dias intensos na Califórnia.

Durante a experiência, o grupo visitou a Universidade Stanford, os escritórios de empresas como Google e Meta e das aceleradoras Founder Institute e Plug and Play. Eles também participaram da conferência Brazil at Silicon Valley (BSV), que busca conectar os líderes brasileiros mais influentes ao ecossistema de inovação da região, e conheceram a Circuit Launch, centro de desenvolvimento de hardware eletrônico e educação em robótica.

Empreendedores visitam a Universidade de Stanford, no Vale do Silício (Foto: Divulgação)
Empreendedores visitam a Universidade de Stanford, no Vale do Silício (Foto: Divulgação)

Geração de valor

Menos de um ano depois, Danielle já observa resultados concretos na trajetória dos empreendedores que participaram da imersão no Vale do Silício. Segundo ela, a vivência cultural foi fundamental para ampliar a visão de negócio dos participantes. “Alguns decidiram pivotar suas startups, outros passaram a implementar soluções com inteligência artificial, e muitos conseguiram identificar com mais clareza os próximos passos para crescer. Eles voltaram com vontade de agir rápido e de forma estratégica para impulsionar seus negócios”, afirma.

Agora, ela se prepara para uma nova edição, que começa na próxima semana, com mais 10 empreendedores. O maior desafio, segundo Danielle, é a captação de recursos para viabilizar a experiência. Para tirar o projeto do papel, ela conta com o apoio de empresas e instituições, incluindo a própria Brazil at Silicon Valley (BSV), que contribuem financeiramente para custear as imersões. “Somos responsáveis por tudo: passagem, hospedagem, auxílio para tirar o visto, passaporte, entre outros. Eles recebem suporte completo”, destaca.

O foco desta edição é a participação na conferência, marcada para os dias 21 a 23 de abril. “Foi a experiência mais enriquecedora no ano passado, e acredito que será novamente este ano. A BSV é uma oportunidade de estar cercado por pessoas que são referência no mercado, compartilhando insights e discutindo tendências em tecnologia, e suas aplicações em diferentes setores da economia”, diz Danielle. Além do evento, os participantes também farão visitas a universidades e a grandes players do ecossistema global.

Visão de futuro

Atualmente, a imersão para os Estados Unidos é a principal iniciativa oferecida pelo Do Silêncio ao Silício. No entanto, Danielle quer entrar na área de educação dos empreendedores. “Nosso objetivo é capacitar essas pessoas para que elas estejam aptas a utilizar novas ferramentas como a inteligência artificial. Não só de quem foi ao Vale do Silício, mas também aqueles que ainda não tiveram essa oportunidade”, pontua.

Ela revela planos de lançar um podcast, uma newsletter e realizar eventos em diversas regiões do país. “O mais importante é transformar o Do Silêncio ao Silício em uma comunidade de pessoas engajadas”, explica.

A expectativa é, no futuro, expandir as imersões para outros polos de inovação, como França, Reino Unido e Canadá. “Sabemos que há muitos lugares ao redor do mundo criando coisas incríveis. Estamos avaliando qual será o melhor destino para a 3ª turma, mas, por enquanto, não temos nada definido”, conclui Danielle.